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O MANGUINHO 81 – 04 DE MAIO DE 2023

Piscina é saúde

Os alunos de natação e hidroginástica em Manguinhos hoje se mantêm alertas e vigilantes em defesa de um território saudável.

Na segunda semana de abril deste ano, o grupo de WhatsApp do O Manguinho recebeu muitas mensagens de moradores que se diziam preocupados. A preocupação era legítima e sincera. Segundo eles nos informaram, o Programa Cidade Integrada do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em Manguinhos, começava apresentar alguns sinais de esgotamento, ou seja, o que antes funcionava muito bem, começou a apresentar problemas cotidianos. Essas mensagens partiram de alunos das aulas de natação e hidroginástica que acontecem no Complexo Esportivo de Manguinhos e Jacarezinho, que fica nas dependências do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila.

Os moradores relataram que professores da piscina estão com os salários atrasados desde janeiro, e que as aulas de natação e hidroginástica que eram ofertadas todos os dias, agora já não são mais. Uma nova programação de funcionamento divulgada pela coordenação do programa no início de abril indicava que nas semanas seguintes alguns dias teriam aulas e outros não.

Uma história de lutas

A piscina semiolímpica que fica na Praça do PAC em Manguinhos tem uma história mais longa do que esta contada até aqui. Inaugurado em 2009, como unidade modelo, o Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila possuía salas de informática, laboratórios de química e física, biblioteca, auditório, ginásio poliesportivo e piscina. No entanto, poucos anos depois, por falta de manutenção e investimento contínuo, toda a estrutura física da escola estava deteriorada e depredada. A piscina, que na época da inauguração, era um orgulho para Manguinhos, por muitos anos ficou completamente abandonada, oferecendo perigo constante como local propício à proliferação de larvas de mosquitos. Durante todos esses anos, lideranças comunitárias, instituições do território, estudantes e trabalhadores organizados em Manguinhos denunciaram a situação. Em 2022, por meio do Programa Cidade Integrada, novos investimentos foram feitos pelo governo estadual e toda a infraestrutura física foi recuperada e readaptada.

Justamente por não querer reviver uma história de abandono de espaços importantes para Manguinhos, que os moradores se mantêm alertas e vigilantes. E por isso já estão manifestando sua preocupação e insatisfação com o aparente corte de recursos para a manutenção da piscina e das aulas.

Promoção de saúde

O Manguinho insiste na ideia de que saúde não é simplesmente não estar doente. A plena garantia de direitos é uma das condições necessárias para o surgimento de territórios saudáveis. Alguns relatos que recebemos nos mostram que as atividades que ocorrem na piscina promovem saúde sem a necessidade de medicação. Para a Bernardete, a piscina é importante para toda a sua família:

“Olá, eu sou Bernardete Cavalcante, faço aula de hidroginástica no Compositor Luiz Carlos da Vila no PAC. Inclusive eu fui recomendada até pela médica pra fazer hidroginástica. E estava me sentindo muito bem. Agora não sei o porquê que essas aulas tão sendo assim adiadas pra semana sim, semana não. Eu fazia três vezes por semana a aula e é grande importância essas aulas assim pra a comunidade aqui de Manguinhos. E inclusive os meus netos também sentem grande falta porque eles estão fazendo a natação e ficam me perguntando. São crianças assim de 10 anos, a outra tem sete anos. Eles me perguntam o porquê não tem mais aula de natação. E eu estou sem ter resposta para as crianças.”

O Renan Tavares, do Jacarezinho, é mais um exemplo que demonstra a estreita relação entre saúde e boas condições de lazer:

“Olá, boa tarde, eu me chamo Renan. Moro aqui no Jacarezinho, próximo aqui a Fofolândia. A natação me trouxe muitos benefícios. Não só pra mim, como para a minha filha também. Eu tenho hérnia de disco na lombar. Comecei a fazer hidroginástica e fui pegando um fortalecimento, aí depois eu fui pra natação, que melhorou ainda mais. Estou com a minha coluna mais forte, mais rígida e mais saudável. Eu era sedentário, me ajudou porque eu parei de fumar e mesmo assim eu estava tendo dificuldade na respiração. Ajudou também a minha filha, que tem asma. A natação foi muito boa para o desenvolvimento dela também. A natação trouxe muitos benefícios, não só pra mim, quanto pra ela. Seria muito ruim e chato se o projeto acabasse, entendeu? São muitas pessoas que estão se beneficiando, que estão gostando, se cuidando, se tratando. Eu estou gostando muito, entende?”

Que tal conversar sobre essas questões em nosso grupo de WhatsApp? Ter uma piscina com aulas de natação e hidroginástica em Manguinhos realmente é um indicativo de mais saúde?

O MANGUINHO 80 – 20 DE ABRIL DE 2023

Participação faz bem para a Saúde?

O Manguinho

O Manguinho esteve presente na roda de conversa realizada no dia 3 de abril na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.

Para termos saúde é necessário que tenhamos acesso a outros direitos básicos previstos pela Constituição Federal de 1988, como: educação, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer e cultura, saneamento e segurança. E pra isso, é necessário a prestação de um serviço público de qualidade em todas essas áreas. Mas não é bem isso que acontece, né? Principalmente em territórios como Manguinhos que sofrem com a falta ou precariedade desses serviços.

Nesse contexto, são muitos os problemas que precisam ser enfrentados para se produzir saúde em Manguinhos. Mas a chance de isso acontecer é maior se contarmos com a participação de moradores, estudantes e trabalhadores que atuam nos serviços públicos de Educação, Saúde e Assistência Social do território. Essas pessoas são fundamentais para definir quais são os problemas prioritários e como eles devem ser enfrentados. E como aumentar a participação e ampliar a mobilização popular em defesa da saúde pública? As respostas para estas questões foram um dos resultados esperados com a realização de uma roda da conversa no dia 03 de abril de 2023, como parte da programação da Conferência Livre Democrática e Popular das Trabalhadoras, Trabalhadores, Estudantes, Usuárias e Usuários da Fiocruz.

Participação comunitária

Para a Regina Bueno, do Movimento de HIV-AIDS e Comorbidades, Conselheira Nacional de Saúde pelo Movimento ANAIDS (Articulação Nacional de Luta Contra a Aids), que participou da roda no dia 3 de abril, um tema importante a ser tratado é o da participação comunitária.

“O SUS é de todos que estão dentro de nosso país. E é por isso que nós temos uma lei maravilhosa que é a 8142, de 1990, que fez com que nós, povo deste país, pudéssemos construir toda a política que nele se encontra. Então nós temos que incidir sim. Se você fala bonito, se você não fala bonito, não interessa. Você tem o que acrescentar. Então eu trago participação comunitária. Vamos lá, galera? Vamos? (…) É muito importante que nesse momento de construção da 17a Conferência Nacional de Saúde, que é prevista na lei federal que eu mencionei ainda há pouco, que a gente participe. Participe como convidado, eu não preciso ir como delegada. E principalmente porque neste momento foi criado pela comissão organizadora da 17a a possibilidade de criar conferências livres nacionais.”

A Anamaria Corbo, diretora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, enfatizou a importância da criação de espaços de acompanhamento de políticas públicas:

“Mesmo não sendo um espaço institucional, as conferências livres elas trazem subsídios também para os debates que delegados e observadores vão fazer durante a conferência. E também é um espaço, como a gente já discutiu em julho do ano passado, de acompanhamento pra além da Conferência que vai acontecer agora em julho. Ou seja, que espaços a gente precisa criar para estar acompanhando a política. Porque a gente não precisa dizer o momento delicado que estamos passando, mesmo que a gente tenha mudado de governo. E mais do que nunca a questão da consciência sanitária, que está junto, e lutando por um SUS de qualidade e universal é fundamental.”

Trabalhar para a ampliação da participação popular é o objetivo que levou à construção de uma enquete que está enriquecendo os diálogos feitos na Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde da Fiocruz. A principal pergunta dessa enquete é a seguinte: “Quais problemas MAIS prejudicam sua vida e sua saúde?”

Rodas de conversa para ampliar a participação

A roda de conversa é um método de participação coletiva que tem sido muito utilizado na construção de espaços que buscam ampliar a participação popular e que sejam livres e democráticos. Para você, também seria importante que o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, comumente chamado de “postinho da Fiocruz”, tivesse um espaço de participação popular que se reunisse de forma regular e permanente? Você gostaria de participar de uma roda de conversa sobre a construção deste espaço? Responda em nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 79 – 13 DE ABRIL DE 2023

Iniciação científica em Manguinhos

Registro do dia 22 de abril de 2023: Apresentações dos estudantes universitários bolsistas de iniciação científica em Manguinhos. Foto: Equipe O Manguinho.

Os diálogos do nosso grupo de WhatsApp Intersetorial Manguinhos são a base de construção do O Manguinho, que busca contribuir para que a intersetorialidade fortaleça um serviço público que promove saúde neste território.

Nas conversas sobre tuberculose que aconteceram no grupo, e que foram tema no O Manguinho passado, mesmo quem não deu seu parecer sobre o assunto foi afetado por ele. Foi o caso de Michele Rocha que disse:

“Eu não tenho um parecer a dar sobre essa pauta porque, assim como eu, moradora da comunidade de Manguinhos, não entendo muito bem essa pauta, então para mim, o que vocês falaram aí, o pouco que eu pude acompanhar, foi que eu pude entender um pouco mais. Porque não é uma coisa bem explicada para quem não está na situação. De repente é pra quem está na situação, como eu não estou, graças a Deus, e nunca estive, eu não sei debater sobre essa pauta. Então, eu não vou falar uma coisa que eu não domino, né? Eu só escuto e aprendo!”

Apesar de não sofrer diretamente com o problema da tuberculose, Michele se interessou em aprender sobre a doença. Mas será que essa vontade de aprender mais sobre problemas que prejudicam a vida e a saúde em Manguinhos é algo comum entre os moraderes de Manguinhos?

Iniciação científica em Manguinhos

A resposta pra essa pergunta é sim para pelo menos dez jovens de Manguinhos. Eles demonstraram interesse em participar de projetos de pesquisa sobre problemas diversos, no âmbito do programa de Iniciação Científica proposto pela Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fiocruz. Esses jovens apresentaram os resultados de um ano de suas pesquisas no dia 22 de março de 2023. O Manguinho acompanhou esta atividade que fez parte da Reunião Anual de Iniciação Científica da Fiocruz. Neste dia, tivemos a oportunidade de conhecer vários estudos e trazemos aqui o relato de duas jovens moradoras de Manguinhos que fazem parte desse projeto.

Leticia Alves Oliveira, que é moradora Manguinhos e estudante de Museologia, nos falou sobre a pesquisa da qual ela faz parte. Um projeto de promoção de saúde realizado com crianças moradoras de Manguinhos, no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria – ENSP/Fiocruz.

“Olá, meu nome é Letícia, tenho 25 anos, sou moradora de Manguinhos, sou bolsista PIBIC do IC Manguinhos. Eu fui selecionada para trabalhar na pesquisa “Modos de Brincar”, com crianças, né? E assim, vendo o trabalho que eu faço e os problemas que existem na minha favela, eu percebo a falta de mais atenção dos responsáveis com as crianças, eu acho que o brincar é muito importante, é essencial para a vida das crianças, elas desenvolvem várias coisas e é muito significativo. Então, responsáveis, [é importante] brincar, ter mais atenção com seus filhos, não só na brincadeira, porque no projeto a gente vê o pai cuidando da criança ali,estando presente, se envolvendo, criando laços que não conseguiam criar em casa. Então, assim, a pesquisa mostra o quanto o brincar fortalece o entendimento, a união responsáveis e crianças, e o quanto é benéfico e o quanto eu acho que isso é necessário no meu território!”

Já a Ana Carolina Barboza Brandão, também moradora de Manguinhos, é bolsista de um projeto que realizou um estudo sobre a saúde do docente da Educação Básica. Ela falou sobre a relação que faz entre essa pesquisa e os problemas enfrentados em Manguinhos:

“Eu me chamo Ana Carolina Barboza Brandão, sou aluna bolsista do IC Manguinhos na ENSP com o projeto “Condições de trabalho e saúde docente em meio a pandemia de Covid 19”, sob orientação da professora doutora Joviana Quintes Avanci e da professora Ana Paula Lucas Caetano de Albuquerque. O nosso estudo analisa como a pandemia de Covid-19, impactou o processo de ensino-aprendizagem e a saúde docente. A relação entre a pesquisa e os problemas vivenciados em Manguinhos são perceptíveis através do ambiente de violência que existe dentro e fora das escolas. Associados a problemas de segurança pública, além de condições precárias de trabalho, como a desvalorização da classe e poucos recursos disponíveis. Isso tudo é acentuado pelas relações sociais de gênero, causando adoecimento físico e sofrimento psíquico, principalmente também pela falta de políticas públicas voltadas a essa classe trabalhadora.”

A participação de moradores de Manguinhos em pesquisas na Fiocruz pode fazer bem para a saúde deste território? Responda em nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 78 – 06 DE ABRIL DE 2023

Diálogos sobre a tuberculose

“Mapa de incidência de tuberculose por área programática (AP 3.1) de residência.” No município do Rio de Janeiro em 2021. As partes mais escuras indicam uma alta concentração de casos. O círculo azul destaca Manguinhos. Fonte: Boletim Epidemiológico – Tuberculose no município do Rio de Janeiro: perspectivas e desafios | 2022

O último número do O Manguinho foi sobre tuberculose e provocou muito interesse em nosso grupo de WhatsApp. Rolou um diálogo um diálogo bem rico com uma troca intensa de informações e materiais comunicativos sobre essa doença. O Manguinho desta semana foi construído baseado nesses diálogos e nessas informações. Nessa conversa foram dados vários exemplos que mostram o quanto a tuberculose está profundamente associada com as más condições da vida e do trabalho das pessoas.

Na cidade do Rio de Janeiro, a população privada de liberdade, a população de rua e os moradores de favelas são os mais atingidos. Segundo o Boletim Epidemiológico de março de 2022, Manguinhos apresenta uma alta concentração de incidência da tuberculose e de abandono do tratamento.

Para a médica Celina Boga, trabalhadora do Centro de Saúde Germano Sinval Faria (ENSP/Fiocruz), muitas pessoas procuram a unidade de saúde depois de muito tempo que estão doentes. Algumas até, meses depois. Em uma situação como essa a transmissão dentro de casa ou até mesmo no ambiente de trabalho já ocorreu. A doutora Celina, disse:

“Como é difícil explicar a transmissão! Pelo ar! Pela tosse! Ninguém “vê” isso ocorrer. Mas ocorre! O que sinto neste trabalho que faço é que não haverá melhora da incidência desta doença se as condições de vida, trabalho e moradia das pessoas que moram em territórios como Manguinhos, não forem alteradas. Não acredito!”

Ela compartilhou no grupo de WhatsApp um exemplo do quanto é complexa a situação em relação à tuberculose:

“Acompanho um paciente com que mora na casa da mãe. Essa casa tem alguns basculantes no andar de baixo. Em uma visita que fiz comentei sobre isso pois os basculantes estavam fechados. Sugeri abri-los! A resposta foi: não é possível manter aberto pois os ratos entram e invadem minha cozinha!!!!”

Campanhas do esclarecimento

A líder comunitária e moradora de Manguinhos, Elenice Pessoa, também acredita ser importante o investimento em trabalho educativo e campanhas de esclarecimento:

“Infelizmente com essa pandemia, foram dois anos, não é? Houve a suspensão das visitas periódicas. Eu acredito que se houvesse campanhas e mais presença da estratégia da Saúde em estarem fazendo esclarecimentos, encontros que sejam de esclarecimento para a população, em relação à doença, às precauções, em relação às pessoas darem continuidade ao tratamento até o final. Eu acredito que este quadro mudaria quase 100%, pelo menos 90%.”

Para a moradora Silvia Silva, a falta de conhecimento em relação às doenças infectocontagiosas é um problema a ser enfrentado:

“Então, o que eu acho, dentro da minha visão, a partir do trabalho de campo que eu fiz em Manguinhos há vários anos. O que acontece é que os moradores das comunidades eles não tem conhecimento ou o conhecimento deles é muito pouco em relação às doenças infectocontagiosas. E foi isso que eu observei. Também tem receio de falar que tem, que está com a doença. Esse é o maior problema. Então um contamina o outro que não sabe. Nós estando vivendo isso aí. Precisamos de políticas públicas de saúde, políticas públicas de meio ambiente, políticas públicas sociais e nada é feito. Não estou vendo nada sendo feito. Estou vendo Manguinhos completamente abandonado pelos políticos e pelas políticas públicas.”

Mais informações!

Estas mensagens, que circularam no grupo, mostram que a falta de entendimento das pessoas em relação à tuberculose é uma das dificuldades de superação dessa doença em Manguinhos. Para o enfrentamento deste problema é muito importante a popularização de informações, como o link do Observatório Tuberculose Brasil no Facebook, que o Carlos Basilia disponibilizou no grupo. Lá encontramos as seguintes informações: o Brasil encontra- se entre os 30 países que apresentam a mais alta carga de tuberculose no mundo. A incidência no Brasil é de 32 casos para cada 100 mil habitantes, no estado do Rio, são 60 casos, e na capital, são 104 casos.

Já que a tuberculose é um problema tão sério que tal estudarmos juntos sobre essa doença assistindo o vídeo que a Dra. Celina sugeriu no grupo? É só clicar aqui. Venha participar dessa conversa entrando em nosso grupo de WhatsApp.

O Manguinho

O MANGUINHO 77 – 30 DE MARÇO DE 2023

Tuberculose em Manguinhos

A Agente Comunitária de Saúde Suzane Prado.

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível causada por uma bactéria que afeta principalmente os pulmões, mas pode atingir outros órgãos do corpo. É um grave problema de saúde pública que está entre as doenças que mais matam no mundo. Embora seja possível de ser prevenida, tratada e mesmo curada, o fato é que a tuberculose atinge principalmente as populações que vivem em condições de vida insalubres geradas pelas desigualdades sociais. São populações que sofrem pela falta de segurança alimentar e nutricional e vivem em ambientes e habitações com grande aglomeração de pessoas e pouca circulação de ar. Outro agravante são as condições de trabalho e a falta de acesso aos serviços de saúde.

O Rio de Janeiro é o segundo estado com a maior taxa de incidência da doença no Brasil. O Estado fluminense também apresenta um alta taxa de óbitos por causa da doença. A resistência da bactéria aos medicamentos tem aumentado significativamente tornando o tratamento mais difícil e mais longo. Isso muitas vezes acontece por conta da interrupção e abandono do tratamento.

O papel dos ACS

Os agentes comunitários de saúde têm um papel muito importante nas práticas de saúde com pessoas em tratamento de tuberculose que vivem em favelas. Devido às condições sociais e ambientais destes territórios há um número elevado de casos da doença.

A Agente Comunitária de Saúde, Suzane Prado, atende diversos moradores na favela de Manguinhos, em que administra o Tratamento Diretamente Observado (TDO), levando a medicação de segunda a sexta-feira até suas casas como principal ação de apoio e monitoramento aos pacientes em tratamento da tuberculose.

“Meu nome é Suzane Prado, sou agente comunitária há 18 anos. O desafio que eu acho que é mais persistente hoje é a aderência do tratamento. No início os sintomas não ficam tão constante e tende o paciente a largar o tratamento por esse motivo.”

Como se cuidar?

O tratamento da tuberculose é disponibilizado apenas no Sistema Único de Saúde (SUS) de forma totalmente gratuita. A vacina BCG é obrigatória para menores de um ano. Ela protege as crianças contra as formas mais graves da doença. A melhor forma de prevenir a transmissão da doença é fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento que, com 15 dias após iniciado, a pessoa já não transmite mais a doença. E deve ser feito por um período mínimo de 6 meses, diariamente e sem nenhuma interrupção.

Gabriele Alves da Silva, moradora de Manguinhos, ficou doente, procurou o serviço de saúde e foi acompanhada durante todo o tratamento.

“Oi, meu nome é Gabriele Alves da Silva e tenho 23 anos. Fiz o tratamento de tuberculoso até pouco tempo. Tratei durante 7 meses e uma semana. Eu abandonei durante um tempo [o tratamento], mas graças a Deus e a minha agente de saúde Susi eu melhorei. Eu consegui finalizar o tratamento. Hoje eu tô bem, não dependo mais de remédio. Tive dificuldade no começo, por conta do medicamento que eu tomava, porque eles são fortes sim, mas depois no final você vê que deu  certo e não precisa de mais nada. Tomei, aí deu dor no estômago, tomei outros remédios para o estômago, mas consegui tomar direitinho e finalizar o tratamento.”

Políticas pública já!

São necessárias políticas públicas que combatam as desigualdades sociais e que melhorem as condições de vida e de saúde da população mais atingida pela tuberculose. Para isso, são necessários: investimentos políticos, técnicos e financeiros em pesquisas, nos serviços públicos de educação, assistência social e saúde. Principalmente na atenção básica e saúde mental. Uma combinação de ações que garantam acesso à renda, educação, boa nutrição e boa moradia para as populações que mais sofrem com a tuberculose. Essas pessoas que têm nome, história e direitos precisam ter a sua voz ouvida por quem está no governo no país.

Que tal você trazer para esse nosso grupo de WhatsApp Vozes de Manguinhos comentando o conteúdo desse jornal? Certamente isso ampliaria as de superação do problema da tuberculose em Manguinhos.

O MANGUINHO 76 – 23 DE MARÇO DE 2023

Ser mulher em Manguinhos

Virgínia de Fátima Lourenço, moradora de Manguinhos há 30 anos.

As mulheres de Manguinhos têm a saúde prejudicada por vários motivos. Só o fato de pertencerem à classe trabalhadora já é um agravante, mas as difíceis condições de vida nesse território pioram ainda mais a situação. Saúde e bem estar envolvem diversos aspectos da vida, como acesso a lazer e alimentação de qualidade; condições de trabalho, moradia e renda dignas; e até a relação com o meio ambiente. Mas não é apenas a falta da maioria dessas coisas que impedem que as mulheres de Manguinhos tenham acesso a saúde e bem estar. A discriminação agrava ainda mais um cenário que já é desanimador. Além do trabalho, que muitas vezes já tem uma carga pesada, elas ainda tem que assumir outras atividades, como as diversas tarefas domésticas e a responsabilidade de cuidar de crianças, idosos, pessoas com deficiência, e doentes.

A voz das mulheres

Conversamos com a Virgínia de Fátima Lourenço, moradora de Manguinhos, e ela nos contou um pouco sobre as suas dificuldades:

“Oi, eu sou Virgínia de Fátima Lourenço da Silva, moradora aqui de Manguinhos há 30 anos. Então, assim… eu sou negra, entendeu? Eu quero contar um pouco da dificuldade que eu tive com meus filhos na escola, no CIEP. [Dificuldades] de ir buscar, de levar… Ida e volta para o trabalho… Volta de novo correndo! Dificuldade de arrumar pessoas pra pegar eles na escola para mim. Muitas vezes eu tinha que vir correndo do trabalho, esperando condução para mim pegar ele na escola. Nunca teve um curso também para eles aprenderem um ofício, para serem melhores na vida, para terem um aprendizado, pra ser um aprendiz melhor. Então é isso que eu estou falando, entendeu? De tudo que eu já passei. De tudo! A minha luta até hoje continua, entendeu? A minha luta de dentro de casa, eu trabalho fora também, então é isso aí!”

 Elizabete Ferreira da Silva, também deu seu depoimento:

“Meu nome é Elizabete Ferreira da Silva, sou moradora de Manguinhos, tenho 49 anos e sou nascida e criada em Manguinhos. Trabalho por conta própria em casa, porque cuido da minha mãe que tem 86 anos. Ela tem Alzheimer, é cadeirante, usa fralda e depende de mim até para comer, 100% dependente. Por isso não posso trabalhar fora e apesar de minha mãe ter mais filhos só eu cuido dela. Então, para mim ser mulher, negra e moradora de Manguinhos é dificultoso, pois nessas últimas enchentes passei muito sufoco, vi a água entrando em casa e eu quase entrei em desespero! Consegui falar com uma prima que veio com a água acima da cintura e ela que me ajudou a levantar minha mãe. Pois tenho problemas na coluna, joelhos e tornozelos. É ela quem me ajuda todos os dias a dar um banho na minha mãe. Enfim, é muito importante ter ajuda das redes de apoio, pois não posso contar com meus irmãos para nada. Agradeço pela oportunidade de estar me expressando.”

Elizabete Ferreira da Silva e sua mãe Maria Ferreira da Silva.

Direitos negados?

Quais são os direitos que estão sendo negados para estas mulheres? Estes são casos isolados ou representam a realidade de muitas mulheres em Manguinhos? O que é necessário para promover igualdade de gênero, autonomia econômica e acesso a saúde integral para as mulheres do território? Como podemos garantir a permanência das mulheres em todos os espaços sem lhes negar nenhum direito? As mulheres formam a maior parte da população brasileira e é necessário que existam políticas públicas que garantam a diminuição desta sobrecarga que recai sobre elas. Um bom exemplo seria o compartilhamento do cuidado de crianças e idosos com os serviços públicos e políticas que sejam construídas de forma a garantir o atendimento de necessidades e demandas de mulheres como a Dona Virgínia e a Dona Elizabete. Elas falam de desafios que precisam ser tratados de maneira transversal, intersetorial e participativa.

Para isso temos que ter a consciência de que a garantia dos direitos das mulheres é indispensável para a construção de uma sociedade mais democrática, em que as necessidades das mulheres sejam reconhecidas e respeitadas.

Quais políticas públicas deveriam ser implementadas para que fossem atendidas as necessidades e demandas que foram citadas nos depoimentos de Dona Virgínia e de Dona Elizabete? entre em nosso grupo de WhatsApp e venha conversar sobre isso.

O MANGUINHO 75 – 16 DE MARÇO DE 2023

Brincar faz bem à Saúde

“Agradecemos à equipe do PMA da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz por acreditar e apoiar o projeto.” (Modos de Brincar)
Desenho de Matheus Piter Motta Pereira.

Em Manguinhos, há crianças e adolescentes que cuidam de outras crianças. No período de ausência dos responsáveis que saem para trabalhar, irmãs mais velhas tomam conta dos menores. E ao cuidar dos irmãos, em muitos casos, elas também cuidam das crianças dos vizinhos em troca de uma pequena remuneração. Ao ter que cuidar das crianças, as irmãs e irmãos mais velhos perdem sua liberdade, seu tempo livre e deixam de brincar. Essa situação de responsabilização precoce tem sido observada por profissionais de educação que trabalham em unidades educacionais do território e é um dos fatores que ajudam a entender a evasão escolar e o baixo rendimento escolar em territórios vulnerabilizados.

Com o objetivo de valorizar a criança e sua interação com a família e responsáveis, surge o projeto atual “Modos de brincar e de cuidar de crianças entre camadas populares no contexto da pandemia de Covid-19”, coordenado por Liane Silveira e por Simone Assis, ambas pesquisadoras do CLAVES, o Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli. “Modos de Brincar” parte do princípio que brincar é essencial à saúde e agrega um trabalho de pesquisa ao trabalho que já era desenvolvido há vários anos pelo psicólogo Eugênio Carlos Lacerda, do Centro de Saúde Escola.

O projeto que busca mapear os modos de brincar e de cuidar de crianças, é realizado com as crianças acompanhadas por seus responsáveis. Ele conta com uma integrada equipe de trabalho de campo orquestrada por várias pessoas com diferentes saberes: antropologia, psicologia, comunicação e museologia. Acontece semanalmente no pátio do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da ENSP.

Brincar e desenvolvimento

A gente conversou com a Maria José Silva Dias, que é moradora de Manguinhos e mãe de duas crianças que participam do projeto:

“Bom dia, sou mãe do Cristopher e da Nathally e gostaria de falar um pouquinho deles depois da participação do projeto. Eles faziam muita coisa errada. Por exemplo, na escola, ele não prestava mais atenção. Mais o Chris, o Christopher, né? Não prestava atenção muito. Era muito disperso. E depois que ele começou a participar de um tempo para cá ele já começou a prestar atenção, já começou a fazer as coisas mais certas, porque fazia tudo errado. Ele era nervoso pra caramba até. Só que depois ele começou a se concentrar mais nas coisas, se concentrar no que ele fazia, e a Nathally também. Esse projeto é bom. Eu aconselho às mães que têm os seus filhos com esse tipo de problema, que não prestam atenção na escola, que são hiperativos. Esse projeto ensina muito as crianças a ter um pouquinho mais de atenção nas coisas, um pouquinho mais de atenção em si, porque as crianças precisam ter atenção em si. Esse projeto acaba dando a essa oportunidade para criança fazer isso. Para mim foi muito bom porque eu tive esse exemplo dentro de casa que foram eles.”

O Cristopher e a Nathally são os filhos da Maria José. Eles também quiseram falar com a gente:

“Meu nome é Nathally e tenho 9 anos. Eu participo do projeto Modos de brincar. Lá eu aprendo muita coisa, lá muito legal e também mudou na minha vida algumas coisas. Eu tô mais ligada nas coisas e também eu estou mais esperta na matemática e tô usando muito mais a cabeça.”

“Meu nome é Christopher e tenho 9 anos. Eu participo do projeto Modo de brincar. Lá é muito legal. Lá mudou muitas coisas que eu passava na escola. Eu brigava, eu não controlava minha raiva. Como eu ia pra lá todo dia, eu agora aprendi a controlar a minha raiva. Lá é muito legal.”

Achou interessante o projeto? Converse sobre ele com sua equipe de saúde da família e com a escola. Brincar em casa, na escola e no Centro de Saúde é tudo a mesma coisa? Por quê? Que tal conversar sobre isso em nosso grupo de WhatsApp?

O MANGUINHO 74 – 02 DE MARÇO DE 2023

Um CRAS para Manguinhos

O Manguinho

O abaixo-assinado organizado pelo MCP pode ser assinado presencialmente no Postinho da Fiocruz (Centro de Saúde Escola) ou virtualmente clicando na foto acima. Crédito da foto: Maria Clotilde – ACS da Equipe Amizade.

As enchentes que atingiram dezenas de moradias e famílias de Manguinhos nas últimas semanas mobilizaram muitos moradores, movimentos e lideranças comunitárias para tratar sobre o assunto. O que é necessário fazer para que tragédias como essas não se repitam? Como os serviços públicos precisam atuar para atender essas famílias e pessoas que tiveram suas casas alagadas e seus pertences destruídos? Entre os diversos assuntos e problemas apontados em nosso grupo de WhatsApp, O Manguinho chama atenção para a importância do serviço público de assistência social.

O CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) tem como papel auxiliar famílias e pessoas em situação de vulnerabilidade pessoal e social. Em Manguinhos, não há uma unidade deste serviço que seja responsável por atender os moradores deste território durante todos os dias da semana. O CRAS Caio Fernando de Abreu que fica na Avenida dos Democráticos não atende Manguinhos. Os moradores de Manguinhos que necessitam deste serviço público precisam se dirigir ao CRAS Ramos que fica próximo ao Morro do Alemão.

Um CRAS em Manguinhos

Por conta deste problema um abaixo-assinado foi feito pelo Movimento das Comunidades Populares de Manguinhos reivindicando a instalação de um CRAS em Manguinhos para atender os moradores em seu próprio território. E que este funcione em todos os dias e horários de funcionamento padrão de todos os CRAS do Rio de Janeiro. A distância e o custo de passagem são dificuldades que impedem muitos moradores de acessar o serviço e garantir os seus direitos. Os relatos que apresentamos aqui surgiram em conversas ocorridas no grupo de WhatsApp.

Vozes de moradores

A moradora Maria José de Freitas Araújo, de 51 anos, nos fala sobre isso:

“É muito boa essa sua ideia do CRAS funcionar aqui pra Manguinhos. Porque aqui no território de Manguinhos tem muitas pessoas idosas. Pessoas com dificuldade de se locomover. As pessoas idosas às vezes precisam e não tem como. Entende? Como tem uma amiga minha que eu estou há meses falando com ela: Ana, vai lá no CRAS do Alemão, vai lá renovar esse CadÚnico. Mas ela tem dificuldade de sair de casa porque infartou tem pouco tempo. Aí acaba não indo, ficando dentro de casa, se acomodando, e nada é feito. Tem pessoas que precisam e não tem como se locomover para ir ao local. Muita das vezes também não tem dinheiro de passagem.”

O movimento para conseguir assinaturas para o abaixo-assinado tem crescido e tem conseguido cada vez mais participação. Quando discutíamos a melhor forma de obter mais assinaturas a Maria José fez a seguinte proposta:

“Se você puder alcançar a minha Agente de Saúde, que é da Equipe Amizade, a Zoraia… Se você puder alcançar esse papel pra ela, aí ela me passa. Aí eu vou passando por aqui, nas redondezas daqui.”

A Maria Mercês Barbosa dos Santos, de 64 anos, que também é moradora de Manguinhos, fala também sobre as dificuldades de ir ao CRAS que fica distante. Ela acredita que essa luta será vitoriosa:

“É, mas a gente vai conseguir, se Deus quiser! Teve um tempo que ele era aqui [CRAS], depois ele mudou lá para aquele lado de lá da rua. Lá onde hoje faz balé, aqui mesmo na rua. Depois, faz muito tempo isso, depois ele foi lá para o Jacaré, lá para baixo, pro Jacaré. Eu me lembro que cheguei da Paraíba uma vez e tive que ir para lá. Aí depois ficou esta confusão, tem aqui na Varginha, mas não resolve, tem aqui no Manguinho, mas não resolve. (…) Nem sempre a gente tem! Tem dias que a gente não tem dinheiro nem para comprar um pão, para dar para o neto, para dar para o filho, imagina! Eu mesma quantas vezes pedi emprestado, cartão emprestado, dinheiro emprestado, entendeu? Ainda tem mais uma, teve uma vez que eu fui e ninguém conseguiu ser atendido. Já descemos do ônibus e já sabendo das notícias. Já tendo que atravessar ou descer para pegar o ônibus de volta. É! Aí fica brabo né! E ele estando aqui, é melhor para a gente. “

Essas são apenas algumas das muitas vozes de Manguinhos sobre a necessidade de que os moradores de Manguinhos sejam atendidos em um CRAS localizado nesse território. Esse problema da falta do CRAS em Manguinhos atrapalha o trabalho das escolas e das unidades de saúde? Por quê? Como esses equipamentos públicos podem participar dessa luta dos moradores de Manguinhos? Venha conversar sobre isso em nosso grupo de WhatsApp.

Greve Geral pelo Clima

O MANGUINHO 73 – 16 DE FEVREIRO DE 2023

Enchentes e CRAS em Manguinhos

Vozes de Manguinhos

Alenita de Jesus, Michele Rocha e Paula Bonato na atividade Vozes de Manguinhos. Foto: Maria das Mercês

Manguinhos no último dia 7 de fevereiro viveu mais uma tragédia provocada por chuvas fortes. Essa não é a primeira vez que os moradores de Manguinhos têm as suas casas alagadas e seus pertences destruídos por conta da água. As enchentes em Manguinhos têm uma história longa. São décadas de abandono e obras mal feitas por parte do poder público. Há um sentimento geral entre os moradores de que estão largados à própria sorte. Em nosso grupo de WhatsApp muitos depoimentos e vídeos foram enviados testemunhando os acontecimentos da penúltima terça-feira. No último domingo, dia 12 de fevereiro, um pequeno grupo de moradores e servidores públicos da Fiocruz, em uma atividade chamada Vozes de Manguinhos, conversou com moradores na Feira de Manguinhos sobre o problema das enchentes. Nessa edição, apresentamos uma seleção desses depoimentos.

As obras do PAC

É comum, por exemplo, nos relatos de moradores a indicação de que as obras do PAC em Manguinhos não resolveram o problema mas, pelo contrário, pioraram a situação em muitas áreas deste território. Para Michele Rocha é preciso mais atenção aos territórios vulnerabilizados:

“Em relação às enchentes a obra do PAC piorou muito algumas área da comunidade que não enchiam e hoje enchem. A rua que eu moro não enchia e hoje enche. Na escada do primeiro andar, todas enchem. Eu tenho uma casa no primeiro andar da minha família que nem alugamos porque enche. A dragagem do rio tem que ser feita. Tem aproximadamente 10 ou 15 anos que essa dragagem foi feita. E não foi feita completa, porque como tudo que é pra gente da comunidade, que somos a parte mais fragilizada, tudo é feito pela metade. A dragagem foi feita pela metade, a obra do PAC também foi feita pela metade, não teve fim. Então a gente precisa realmente de um olhar especial pra gente da comunidade. Não só pra nossa comunidade, mas pra todas.”

Coleta eficiente e dragagem dos rios

Alenita de Jesus chama atenção para o problema da falta de caçambas de lixo, para o precário serviço público de coleta e para a necessidade de dragagem dos rios:

“É preciso acabar com a enchente em Manguinhos. O pessoal está muito sofrido e perdem tudo. Mais caçambas de lixo, porque o caminhão passa assim de manhã, mas o pessoal que vai pro trabalho de manhã e chega não tem o caminhão passando, vai lá na caçamba, tá transbordando, bota no chão. Não tem onde botar, não vai poder voltar com o lixo pra casa. O saneamento de esgoto aqui é muito precário. É tudo entupido, então no dia da enchente quando o rio transborda. O rio se encontra, tanto do Jacaré quanto do Manguinho. UrgêncIa de dragar, por favor, mais atenção pro nosso bairro de Manguinhos, que perde tudo quando tem enchente.”

CRAS Manguinhos

Entre os muitos problemas apresentados, alguns moradores também relataram as dificuldades que encontram para buscar ajuda e apoio nos serviços públicos de Assistência Social. Sabrina reclama que os moradores de Manguinhos precisam ir até o Complexo do Alemão para serem atendidos. O CRAS (Centro de Referência em Assistência Social) destinado ao atendimento de Manguinhos está localizado em Ramos:

“Meu nome é Sabrina, tenho 29 anos. Sou mãe de duas crianças, uma de oito e outra de seis. Sou moradora de Manguinhos e acho que foi na quarta-feira eu soube que ia ter um cartão, que ia ajudar os moradores, mas era aqui no CRAS do Manguinhos. Eu como moradora aqui de Manguinhos fui lá e não podia receber, tinha que ir lá pro Complexo do Alemão. E com a casa cheia, eu não tinha mais dinheiro de passagem. O dinheiro de passagem que eu tinha, o dinheiro da semana, eu gastei com produtos de limpeza. E não tem lógica isso, a gente morador de Manguinhos tem que ir pro Complexo do Alemão? Tem um CRAS aqui perto, aqui do lado, mas só atende o pessoal do Jacarezinho e outros lugares. É esse o meu relato.”

O CRAS de Ramos atende no CCDC da Varginha nas segundas e quintas por ordem de chegada, a partir das 8:30h. A quantidade de atendimento tem sido insuficiente, segundo moradores que necessitam do serviço.

A revolta pelo CRAS localizado em Manguinhos não atender os moradores desse território fez com que surgisse a proposta de ser feito um abaixo assinado reivindicando a solução desse problema. O que vocês acham dessa proposta? Como fazer isso?

Unidos de Manguinhos

O MANGUINHO 72 – 09 DE FEVREIRO DE 2023

A luta continua!

José de Beserra de Manguinhos

Seu Beserra em atividade militante em Manguinhos. Foto: Maria das Mercês.

Quais são as necessidades locais de Manguinhos? Conversar com os moradores mais antigos, conhecer suas histórias e ouvir o que eles tem para falar nos ajudam a compreender melhor a realidade? Nessa semana O Manguinho conversa com o líder comunitário de Manguinhos, José Beserra de Araújo.

Do Nordeste a Manguinhos

Seu Beserra, como é conhecido, é pernambucano, morador de Manguinhos e militante do Movimento das Comunidades Populares, o MCP. Mora na cidade do Rio de Janeiro há 57 anos, mas é de origem camponesa, filho de uma família que vivia da terra. Ele é como muitos outros milhares de nordestinos que vieram para as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro na década de 1960 em busca de melhores condições de vida. Chegou no Jacarezinho em 1963, com 17 anos. Em suas lembranças dessa época ele recorda também de Manguinhos:

“Quando eu cheguei aqui em 1963 já tinha sido inaugurada a Igreja de São Daniel e tinha sido feito um conjunto de casas. Essas casas da Rua Santana do Livramento, da Gregório de Sá, e outras ruas paralelas do outro lado da Estrada de Manguinhos. Aquelas ruas ali também foram construídas nesse período. Mas quando eu cheguei aqui já havia sido construídas essas casas. (…) O nome do campo era Campo do Carioca e ele vinha até aqui perto da Avenida dos Democráticos por dentro da favela, né? Em 1963 bem no começo, quando eu cheguei aqui, o pessoal começou a invadir o campo e fazer casas. Marcava com barbante lá. O pessoal marcou e conseguiu fazer casas e não houve nenhuma reação. E o pessoal fez as casas que estão aí até hoje. E a vida mudou muito.”

Da Ditadura à democracia

Algum tempo depois do Seu Beserra chegar no Rio, o Brasil passou a ser governado por militares, que chegaram ao poder em 1964 por meio de um golpe. Durante a Ditadura Militar, Seu Beserra que ainda era muito jovem, lembra de algumas investidas do Exército em Manguinhos. Com o final da Ditadura em 1985 ele começou a se envolver de forma mais efetiva com a militância política:

“Nesse período de 1989, foi quando eu conheci o Gelson, que era do MCP (MCL). Nesse mesmo período eu conheci o Gilson e algumas pessoas da Associação de Moradores. O seu João era presidente da Associação. O objetivo do MCL (Movimentos das Comissões em Luta) era ir pra favelas e criar comissões de luta por melhorias, sejam elas quais fossem. Quando a gente começava isso a gente fazia uma pesquisa. Era bem simples, tinha três perguntas. A pesquisa era: qual o problema principal da comunidade? Por que o problema existe? E o que já foi feito pra resolver o problema? A gente ia de casa em casa e ficamos mais de um mês fazendo essa pesquisa. Algumas pessoas respondiam na hora e outras a gente passava depois pra pegar a resposta. Um trabalho de muita dedicação. Conseguimos fazer essa pesquisa e apareceram os três problemas principais. Apareceram muitos problemas, mas a gente baseia nos três principais, que foram: esgoto, iluminação pública e enchente.”

Seu Beserra também lembra de um acontecimento político importante para Manguinhos em 1991:

“Em 1991 foi uma das maiores enchentes que teve em Manguinhos. A enchente foi de noite. O pessoal amanheceu o dia jogando os móveis fora: colchões, guarda-roupa, muitas coisas que estragou. Eles jogavam fora trazendo aqui para a Avenida dos Democráticos. Quando foi umas 9h mais ou menos eu saí com o Gilson. Eu falei: Gilson, é melhor a gente fechar a Democráticos. Ele concordou. E saímos avisando para as pessoas da comunidade . Saímos avisando em umas cinco ou seis ruas “que 10h a Democráticos vai ser fechada”. E nós andamos um pouco e quando chegamos na Democráticos a rua já estava fechada sem a gente. O povo mesmo fechou a rua sozinho. Fizeram uma montanha de entulho de geladeira, de sofá, uma montanha aqui no meio da avenida. Ficou de 10h até 5h da tarde com a Democráticos fechada.”

Para o Seu Beserra, a luta sempre continua:

“O espaço de vocês dois é o mesmo espaço nosso. Em direção de libertação do povo. Libertação das garras do capitalismo. A gente continua na esperança de continuar a luta. E um dia a luta dar certo.”

Como você responderia a seguinte pergunta: Quando a luta dá certo? Entre em nosso grupo de WhatsApp e também nos fale sobre outros moradores de Manguinhos que também estão por aí na luta.

Manguinhos resiste a mais uma enchente