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O MANGUINHO 76 – 23 DE MARÇO DE 2023

Ser mulher em Manguinhos

Virgínia de Fátima Lourenço, moradora de Manguinhos há 30 anos.

As mulheres de Manguinhos têm a saúde prejudicada por vários motivos. Só o fato de pertencerem à classe trabalhadora já é um agravante, mas as difíceis condições de vida nesse território pioram ainda mais a situação. Saúde e bem estar envolvem diversos aspectos da vida, como acesso a lazer e alimentação de qualidade; condições de trabalho, moradia e renda dignas; e até a relação com o meio ambiente. Mas não é apenas a falta da maioria dessas coisas que impedem que as mulheres de Manguinhos tenham acesso a saúde e bem estar. A discriminação agrava ainda mais um cenário que já é desanimador. Além do trabalho, que muitas vezes já tem uma carga pesada, elas ainda tem que assumir outras atividades, como as diversas tarefas domésticas e a responsabilidade de cuidar de crianças, idosos, pessoas com deficiência, e doentes.

A voz das mulheres

Conversamos com a Virgínia de Fátima Lourenço, moradora de Manguinhos, e ela nos contou um pouco sobre as suas dificuldades:

“Oi, eu sou Virgínia de Fátima Lourenço da Silva, moradora aqui de Manguinhos há 30 anos. Então, assim… eu sou negra, entendeu? Eu quero contar um pouco da dificuldade que eu tive com meus filhos na escola, no CIEP. [Dificuldades] de ir buscar, de levar… Ida e volta para o trabalho… Volta de novo correndo! Dificuldade de arrumar pessoas pra pegar eles na escola para mim. Muitas vezes eu tinha que vir correndo do trabalho, esperando condução para mim pegar ele na escola. Nunca teve um curso também para eles aprenderem um ofício, para serem melhores na vida, para terem um aprendizado, pra ser um aprendiz melhor. Então é isso que eu estou falando, entendeu? De tudo que eu já passei. De tudo! A minha luta até hoje continua, entendeu? A minha luta de dentro de casa, eu trabalho fora também, então é isso aí!”

 Elizabete Ferreira da Silva, também deu seu depoimento:

“Meu nome é Elizabete Ferreira da Silva, sou moradora de Manguinhos, tenho 49 anos e sou nascida e criada em Manguinhos. Trabalho por conta própria em casa, porque cuido da minha mãe que tem 86 anos. Ela tem Alzheimer, é cadeirante, usa fralda e depende de mim até para comer, 100% dependente. Por isso não posso trabalhar fora e apesar de minha mãe ter mais filhos só eu cuido dela. Então, para mim ser mulher, negra e moradora de Manguinhos é dificultoso, pois nessas últimas enchentes passei muito sufoco, vi a água entrando em casa e eu quase entrei em desespero! Consegui falar com uma prima que veio com a água acima da cintura e ela que me ajudou a levantar minha mãe. Pois tenho problemas na coluna, joelhos e tornozelos. É ela quem me ajuda todos os dias a dar um banho na minha mãe. Enfim, é muito importante ter ajuda das redes de apoio, pois não posso contar com meus irmãos para nada. Agradeço pela oportunidade de estar me expressando.”

Elizabete Ferreira da Silva e sua mãe Maria Ferreira da Silva.

Direitos negados?

Quais são os direitos que estão sendo negados para estas mulheres? Estes são casos isolados ou representam a realidade de muitas mulheres em Manguinhos? O que é necessário para promover igualdade de gênero, autonomia econômica e acesso a saúde integral para as mulheres do território? Como podemos garantir a permanência das mulheres em todos os espaços sem lhes negar nenhum direito? As mulheres formam a maior parte da população brasileira e é necessário que existam políticas públicas que garantam a diminuição desta sobrecarga que recai sobre elas. Um bom exemplo seria o compartilhamento do cuidado de crianças e idosos com os serviços públicos e políticas que sejam construídas de forma a garantir o atendimento de necessidades e demandas de mulheres como a Dona Virgínia e a Dona Elizabete. Elas falam de desafios que precisam ser tratados de maneira transversal, intersetorial e participativa.

Para isso temos que ter a consciência de que a garantia dos direitos das mulheres é indispensável para a construção de uma sociedade mais democrática, em que as necessidades das mulheres sejam reconhecidas e respeitadas.

Quais políticas públicas deveriam ser implementadas para que fossem atendidas as necessidades e demandas que foram citadas nos depoimentos de Dona Virgínia e de Dona Elizabete? entre em nosso grupo de WhatsApp e venha conversar sobre isso.