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O MANGUINHO 84 – 25 DE MAIO DE 2023

O Brasil precisa do SUS

Simone Quintella e Janete Romeiro durante a Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde da Fiocruz. Foto: Franciele Campos

No dia 19 de maio, foi realizada em Manguinhos, a Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde da Fiocruz, que foi como uma etapa preparatória para a 17ª Conferência Nacional da Saúde, que vai acontecer entre 2 e 5 de julho desse ano. Esse evento nacional, que acontece a cada quatro anos, “é um dos mais importantes espaços de diálogo entre governo e sociedade para a construção das políticas públicas do Sistema Único de Saúde, o SUS.”

Antes dessa conferência livre do dia 19, dois outros encontros preparatórios foram realizados na Fiocruz. Mas foi nessa última que foram eleitas as delegadas e delegados responsáveis por apresentar e defender na etapa nacional as formulações e propostas feitas pelo coletivo dos usuários, estudantes e trabalhadores da Fiocruz.

Neste episódio selecionamos dois depoimentos dados na última sexta-feira, eles demonstram o quanto é necessário que seja construída uma política nacional de saúde das periferias e favelas. Para que essa política dê certo é fundamental que seja incluída a participação dos usuários, estudantes e trabalhadores, além da intersetorialidade, da vigilância popular e da promoção de saúde.

Um SUS para todas e todos

Para a Valdirene, que trabalha na Fiocruz Mata Atlântica e mora na Maré, apesar de seus inúmeros problemas o SUS ainda é um sistema de saúde que atende a classe trabalhadora dos territórios vulnerabilizados:

“Bom dia, meu nome é Valdirene Militão, eu sou uma mulher parda, baixinha e tô toda de preto. Eu sou trabalhadora da Fiocruz Mata Atlântica. Sou moradora da Maré. Então estou aqui também como os 140 mil moradores aqui vizinhos. E acho importante [falar] que sou usuária do SUS e sobrevivente. Eu tenho um quarto do pulmão que funciona e tenho o meu coração fora do lugar. Eu sou reconhecida pelos médicos como milagre e eu agradeço demais ao SUS, porque se eu não estivesse no Brasil com certeza sendo pobre como sou, eu já teria morrido. Então por um SUS que atenda todos, com todas as suas deficiências. (…) Eu tive muito cuidado também no SISREG, com acesso à cardiologista, com o que cuida das varizes… Apesar de toda deficiência do SUS e do SISREG eu tive acesso a tudo que eu precisei sendo moradora da Maré, usando o Américo Velloso como meu PSF. É claro que temos muito que melhorar, mas nós estamos muito, muito além de muitos lugares que o pobre morre. Temos o exemplos do Covid-19 . Então eu sou uma sobrevivente, eu agradeço demais por morar no Brasil, de ter o SUS, de ter a Fiocruz como referência, e acima de tudo de ser trabalhadora, mesmo sendo precarizada. Mesmo sendo bolsista, mesmo tendo um salário baixo, mas mesmo assim eu trabalho com o que eu acredito, eu amo a Fiocruz, eu acredito naquilo que eu trabalho. Eu trabalho com soberania, segurança alimentar e nutricional, dentro do campus Fiocruz da Mata Atlântica.”

A Simone Quintella, que é líder comunitária de Manguinhos e que é também trabalhadora da Fiocruz, ressalta que uma política nacional de saúde voltada às comunidades e favelas deve vir acompanhada de um monitoramento constante:

“Bom dia, a todos e todas, eu sou Simone Quintella. Sou uma mulher negra, estou vestindo uma calça jeans, com tênis preto e com uma blusa cinza, e um casaquinho vermelho meio vinho. Também estou usando um simbolozinho da Fiocruz que é o nosso castelo, que é o orgulho de ser. Eu sou conselheira de saúde eleita, do CGI, do Conselho Gestor Intersetorial de Saúde de Manguinhos. Sou moradora de Manguinhos, faço parte do Conselho Comunitário de Manguinhos. Como conselheira eu sou do segmento de lideranças comunitárias. Sou trabalhadora da Fiocruz também há 23 anos com muito orgulho. Eu vou ler aqui na página 19 no [item] 3: “Ampliar o cuidado e o acesso à saúde das populações em situação de rua e das periferias.” Eu só vou só ratificar o que o Paulão também falou, que eu acho que é importante: “Criar a política nacional de saúde dos moradores de comunidades e favelas do Brasil.” Eu acho que é muito importante. Não só criar, mas ter o monitoramento para garantir a efetividade de fato dessa política. Como o próprio Paulão falou, se cria leis e leis e não tem monitoramento. Às vezes fica no papel e não [acontece] efetivamente. Nós temos muitos moradores de rua e nós sabemos que também a população de comunidades e periferias precisa de cuidado, essa seria a minha defesa.”

E você, qual a sua opinião sobre a proposta de construção de uma política nacional de saúde para as favelas e territórios vulnerabilizados de todo o Brasil? Responda em nosso grupo de WhatsApp.