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Educação

O MANGUINHO 82 – 11 DE MAIO DE 2023

Escola: como participar?

Alunos do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, em 2016.

Em números anteriores do O Manguinho vimos o quanto a educação é importante para a saúde, mas quem é responsável pela educação das crianças, adolescentes e jovens? A Constituição Federal do nosso país, promulgada em 1988, diz, no artigo 205, que: “A educação, direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Ou seja, todos os cidadãos do Brasil têm direito à educação escolar, que deve ser oferecida por escolas públicas, uma instituição do Estado brasileiro. Mas para conseguir alcançar os objetivos de preparar as pessoas para o exercício da cidadania e para o trabalho a escola necessita contar com a colaboração das famílias dos alunos e da sociedade.

Mas as famílias e a sociedade estão conseguindo apoiar a escola nesse trabalho? Quais são os fatores que dificultam os pais e responsáveis dos alunos da escola pública de se envolverem e participarem na educação escolar de seus filhos?

Sobre este tema a gente traz para esse número uma conversa que aconteceu em nosso grupo do WhatsApp no dia 11 de março. Esse diálogo foi entre um ex-professor de História do Ciep Juscelino Kubitschek e do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, e uma moradora de Manguinhos.

Uma história longa: a precarização da escola pública

Para o professor da Rede Estadual Douglas Thomaz, a escola pública sofre há décadas uma precarização devido a falta dos investimentos necessários. Esta falha prejudica, não só os atuais alunos, mas também prejudicou os seus pais e responsáveis que passaram por ela. Pior ainda são os que nem tiveram a oportunidade de estudar. Muitos dos moradores de Manguinhos tiveram que parar de estudar para trabalhar.

“Como professor, a gente sempre fica assim… Como as famílias dos meus alunos estão avaliando a educação de seus filhos? A gente sempre se pergunta isso. E como muitos responsáveis e pais não terminaram os estudos e também já são destas outras gerações que estudaram nesta escola pública precária, eu fico pensando que muitas vezes os pais também não têm condições de avaliar a educação dos filhos. Por isso eu chamei atenção ao fato que você esteja atenta a isso, eu acho importante. Os pais jovens dos meus alunos também estudaram nessa escola pública, então tem também essa deficiência, vamos dizer assim, em relação à formação.”

Para a Michele Rocha, deve ser levado em conta também que muitos pais e responsáveis não participam da vida escolar dos filhos porque precisam trabalhar:

“Assim, em relação a isso, é mais ou menos o que o Douglas falou mais em cima. Muitos dos pais tiveram o mesmo ensino que os filhos estão tendo e não são questionadores. Eu vou numa reunião da minha filha e do meu filho… Na sala da minha filha, tem 40 crianças, na do meu filho tem um pouco mais acho que tem 45. Primeiro, já é um absurdo este número de crianças em uma sala de aula. Mas na reunião escolar se você ver dez, quinze pais, é muito. Você não vê muito além disso. Na última reunião que eu fui na escola da minha filha, da pequenininha, tinham 20 pais e a professora ficou maravilhada porque ela não consegue fazer uma reunião dessa com essa quantidade de pais. Porque está todo mundo trabalhando, todo mundo muito na correria para poder botar o pão de cada dia dentro de casa e nem se atentam nisso, entendeu? A preocupação é o trabalho e não deixar faltar. Mas esse negócio de conselho [escolar] que ele falou aí, eu achei interessantíssimo, se na escola do meu filho for divulgado eu vou querer participar sim, da minha filha também porque é interessante.”

Como participar?

O que mais dificulta você participar de reuniões nas escolas de seus filhos? O que facilitaria você participar dos conselhos escolares? Esta participação pode fazer bem para a saúde de Manguinhos? Responda em nosso grupo de WhatsApp!

O MANGUINHO 81 – 04 DE MAIO DE 2023

Piscina é saúde

Os alunos de natação e hidroginástica em Manguinhos hoje se mantêm alertas e vigilantes em defesa de um território saudável.

Na segunda semana de abril deste ano, o grupo de WhatsApp do O Manguinho recebeu muitas mensagens de moradores que se diziam preocupados. A preocupação era legítima e sincera. Segundo eles nos informaram, o Programa Cidade Integrada do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em Manguinhos, começava apresentar alguns sinais de esgotamento, ou seja, o que antes funcionava muito bem, começou a apresentar problemas cotidianos. Essas mensagens partiram de alunos das aulas de natação e hidroginástica que acontecem no Complexo Esportivo de Manguinhos e Jacarezinho, que fica nas dependências do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila.

Os moradores relataram que professores da piscina estão com os salários atrasados desde janeiro, e que as aulas de natação e hidroginástica que eram ofertadas todos os dias, agora já não são mais. Uma nova programação de funcionamento divulgada pela coordenação do programa no início de abril indicava que nas semanas seguintes alguns dias teriam aulas e outros não.

Uma história de lutas

A piscina semiolímpica que fica na Praça do PAC em Manguinhos tem uma história mais longa do que esta contada até aqui. Inaugurado em 2009, como unidade modelo, o Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila possuía salas de informática, laboratórios de química e física, biblioteca, auditório, ginásio poliesportivo e piscina. No entanto, poucos anos depois, por falta de manutenção e investimento contínuo, toda a estrutura física da escola estava deteriorada e depredada. A piscina, que na época da inauguração, era um orgulho para Manguinhos, por muitos anos ficou completamente abandonada, oferecendo perigo constante como local propício à proliferação de larvas de mosquitos. Durante todos esses anos, lideranças comunitárias, instituições do território, estudantes e trabalhadores organizados em Manguinhos denunciaram a situação. Em 2022, por meio do Programa Cidade Integrada, novos investimentos foram feitos pelo governo estadual e toda a infraestrutura física foi recuperada e readaptada.

Justamente por não querer reviver uma história de abandono de espaços importantes para Manguinhos, que os moradores se mantêm alertas e vigilantes. E por isso já estão manifestando sua preocupação e insatisfação com o aparente corte de recursos para a manutenção da piscina e das aulas.

Promoção de saúde

O Manguinho insiste na ideia de que saúde não é simplesmente não estar doente. A plena garantia de direitos é uma das condições necessárias para o surgimento de territórios saudáveis. Alguns relatos que recebemos nos mostram que as atividades que ocorrem na piscina promovem saúde sem a necessidade de medicação. Para a Bernardete, a piscina é importante para toda a sua família:

“Olá, eu sou Bernardete Cavalcante, faço aula de hidroginástica no Compositor Luiz Carlos da Vila no PAC. Inclusive eu fui recomendada até pela médica pra fazer hidroginástica. E estava me sentindo muito bem. Agora não sei o porquê que essas aulas tão sendo assim adiadas pra semana sim, semana não. Eu fazia três vezes por semana a aula e é grande importância essas aulas assim pra a comunidade aqui de Manguinhos. E inclusive os meus netos também sentem grande falta porque eles estão fazendo a natação e ficam me perguntando. São crianças assim de 10 anos, a outra tem sete anos. Eles me perguntam o porquê não tem mais aula de natação. E eu estou sem ter resposta para as crianças.”

O Renan Tavares, do Jacarezinho, é mais um exemplo que demonstra a estreita relação entre saúde e boas condições de lazer:

“Olá, boa tarde, eu me chamo Renan. Moro aqui no Jacarezinho, próximo aqui a Fofolândia. A natação me trouxe muitos benefícios. Não só pra mim, como para a minha filha também. Eu tenho hérnia de disco na lombar. Comecei a fazer hidroginástica e fui pegando um fortalecimento, aí depois eu fui pra natação, que melhorou ainda mais. Estou com a minha coluna mais forte, mais rígida e mais saudável. Eu era sedentário, me ajudou porque eu parei de fumar e mesmo assim eu estava tendo dificuldade na respiração. Ajudou também a minha filha, que tem asma. A natação foi muito boa para o desenvolvimento dela também. A natação trouxe muitos benefícios, não só pra mim, quanto pra ela. Seria muito ruim e chato se o projeto acabasse, entendeu? São muitas pessoas que estão se beneficiando, que estão gostando, se cuidando, se tratando. Eu estou gostando muito, entende?”

Que tal conversar sobre essas questões em nosso grupo de WhatsApp? Ter uma piscina com aulas de natação e hidroginástica em Manguinhos realmente é um indicativo de mais saúde?

O MANGUINHO 79 – 13 DE ABRIL DE 2023

Iniciação científica em Manguinhos

Registro do dia 22 de abril de 2023: Apresentações dos estudantes universitários bolsistas de iniciação científica em Manguinhos. Foto: Equipe O Manguinho.

Os diálogos do nosso grupo de WhatsApp Intersetorial Manguinhos são a base de construção do O Manguinho, que busca contribuir para que a intersetorialidade fortaleça um serviço público que promove saúde neste território.

Nas conversas sobre tuberculose que aconteceram no grupo, e que foram tema no O Manguinho passado, mesmo quem não deu seu parecer sobre o assunto foi afetado por ele. Foi o caso de Michele Rocha que disse:

“Eu não tenho um parecer a dar sobre essa pauta porque, assim como eu, moradora da comunidade de Manguinhos, não entendo muito bem essa pauta, então para mim, o que vocês falaram aí, o pouco que eu pude acompanhar, foi que eu pude entender um pouco mais. Porque não é uma coisa bem explicada para quem não está na situação. De repente é pra quem está na situação, como eu não estou, graças a Deus, e nunca estive, eu não sei debater sobre essa pauta. Então, eu não vou falar uma coisa que eu não domino, né? Eu só escuto e aprendo!”

Apesar de não sofrer diretamente com o problema da tuberculose, Michele se interessou em aprender sobre a doença. Mas será que essa vontade de aprender mais sobre problemas que prejudicam a vida e a saúde em Manguinhos é algo comum entre os moraderes de Manguinhos?

Iniciação científica em Manguinhos

A resposta pra essa pergunta é sim para pelo menos dez jovens de Manguinhos. Eles demonstraram interesse em participar de projetos de pesquisa sobre problemas diversos, no âmbito do programa de Iniciação Científica proposto pela Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fiocruz. Esses jovens apresentaram os resultados de um ano de suas pesquisas no dia 22 de março de 2023. O Manguinho acompanhou esta atividade que fez parte da Reunião Anual de Iniciação Científica da Fiocruz. Neste dia, tivemos a oportunidade de conhecer vários estudos e trazemos aqui o relato de duas jovens moradoras de Manguinhos que fazem parte desse projeto.

Leticia Alves Oliveira, que é moradora Manguinhos e estudante de Museologia, nos falou sobre a pesquisa da qual ela faz parte. Um projeto de promoção de saúde realizado com crianças moradoras de Manguinhos, no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria – ENSP/Fiocruz.

“Olá, meu nome é Letícia, tenho 25 anos, sou moradora de Manguinhos, sou bolsista PIBIC do IC Manguinhos. Eu fui selecionada para trabalhar na pesquisa “Modos de Brincar”, com crianças, né? E assim, vendo o trabalho que eu faço e os problemas que existem na minha favela, eu percebo a falta de mais atenção dos responsáveis com as crianças, eu acho que o brincar é muito importante, é essencial para a vida das crianças, elas desenvolvem várias coisas e é muito significativo. Então, responsáveis, [é importante] brincar, ter mais atenção com seus filhos, não só na brincadeira, porque no projeto a gente vê o pai cuidando da criança ali,estando presente, se envolvendo, criando laços que não conseguiam criar em casa. Então, assim, a pesquisa mostra o quanto o brincar fortalece o entendimento, a união responsáveis e crianças, e o quanto é benéfico e o quanto eu acho que isso é necessário no meu território!”

Já a Ana Carolina Barboza Brandão, também moradora de Manguinhos, é bolsista de um projeto que realizou um estudo sobre a saúde do docente da Educação Básica. Ela falou sobre a relação que faz entre essa pesquisa e os problemas enfrentados em Manguinhos:

“Eu me chamo Ana Carolina Barboza Brandão, sou aluna bolsista do IC Manguinhos na ENSP com o projeto “Condições de trabalho e saúde docente em meio a pandemia de Covid 19”, sob orientação da professora doutora Joviana Quintes Avanci e da professora Ana Paula Lucas Caetano de Albuquerque. O nosso estudo analisa como a pandemia de Covid-19, impactou o processo de ensino-aprendizagem e a saúde docente. A relação entre a pesquisa e os problemas vivenciados em Manguinhos são perceptíveis através do ambiente de violência que existe dentro e fora das escolas. Associados a problemas de segurança pública, além de condições precárias de trabalho, como a desvalorização da classe e poucos recursos disponíveis. Isso tudo é acentuado pelas relações sociais de gênero, causando adoecimento físico e sofrimento psíquico, principalmente também pela falta de políticas públicas voltadas a essa classe trabalhadora.”

A participação de moradores de Manguinhos em pesquisas na Fiocruz pode fazer bem para a saúde deste território? Responda em nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 78 – 06 DE ABRIL DE 2023

Diálogos sobre a tuberculose

“Mapa de incidência de tuberculose por área programática (AP 3.1) de residência.” No município do Rio de Janeiro em 2021. As partes mais escuras indicam uma alta concentração de casos. O círculo azul destaca Manguinhos. Fonte: Boletim Epidemiológico – Tuberculose no município do Rio de Janeiro: perspectivas e desafios | 2022

O último número do O Manguinho foi sobre tuberculose e provocou muito interesse em nosso grupo de WhatsApp. Rolou um diálogo um diálogo bem rico com uma troca intensa de informações e materiais comunicativos sobre essa doença. O Manguinho desta semana foi construído baseado nesses diálogos e nessas informações. Nessa conversa foram dados vários exemplos que mostram o quanto a tuberculose está profundamente associada com as más condições da vida e do trabalho das pessoas.

Na cidade do Rio de Janeiro, a população privada de liberdade, a população de rua e os moradores de favelas são os mais atingidos. Segundo o Boletim Epidemiológico de março de 2022, Manguinhos apresenta uma alta concentração de incidência da tuberculose e de abandono do tratamento.

Para a médica Celina Boga, trabalhadora do Centro de Saúde Germano Sinval Faria (ENSP/Fiocruz), muitas pessoas procuram a unidade de saúde depois de muito tempo que estão doentes. Algumas até, meses depois. Em uma situação como essa a transmissão dentro de casa ou até mesmo no ambiente de trabalho já ocorreu. A doutora Celina, disse:

“Como é difícil explicar a transmissão! Pelo ar! Pela tosse! Ninguém “vê” isso ocorrer. Mas ocorre! O que sinto neste trabalho que faço é que não haverá melhora da incidência desta doença se as condições de vida, trabalho e moradia das pessoas que moram em territórios como Manguinhos, não forem alteradas. Não acredito!”

Ela compartilhou no grupo de WhatsApp um exemplo do quanto é complexa a situação em relação à tuberculose:

“Acompanho um paciente com que mora na casa da mãe. Essa casa tem alguns basculantes no andar de baixo. Em uma visita que fiz comentei sobre isso pois os basculantes estavam fechados. Sugeri abri-los! A resposta foi: não é possível manter aberto pois os ratos entram e invadem minha cozinha!!!!”

Campanhas do esclarecimento

A líder comunitária e moradora de Manguinhos, Elenice Pessoa, também acredita ser importante o investimento em trabalho educativo e campanhas de esclarecimento:

“Infelizmente com essa pandemia, foram dois anos, não é? Houve a suspensão das visitas periódicas. Eu acredito que se houvesse campanhas e mais presença da estratégia da Saúde em estarem fazendo esclarecimentos, encontros que sejam de esclarecimento para a população, em relação à doença, às precauções, em relação às pessoas darem continuidade ao tratamento até o final. Eu acredito que este quadro mudaria quase 100%, pelo menos 90%.”

Para a moradora Silvia Silva, a falta de conhecimento em relação às doenças infectocontagiosas é um problema a ser enfrentado:

“Então, o que eu acho, dentro da minha visão, a partir do trabalho de campo que eu fiz em Manguinhos há vários anos. O que acontece é que os moradores das comunidades eles não tem conhecimento ou o conhecimento deles é muito pouco em relação às doenças infectocontagiosas. E foi isso que eu observei. Também tem receio de falar que tem, que está com a doença. Esse é o maior problema. Então um contamina o outro que não sabe. Nós estando vivendo isso aí. Precisamos de políticas públicas de saúde, políticas públicas de meio ambiente, políticas públicas sociais e nada é feito. Não estou vendo nada sendo feito. Estou vendo Manguinhos completamente abandonado pelos políticos e pelas políticas públicas.”

Mais informações!

Estas mensagens, que circularam no grupo, mostram que a falta de entendimento das pessoas em relação à tuberculose é uma das dificuldades de superação dessa doença em Manguinhos. Para o enfrentamento deste problema é muito importante a popularização de informações, como o link do Observatório Tuberculose Brasil no Facebook, que o Carlos Basilia disponibilizou no grupo. Lá encontramos as seguintes informações: o Brasil encontra- se entre os 30 países que apresentam a mais alta carga de tuberculose no mundo. A incidência no Brasil é de 32 casos para cada 100 mil habitantes, no estado do Rio, são 60 casos, e na capital, são 104 casos.

Já que a tuberculose é um problema tão sério que tal estudarmos juntos sobre essa doença assistindo o vídeo que a Dra. Celina sugeriu no grupo? É só clicar aqui. Venha participar dessa conversa entrando em nosso grupo de WhatsApp.

O Manguinho

O MANGUINHO 75 – 16 DE MARÇO DE 2023

Brincar faz bem à Saúde

“Agradecemos à equipe do PMA da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz por acreditar e apoiar o projeto.” (Modos de Brincar)
Desenho de Matheus Piter Motta Pereira.

Em Manguinhos, há crianças e adolescentes que cuidam de outras crianças. No período de ausência dos responsáveis que saem para trabalhar, irmãs mais velhas tomam conta dos menores. E ao cuidar dos irmãos, em muitos casos, elas também cuidam das crianças dos vizinhos em troca de uma pequena remuneração. Ao ter que cuidar das crianças, as irmãs e irmãos mais velhos perdem sua liberdade, seu tempo livre e deixam de brincar. Essa situação de responsabilização precoce tem sido observada por profissionais de educação que trabalham em unidades educacionais do território e é um dos fatores que ajudam a entender a evasão escolar e o baixo rendimento escolar em territórios vulnerabilizados.

Com o objetivo de valorizar a criança e sua interação com a família e responsáveis, surge o projeto atual “Modos de brincar e de cuidar de crianças entre camadas populares no contexto da pandemia de Covid-19”, coordenado por Liane Silveira e por Simone Assis, ambas pesquisadoras do CLAVES, o Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli. “Modos de Brincar” parte do princípio que brincar é essencial à saúde e agrega um trabalho de pesquisa ao trabalho que já era desenvolvido há vários anos pelo psicólogo Eugênio Carlos Lacerda, do Centro de Saúde Escola.

O projeto que busca mapear os modos de brincar e de cuidar de crianças, é realizado com as crianças acompanhadas por seus responsáveis. Ele conta com uma integrada equipe de trabalho de campo orquestrada por várias pessoas com diferentes saberes: antropologia, psicologia, comunicação e museologia. Acontece semanalmente no pátio do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da ENSP.

Brincar e desenvolvimento

A gente conversou com a Maria José Silva Dias, que é moradora de Manguinhos e mãe de duas crianças que participam do projeto:

“Bom dia, sou mãe do Cristopher e da Nathally e gostaria de falar um pouquinho deles depois da participação do projeto. Eles faziam muita coisa errada. Por exemplo, na escola, ele não prestava mais atenção. Mais o Chris, o Christopher, né? Não prestava atenção muito. Era muito disperso. E depois que ele começou a participar de um tempo para cá ele já começou a prestar atenção, já começou a fazer as coisas mais certas, porque fazia tudo errado. Ele era nervoso pra caramba até. Só que depois ele começou a se concentrar mais nas coisas, se concentrar no que ele fazia, e a Nathally também. Esse projeto é bom. Eu aconselho às mães que têm os seus filhos com esse tipo de problema, que não prestam atenção na escola, que são hiperativos. Esse projeto ensina muito as crianças a ter um pouquinho mais de atenção nas coisas, um pouquinho mais de atenção em si, porque as crianças precisam ter atenção em si. Esse projeto acaba dando a essa oportunidade para criança fazer isso. Para mim foi muito bom porque eu tive esse exemplo dentro de casa que foram eles.”

O Cristopher e a Nathally são os filhos da Maria José. Eles também quiseram falar com a gente:

“Meu nome é Nathally e tenho 9 anos. Eu participo do projeto Modos de brincar. Lá eu aprendo muita coisa, lá muito legal e também mudou na minha vida algumas coisas. Eu tô mais ligada nas coisas e também eu estou mais esperta na matemática e tô usando muito mais a cabeça.”

“Meu nome é Christopher e tenho 9 anos. Eu participo do projeto Modo de brincar. Lá é muito legal. Lá mudou muitas coisas que eu passava na escola. Eu brigava, eu não controlava minha raiva. Como eu ia pra lá todo dia, eu agora aprendi a controlar a minha raiva. Lá é muito legal.”

Achou interessante o projeto? Converse sobre ele com sua equipe de saúde da família e com a escola. Brincar em casa, na escola e no Centro de Saúde é tudo a mesma coisa? Por quê? Que tal conversar sobre isso em nosso grupo de WhatsApp?

O MANGUINHO 70 – 26 DE JANEIRO DE 2023

Falta comida nas escolas?

Falta comida nas escolas?

Com o retorno das aulas das escolas públicas de Manguinhos em fevereiro O Manguinho traz nesta semana para a discussão o tema da alimentação nas escolas. Segundo alguns relatos que recebemos, a alimentação oferecida em algumas das unidades escolares do território em 2022 foi insuficiente. Além das reclamações sobre a pouca quantidade oferecida para cada aluno, também existem queixas sobre a qualidade da merenda.

Segundo a Comissão da Educação da Alerj várias denúncias e reclamações foram recebidas por eles apontando que o dinheiro para alimentação escolar na Rede Estadual do Rio de Janeiro não tem sido suficiente. Por isso as direções das escolas tem feito mudanças no cardápio, como a substituição de alimentos por opções mais baratas

Alimentação escolar é importante?

A gente conversou com a nutricionista Ana Lúcia Fittipaldi, do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da Fiocruz, sobre a importância da alimentação das escolas, sobre as políticas públicas que tratam da questão e sobre os canais de denúncia disponíveis:

“A alimentação fornecida nas escolas é fundamental para contribuir com o crescimento e desenvolvimento dos alunos, sejam crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, estimulando a construção de hábitos alimentares mais saudáveis. A alimentação saudável previne, desde cedo, contra doenças que estão relacionadas com os hábitos alimentares, como excesso de peso e obesidade, diabetes e hipertensão arterial.

É também importante para a efetividade da Segurança Alimentar e Nutricional que significa a garantia de alimentação em quantidades adequadas e que seja de boa qualidade e que respeite a cultura alimentar. É de fundamental importância principalmente em territórios mais vulnerabilizados, como Manguinhos, onde a população convive com problemas sociais, ambientais e econômicos que impactam diretamente na sua saúde. Em muitas situações a refeição oferecida nas escolas é a única ou a principal refeição do dia dos alunos.

A alimentação escolar também contribui com o rendimento escolar, com o maior número de alunos matriculados e com a frequência às aulas, reduzindo o número de faltas. Ela é fundamental também porque com fome não é possível prestar atenção nas aulas e se concentrar nos estudos.

Para garantir o fornecimento da alimentação escolar nós temos uma política pública que é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que é aplicada nas escolas por meio do oferecimento de refeições saudáveis e equilibradas, e também através do desenvolvimento de ações de educação alimentar e nutricional para promover alimentação saudável. É oferecida para todos os estudantes da rede básica de ensino pública, que vai desde a creche, educação infantil, ensino fundamental (incluindo a modalidade de educação de jovens e adultos) até o Ensino Médio. O governo federal repassa valores financeiros aos estados e municípios para execução deste Programa, que pode e deve ser acompanhado e fiscalizado pela sociedade.

O PNAE tem como critério a obrigatoriedade de ter um nutricionista responsável técnico pela elaboração do cardápio escolar, e privilegia que a compra dos alimentos seja feita diretamente dos produtores locais, da agricultura familiar, e inclua preparações que façam parte do hábito cultural de cada região.

Ao se identificar que o PNAE não está sendo executado corretamente, pelos municípios ou por alguma escola específica, que está faltando merenda, ou a merenda não está adequada em quantidade ou qualidade, é importante que a sociedade denuncie aos órgãos competentes para cobrar que esta importante política pública seja cumprida.

O PNAE é acompanhado e fiscalizado diretamente pela sociedade, por meio dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAE), e também pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Controladoria Geral da União (CGU) e pelo Ministério Público.

Existe um aplicativo para facilitar esta fiscalização: o ePNAE. É o aplicativo de controle social do Programa Nacional de Alimentação Escolar por meio do qual pais, alunos, professores, nutricionistas, conselheiros de alimentação escolar e toda comunidade poderão acompanhar e avaliar a alimentação escolar oferecida em todas as escolas públicas do país.

Para utilizar este aplicativo é necessário fazer o download, fazer um cadastro e autenticar com seu usuário Brasil Cidadão, do Governo Federal.”

O que você tem a dizer sobre alimentação escolar? Solte a sua voz em nosso grupo de WhatsApp.

EJA Colégio Pedro II

O MANGUINHO 60 – 13 DE OUTUBRO DE 20

Educação e Saúde Mental

CIEP Juscelino Kubitschek

Grupo de alunos e professores que participaram do evento na Biblioteca Parque Marielle Franco. Foto: Mulheres do Vento.

Na quarta-feira passada, o dia começou com um alerta nos grupos de WhatsApp para que todos tivessem atenção ao transitar pelas estradas de Manguinhos e adjacências. O aviso era sobre a presença de uma operação policial em Manguinhos acompanhada do caveirão para retirada de barricadas. Essa situação prejudicou o funcionamento de unidades de saúde e unidades escolares. Algumas atividades foram canceladas, mas esse não foi o caso do passeio que tinha sido combinado com as duas turmas de alunos do Ciep Juscelino Kubitschek. O passeio era para um lugar que fica bem próximo a essa escola, a Biblioteca Parque de Manguinhos. Lá, o grupo de alunos participou do lançamento do catálogo “Estratégias culturais em Manguinhos: olhares sobre o cuidado em saúde mental e o protagonismo de moradores de favelas” e teve a oportunidade de conhecer alguns dos coletivos de Manguinhos dedicados a arte, lazer, esporte, dança e outras atividades promotoras de saúde. Foi uma manhã tensa e intensa. Mas não foram essas as únicas emoções. Muitas outras positivas foram provocadas pelas poesias, músicas e diálogos que fizeram parte do evento.

Escola e Saúde Mental

Perguntamos a alguns participantes: Você considera que esse passeio fez bem para a sua saúde mental? Por quê? Diogo Lázaro Ferreira Costa, aluno do Ciep Juscelino Kubitschek, que participou desse passeio, respondeu assim a nossa pergunta:

“Oi, meu nome é Diogo Lázaro Ferreira Costa, sou do Carioca 2, do CIEP JK, da professora Patrícia. O passeio que teve pra biblioteca foi muito bom, porque deu para relaxar, não precisava só copiar do quadro. Elas passaram algumas informações legais: que nós somos uma família e que podemos contar com elas para tudo. Teve lanche também lá. Mesmo a gente tendo ido pra um lugar perto foi bom, porque não foi só dentro da sala. Foi um lugar diferente, um campo, né?”

“A comunidade escolar está muito carente de um auxílio emocional, a saúde mental ficou muito abalada com a pandemia.”

Patrícia Woolley Cardoso, professora de História da Rede Municipal do Rio de Janeiro, mestre e doutora em História pela UFF, é professora do grupo que participou do evento. Ela atua no Projeto Carioca 2, que é uma turma especial, com o objetivo de auxiliar os alunos que possuem defasagens escolares a poderem desenvolver suas habilidades e concluir o Ensino Fundamental.

“Eu gostei muito de ter participado dessa atividade externa. Aliás, foi a primeira vez nesse ano que eu tive oportunidade de participar de uma atividade como essa. Então, eu acho que isso foi uma troca muito interessante pra mostrar que dentro da comunidade há movimento, há pessoas sim, críticas [pessoas críticas], pessoas que produzem, pessoas que fazem acontecer independente do Estado, já que o Estado, já que o poder público, já que as políticas públicas são insuficientes ou na maioria das vezes ausentes, então nós como seres humanos, cidadãos, pessoas, trabalhadores, moradores da região, professores… Então a gente tem que se mexer. Então achei muito bacana a iniciativa de reunir neste catálogo esses projetos e essas atividades. (…) A comunidade escolar está muito carente de um auxílio emocional, a saúde mental ficou muito abalada com a pandemia, muitos alunos estão agitadíssimos com transtornos emocionais sérios mas que nós professores não temos nem credenciais para identificar. Eu acharia muito legal se houvesse uma parceria da Fiocruz com alguns desses movimentos culturais visando uma melhora da Saúde Mental, por exemplo, a partir da escola, a partir da comunidade escolar.”

Natanael Santos, professor de artes do Ciep JK, também nos deu seu depoimento:

“Ao perguntar a um aluno sobre o que ele mais gostou do evento ele disse que foi o oferecimento do lanche. Então se essa criança se alimenta bem a saúde mental dele imediatamente responde de maneira positiva. Então teve seu ponto positivo nesse sentido. Agora vou explorar bastante com eles a questão cultural em si, as manifestações culturais que houve no evento: poemas, músicas, discursos etc e tal. Isso ainda vou trabalhar com eles.”

Essa experiência vivenciada por alunos e professores do Ciep Jk pode fazer bem também para a saúde de Manguinhos? Clique aqui e venha conversar com a gente sobre isso.

CIEP´s

O MANGUINHO 59 – 06 DE OUTUBRO DE 2022

Coletividade faz bem à Saúde

Coletividade faz bem à Saúde

Saiba mais sobre o Espaço Sonhar e o Coletivo Recriando Manguinhos clicando nos links em azul. Fotos disponíveis em redes sociais das respectivas iniciativas.

O último número de O Manguinho nos trouxe a seguinte questão: “Atividades culturais e construções coletivas fazem bem para a saúde? As escolas, as unidades de Saúde e de Assistência Social podem contribuir para avançarmos mais nessa caminhada em Manguinhos? Como?” Para ajudar a pensar nessas questões reproduzimos aqui partes do catálogo denominado “Estratégias culturais em Manguinhos: olhares sobre o cuidado em saúde mental e o protagonismo de moradores de favelas” que entre diversos coletivos de Manguinhos apresentam também o Espaço Sonhar e o Coletivo Recriando.

Espaço Sonhar

Fundado em 2014 pela moradora de Manguinhos Quezia Cavalcante, o projeto social Espaço Sonhar, prioriza a garantia de direitos de crianças e adolescentes, como educação, saúde, cultura, esporte e lazer. Em seu trabalho diário a iniciativa atende hoje 26 crianças na faixa etária de seis meses a 10 anos. As atividades cotidianas incluem banho, alimentação, levar e buscar na escola e em atividades extraescolares. Além dessas, existem outras que em média somam mais 80 crianças que participam de atividades de passeios promovidas pelo projeto. A atuação cuidadosa e cidadã do Espaço Sonhar tem contribuído em Manguinhos para dar visibilidade a problemas complexos que dependem da articulação entre políticas públicas, especialmente nos campos da Saúde, Educação e Assistência Social. Esse diagnóstico favorece a construção de soluções pros problemas que dificultam que essas crianças e suas famílias tenham saúde.

Para Quezia, é preciso oferecer oportunidades:

“Entendi que muitas vezes a gente precisa dar o peixe para a pessoa, para esta pessoa também ver que o peixe é bom e a pessoa querer pescar porque não adianta a gente só dar o peixe. Então, essa minha ideia. É o que eu faço hoje com as crianças, com as famílias das crianças. Não só dar o peixe, mas ensinar a pescar e mostrar que existe uma realidade e que eles fazem parte dessa realidade e que eles podem ser o que eles quiserem.”

Recriando Manguinhos

O Coletivo Recriando Manguinhos é um coletivo que realiza oficinas de Direitos Humanos e Cidadania com foco nas crianças da região de Manguinhos, e também passeios, excursões e outras atividades. Tendo como lema “Favela é lugar de brincar e reivindicar”, o Recriando Manguinhos trabalha para que, através da brincadeira, as crianças do território possam ter a oportunidade de serem crianças. Segundo os idealizadores do projeto era preciso imaginar um lugar onde as crianças de Manguinhos pudessem brincar, criar e atuar. Um espaço onde elas pudessem ouvir e reivindicar cidadania, por meio da música, contação de história, arte, pintura e dança.

Para a Elenice Pessoa, moradora de Manguinhos e fundadora do Coletivo Recriando Manguinhos, o inconformismo com a injustiça e as desigualdades sociais é o que dá força às ações e atividades do coletivo:

“Nós nascemos foi em Maio de 2015 de uma postura de indignação com a ausência de políticas públicas voltadas para a infância aqui de Manguinhos. Para a gente aqui a gente não tem espaço de lazer. (…) Contribuir para essas crianças no processo criativo Imaginário. Dar esperança a elas para que elas ainda possam sonhar com futuros . Existe futuro paracada um dos sonhos delas.”

Questões para o diálogo

Essas experiências destacadas apontam necessidades de Manguinhos que deveriam ser atendidas por políticas públicas intersetoriais fundamentadas em atividades coletivas culturais, esportivas, etc que façam parte do currículo escolar por meio da ampliação do tempo de permanências dos alunos nas escolas. A proposta do Programa Especial dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP) e o Programa Mais Educação são exemplos de políticas públicas que apontavam nessa direção.

O que o Espaço Sonhar e o Coletivo Recriando Manguinhos têm em comum? Elas trazem alguma dica para a construção de políticas públicas que garantam maior acesso das crianças aos seus direitos? Quais? Como as unidades escolares e as unidades de saúde podem ajudar nisso? Venha conversar com a gente sobre tudo isso em nosso grupo de WhatsApp.

Programa Mais Educação

O MANGUINHO 53 – 25 DE AGOSTO DE 2022

Saúde e escolaridade em Manguinhos

Educação e os determinantes sociais da saúde

Na semana passada, trouxemos dados sobre a vida e a saúde em Manguinhos. As informações sobre escolaridade foram as que mais provocaram o diálogo. Afinal de contas, o que a escolaridade tem a ver com saúde? Destacamos aqui algumas vozes de mulheres que fazem parte do grupo de WhatsApp que constrói O Manguinho e outras que chegaram porque o diálogo se espalhou em diversos grupos e também em conversas entre amigas.

Maria de Fátima Lourenço, a Dona Fátima, de 66 anos

Escolaridade e saúde andam juntas porque a escolaridade é conhecimento e conhecimento é saúde. Saúde é vida e vida com conhecimento você consegue tudo. Consegue alimentar melhor seus filhos, consegue botar o filho numa boa escola, consegue fazer com que seu filho se consulte no início de uma doença, consegue entender que seu filho não possa fazer certas coisas para se contaminar com a doença. Aprende a proteger o meio ambiente. Com conhecimento tudo fica mais fácil. A vida e a saúde fica mais bonita.”

Regina Barros, 56 anos, moradora da Vila Turismo em Manguinhos

“Na minha opinião escolaridade e saúde tem tudo a ver porque ter escolaridade é muito importante para todos. Facilita o entendimento de diversas questões que afetam a nossa vida, entre elas a questão da Saúde Pública. Por ter um bom estudo podemos ter uma boa interpretação de texto para podermos entender muitas situações que são dadas em explicações e discursos usando palavras que os que têm menos estudos não conseguem entender. Aprender para mim é saúde. Então vamos zelar pela nossa saúde e continuar a ter uma boa escolaridade.”

Maria Helena Souza, 68 anos, moradora do Amorin, em Manguinhos, disse o seguinte:

“A escolaridade para mim está sendo o prato principal da minha vida junto com a saúde. (…) O último seminário que teve foi da saúde mental foram faladas tantas coisas, tantas situações. Umas eu tinha noção por ter vivido, experimentado, que a minha ida e vinda do trabalho pegando o ônibus cheio. Eu estava super, hiper estressada? Não. Estava com raiva? Não. Era minha saúde mental que já estava super afetada com esse ir e vir de ônibus cheio, chegando atrasada, chegando em casa dava mal para fazer alguma coisa e ir dormir. Se você não tiver saúde você não consegue estudar, se você não tem estudo você não consegue entender os sintomas da nossa saúde de hoje em dia.”

Maria da Graça Turso da Silva, a Dona Graça, 70 anos de idade e moradora de Manguinhos:

“Estava aqui pensando sobre a escolaridade e a saúde. Escolaridade, saúde… Porque fica difícil, porque você vê, médicos. Tem médicos que tem a escolaridade, formação… e são grossos, tratam a gente mal, não olham para gente, olha só para o computador. Você vê advogados, tem escolaridade, formação também e não estava nem aí para o pobre, fazem mais as coisas é para ganhar dinheiro… Então, eu acho que é em tudo. Eu não consigo ver. Não estou conseguindo não, ver a importância de um com o outro: da escolaridade com a saúde. Porque não adianta a pessoa ter a escolaridade, entender das coisas e não poder tratar. Não ter dinheiro para comprar remédio. Então, eu não estou conseguindo absorver não, não estou mesmo. Está difícil para mim isso aí. Eu tenho que estudar mais para poder… Porque eu fico vendo. As pessoas que estudaram pouco não querem ser melhor do que ninguém. As que tem mais a escolaridade, mais formação, querem saber mais que os outros, pisar nos outros. Não são todos, claro, eu não estou falando que todo mundo é assim. Claro, né? Eu não estou falando que todo mundo é assim, mas tem um povinho que é assim. O que adianta ter estudo, ter educação ou ter estudo e não ter educação. Tem pessoas que não sabe nem ler e nem escrever mas se comunicam melhor com as outras. Não estou sabendo fazer essa ligação de escolaridade com saúde, não estou não. Me desculpe mas na próxima se Deus quiser.”

Esses depoimentos ajudam a pensar sobre a importância da educação para a promoção da saúde. Mas precisaremos dialogar sobre os questionamentos feitos por Dona Graça. Afinal, a escolaridade sozinha garante a educação e a saúde para todos ou será que para atingir plenamente esse objetivo além de aumentar a escolaridade será necessário também modificar a forma como a sociedade está estruturada? Venha participar desse saudável e educativo diálogo em nosso grupo de WhatsApp.