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Saúde

O MANGUINHO 77 – 30 DE MARÇO DE 2023

Tuberculose em Manguinhos

A Agente Comunitária de Saúde Suzane Prado.

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível causada por uma bactéria que afeta principalmente os pulmões, mas pode atingir outros órgãos do corpo. É um grave problema de saúde pública que está entre as doenças que mais matam no mundo. Embora seja possível de ser prevenida, tratada e mesmo curada, o fato é que a tuberculose atinge principalmente as populações que vivem em condições de vida insalubres geradas pelas desigualdades sociais. São populações que sofrem pela falta de segurança alimentar e nutricional e vivem em ambientes e habitações com grande aglomeração de pessoas e pouca circulação de ar. Outro agravante são as condições de trabalho e a falta de acesso aos serviços de saúde.

O Rio de Janeiro é o segundo estado com a maior taxa de incidência da doença no Brasil. O Estado fluminense também apresenta um alta taxa de óbitos por causa da doença. A resistência da bactéria aos medicamentos tem aumentado significativamente tornando o tratamento mais difícil e mais longo. Isso muitas vezes acontece por conta da interrupção e abandono do tratamento.

O papel dos ACS

Os agentes comunitários de saúde têm um papel muito importante nas práticas de saúde com pessoas em tratamento de tuberculose que vivem em favelas. Devido às condições sociais e ambientais destes territórios há um número elevado de casos da doença.

A Agente Comunitária de Saúde, Suzane Prado, atende diversos moradores na favela de Manguinhos, em que administra o Tratamento Diretamente Observado (TDO), levando a medicação de segunda a sexta-feira até suas casas como principal ação de apoio e monitoramento aos pacientes em tratamento da tuberculose.

“Meu nome é Suzane Prado, sou agente comunitária há 18 anos. O desafio que eu acho que é mais persistente hoje é a aderência do tratamento. No início os sintomas não ficam tão constante e tende o paciente a largar o tratamento por esse motivo.”

Como se cuidar?

O tratamento da tuberculose é disponibilizado apenas no Sistema Único de Saúde (SUS) de forma totalmente gratuita. A vacina BCG é obrigatória para menores de um ano. Ela protege as crianças contra as formas mais graves da doença. A melhor forma de prevenir a transmissão da doença é fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento que, com 15 dias após iniciado, a pessoa já não transmite mais a doença. E deve ser feito por um período mínimo de 6 meses, diariamente e sem nenhuma interrupção.

Gabriele Alves da Silva, moradora de Manguinhos, ficou doente, procurou o serviço de saúde e foi acompanhada durante todo o tratamento.

“Oi, meu nome é Gabriele Alves da Silva e tenho 23 anos. Fiz o tratamento de tuberculoso até pouco tempo. Tratei durante 7 meses e uma semana. Eu abandonei durante um tempo [o tratamento], mas graças a Deus e a minha agente de saúde Susi eu melhorei. Eu consegui finalizar o tratamento. Hoje eu tô bem, não dependo mais de remédio. Tive dificuldade no começo, por conta do medicamento que eu tomava, porque eles são fortes sim, mas depois no final você vê que deu  certo e não precisa de mais nada. Tomei, aí deu dor no estômago, tomei outros remédios para o estômago, mas consegui tomar direitinho e finalizar o tratamento.”

Políticas pública já!

São necessárias políticas públicas que combatam as desigualdades sociais e que melhorem as condições de vida e de saúde da população mais atingida pela tuberculose. Para isso, são necessários: investimentos políticos, técnicos e financeiros em pesquisas, nos serviços públicos de educação, assistência social e saúde. Principalmente na atenção básica e saúde mental. Uma combinação de ações que garantam acesso à renda, educação, boa nutrição e boa moradia para as populações que mais sofrem com a tuberculose. Essas pessoas que têm nome, história e direitos precisam ter a sua voz ouvida por quem está no governo no país.

Que tal você trazer para esse nosso grupo de WhatsApp Vozes de Manguinhos comentando o conteúdo desse jornal? Certamente isso ampliaria as de superação do problema da tuberculose em Manguinhos.

O MANGUINHO 76 – 23 DE MARÇO DE 2023

Ser mulher em Manguinhos

Virgínia de Fátima Lourenço, moradora de Manguinhos há 30 anos.

As mulheres de Manguinhos têm a saúde prejudicada por vários motivos. Só o fato de pertencerem à classe trabalhadora já é um agravante, mas as difíceis condições de vida nesse território pioram ainda mais a situação. Saúde e bem estar envolvem diversos aspectos da vida, como acesso a lazer e alimentação de qualidade; condições de trabalho, moradia e renda dignas; e até a relação com o meio ambiente. Mas não é apenas a falta da maioria dessas coisas que impedem que as mulheres de Manguinhos tenham acesso a saúde e bem estar. A discriminação agrava ainda mais um cenário que já é desanimador. Além do trabalho, que muitas vezes já tem uma carga pesada, elas ainda tem que assumir outras atividades, como as diversas tarefas domésticas e a responsabilidade de cuidar de crianças, idosos, pessoas com deficiência, e doentes.

A voz das mulheres

Conversamos com a Virgínia de Fátima Lourenço, moradora de Manguinhos, e ela nos contou um pouco sobre as suas dificuldades:

“Oi, eu sou Virgínia de Fátima Lourenço da Silva, moradora aqui de Manguinhos há 30 anos. Então, assim… eu sou negra, entendeu? Eu quero contar um pouco da dificuldade que eu tive com meus filhos na escola, no CIEP. [Dificuldades] de ir buscar, de levar… Ida e volta para o trabalho… Volta de novo correndo! Dificuldade de arrumar pessoas pra pegar eles na escola para mim. Muitas vezes eu tinha que vir correndo do trabalho, esperando condução para mim pegar ele na escola. Nunca teve um curso também para eles aprenderem um ofício, para serem melhores na vida, para terem um aprendizado, pra ser um aprendiz melhor. Então é isso que eu estou falando, entendeu? De tudo que eu já passei. De tudo! A minha luta até hoje continua, entendeu? A minha luta de dentro de casa, eu trabalho fora também, então é isso aí!”

 Elizabete Ferreira da Silva, também deu seu depoimento:

“Meu nome é Elizabete Ferreira da Silva, sou moradora de Manguinhos, tenho 49 anos e sou nascida e criada em Manguinhos. Trabalho por conta própria em casa, porque cuido da minha mãe que tem 86 anos. Ela tem Alzheimer, é cadeirante, usa fralda e depende de mim até para comer, 100% dependente. Por isso não posso trabalhar fora e apesar de minha mãe ter mais filhos só eu cuido dela. Então, para mim ser mulher, negra e moradora de Manguinhos é dificultoso, pois nessas últimas enchentes passei muito sufoco, vi a água entrando em casa e eu quase entrei em desespero! Consegui falar com uma prima que veio com a água acima da cintura e ela que me ajudou a levantar minha mãe. Pois tenho problemas na coluna, joelhos e tornozelos. É ela quem me ajuda todos os dias a dar um banho na minha mãe. Enfim, é muito importante ter ajuda das redes de apoio, pois não posso contar com meus irmãos para nada. Agradeço pela oportunidade de estar me expressando.”

Elizabete Ferreira da Silva e sua mãe Maria Ferreira da Silva.

Direitos negados?

Quais são os direitos que estão sendo negados para estas mulheres? Estes são casos isolados ou representam a realidade de muitas mulheres em Manguinhos? O que é necessário para promover igualdade de gênero, autonomia econômica e acesso a saúde integral para as mulheres do território? Como podemos garantir a permanência das mulheres em todos os espaços sem lhes negar nenhum direito? As mulheres formam a maior parte da população brasileira e é necessário que existam políticas públicas que garantam a diminuição desta sobrecarga que recai sobre elas. Um bom exemplo seria o compartilhamento do cuidado de crianças e idosos com os serviços públicos e políticas que sejam construídas de forma a garantir o atendimento de necessidades e demandas de mulheres como a Dona Virgínia e a Dona Elizabete. Elas falam de desafios que precisam ser tratados de maneira transversal, intersetorial e participativa.

Para isso temos que ter a consciência de que a garantia dos direitos das mulheres é indispensável para a construção de uma sociedade mais democrática, em que as necessidades das mulheres sejam reconhecidas e respeitadas.

Quais políticas públicas deveriam ser implementadas para que fossem atendidas as necessidades e demandas que foram citadas nos depoimentos de Dona Virgínia e de Dona Elizabete? entre em nosso grupo de WhatsApp e venha conversar sobre isso.

O MANGUINHO 75 – 16 DE MARÇO DE 2023

Brincar faz bem à Saúde

“Agradecemos à equipe do PMA da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz por acreditar e apoiar o projeto.” (Modos de Brincar)
Desenho de Matheus Piter Motta Pereira.

Em Manguinhos, há crianças e adolescentes que cuidam de outras crianças. No período de ausência dos responsáveis que saem para trabalhar, irmãs mais velhas tomam conta dos menores. E ao cuidar dos irmãos, em muitos casos, elas também cuidam das crianças dos vizinhos em troca de uma pequena remuneração. Ao ter que cuidar das crianças, as irmãs e irmãos mais velhos perdem sua liberdade, seu tempo livre e deixam de brincar. Essa situação de responsabilização precoce tem sido observada por profissionais de educação que trabalham em unidades educacionais do território e é um dos fatores que ajudam a entender a evasão escolar e o baixo rendimento escolar em territórios vulnerabilizados.

Com o objetivo de valorizar a criança e sua interação com a família e responsáveis, surge o projeto atual “Modos de brincar e de cuidar de crianças entre camadas populares no contexto da pandemia de Covid-19”, coordenado por Liane Silveira e por Simone Assis, ambas pesquisadoras do CLAVES, o Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli. “Modos de Brincar” parte do princípio que brincar é essencial à saúde e agrega um trabalho de pesquisa ao trabalho que já era desenvolvido há vários anos pelo psicólogo Eugênio Carlos Lacerda, do Centro de Saúde Escola.

O projeto que busca mapear os modos de brincar e de cuidar de crianças, é realizado com as crianças acompanhadas por seus responsáveis. Ele conta com uma integrada equipe de trabalho de campo orquestrada por várias pessoas com diferentes saberes: antropologia, psicologia, comunicação e museologia. Acontece semanalmente no pátio do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da ENSP.

Brincar e desenvolvimento

A gente conversou com a Maria José Silva Dias, que é moradora de Manguinhos e mãe de duas crianças que participam do projeto:

“Bom dia, sou mãe do Cristopher e da Nathally e gostaria de falar um pouquinho deles depois da participação do projeto. Eles faziam muita coisa errada. Por exemplo, na escola, ele não prestava mais atenção. Mais o Chris, o Christopher, né? Não prestava atenção muito. Era muito disperso. E depois que ele começou a participar de um tempo para cá ele já começou a prestar atenção, já começou a fazer as coisas mais certas, porque fazia tudo errado. Ele era nervoso pra caramba até. Só que depois ele começou a se concentrar mais nas coisas, se concentrar no que ele fazia, e a Nathally também. Esse projeto é bom. Eu aconselho às mães que têm os seus filhos com esse tipo de problema, que não prestam atenção na escola, que são hiperativos. Esse projeto ensina muito as crianças a ter um pouquinho mais de atenção nas coisas, um pouquinho mais de atenção em si, porque as crianças precisam ter atenção em si. Esse projeto acaba dando a essa oportunidade para criança fazer isso. Para mim foi muito bom porque eu tive esse exemplo dentro de casa que foram eles.”

O Cristopher e a Nathally são os filhos da Maria José. Eles também quiseram falar com a gente:

“Meu nome é Nathally e tenho 9 anos. Eu participo do projeto Modos de brincar. Lá eu aprendo muita coisa, lá muito legal e também mudou na minha vida algumas coisas. Eu tô mais ligada nas coisas e também eu estou mais esperta na matemática e tô usando muito mais a cabeça.”

“Meu nome é Christopher e tenho 9 anos. Eu participo do projeto Modo de brincar. Lá é muito legal. Lá mudou muitas coisas que eu passava na escola. Eu brigava, eu não controlava minha raiva. Como eu ia pra lá todo dia, eu agora aprendi a controlar a minha raiva. Lá é muito legal.”

Achou interessante o projeto? Converse sobre ele com sua equipe de saúde da família e com a escola. Brincar em casa, na escola e no Centro de Saúde é tudo a mesma coisa? Por quê? Que tal conversar sobre isso em nosso grupo de WhatsApp?

O MANGUINHO 66 – 01 DE DEZEMBRO DE 2022

Novas notícias sobre a Covid-19

O Manguinho dessa semana dá continuidade ao assunto do nosso último número. A partir das informações dadas por Regina Daumas e Rosane Esteves a gente fez uma alerta sobre uma nova onda de Covid-19. Segundo o boletim Infogripe da Fiocruz, divulgado no dia 23 de novembro, há um aumento dessa doença entre os casos positivos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em estados de todas as regiões do país. O estado do Rio de Janeiro, segundo a mesma fonte, tem um crescimento acentuado que se destaca, acompanhado pelos registros de São Paulo e Paraíba. Como vimos em nosso último número, em Manguinhos, esse aumento de casos também foi verificado.

A vacina protege

A vacina continua ainda sendo a nossa maior proteção contra os casos graves da Covid-19. No Brasil, apenas 56% da população recebeu a dose de reforço. Daí ser importante cobrar a 4a dose de reforço ao governo e as instituições públicas de saúde nos casos em que ela não tiver disponível. Como também deve ser cobrada as vacinas para crianças. Segundo o biólogo Atila Iamarino, as vacinas para as crianças menores de 4 anos, sem comorbidades, continuam sendo negligenciadas, ou seja, não há vacinas disponíveis no Brasil para essas crianças.

Mesmo os vacinados podem pegar Covid-19

Mesmo as pessoas que já foram vacinadas podem pegar Covid-19. As vacinas não oferecem 100% de proteção porque novas variantes podem surgir. No entanto, quem não se vacina aumenta as chances de hospitalização e morte, ou seja, casos graves da doença são mais fáceis de ocorrer entre os não vacinados. Ter pegado a doença também não evita que se pegue novamente. Alguns estudos já indicam que reinfecções aumentam as chances que o paciente tenha mais complicações. Daí ser importante proteger-se e evitar pegar o vírus.

Covid-19 em Manguinhos

A Claudia Justino Raimundo, Agente de Saúde da Família em Manguinhos, da Equipe Amizade, fala também do crescimento de casos e de reinfecções em Manguinhos:

“Os casos de Covid têm retornado. Tem aparecido aqui na unidade novamente pacientes e funcionários com caso. Pessoas que nunca tiveram o Covid estão tendo. Pessoas que já tiveram estão reinfestando, estão tendo novamente. Aquelas pessoas que tomaram a vacina: “Ah, eu tomei a vacina!” Está pegando Covid novamente. Porém, a gente sabe que a vacina ajuda. Essas pessoas estão tendo de uma forma mais branda, porém estão tendo. Então o fato de ter liberado nas ruas o uso de máscara, mesmo em locais em ambientes fechados (…) onde tem pessoas juntas deve-se sim continuar usando a máscara. Por exemplo, [é preciso] evitar aglomeração, ambientes muito fechados, com multidão de pessoas. Na rua usar álcool gel: “não posso lavar a mão com água e sabão?” Usa álcool gel, evite colocar a mão suja sem lavar em contato com os olhos, com o nariz e com a boca. É isso gente, o Covid não acabou, então continue o cuidado entendeu?”

Vamos testar e vacinar!

A enfermeira Joyce Lopes Santana de Lima, responsável pela vacinação do Centro de Saúde da Fiocruz, nos dá informações importantes para quem deseja fazer testes e se vacinar em Manguinhos:

“Hoje pra dose de reforço nós temos dois tipos de imunobiológicos disponíveis na nossa sala de vacina, que é a Astrazeneca e a Pfizer Adulto. Quanto ao teste rápido pode ser realizado na Unidade pela Equipe de Resposta Rápida. É necessário que esse morador seja cadastrado na Unidade e que ao apresentar sintomas ele procure a própria Unidade para que sejam realizados os testes e as orientações.”

As Unidades de Saúde de Manguinhos em números

A fim de oferecer mais informações sobre a situação territorial, O Manguinho buscou alguns números que podem nos ajudar nessa tarefa. Segundo dados da Saúde da Prefeitura do Rio, foram aplicadas 130.096 doses de vacina no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria e Clínica da Família Victor Valla, ambas localizadas em Manguinhos. Esse número total de vacinas considera a 1ª e a 2ª doses, a dose única e as outras 2 de reforço. Desse total, 41.531 pessoas tomaram as duas doses iniciais e 27.055 a primeira dose de reforço. A gente lembra que todos os adultos com mais de 18 anos já poderiam ter 4 doses de vacina.

E você quer conversar mais sobre isso? Entre e participe do nosso grupo de WhatsApp. Se cuide e ajude a cuidar dos outros espalhando essas informações.

O MANGUINHO 65 – 24 DE NOVEMBRO DE 2022

Uma nova onda de Covid-19

Em nosso grupo de WhatsApp uma moradora pediu que fizéssemos uma nova edição sobre o aumento de casos de Covid-19 nas últimas semanas. Os trabalhadores que atuam do Centro de Saúde, o postinho da Fiocruz, também estavam preocupados com essa nova onda da pandemia. Eles capricharam nas informações sobre o que está acontecendo nesse território em relação a essa doença:

Olá, eu me chamo Priscila Rosa e trabalho no Núcleo de Vigilância e Saúde do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da Fiocruz. Hoje é dia 18 de novembro de 2022 e venho trazer algumas recados e informações pra vocês do nosso Núcleo de Vigilância. Como vocês já devem ter ouvido falar estamos vivendo uma nova onda da pandemia de Covid-19. O motivo dessa nova onda foi devido ao surgimento de uma nova subvariante da variante Ômicron, do vírus da Covid-19, chamada Ômicron BQ1. Essa nova subvariante já encontrada em outros países foi identificada pela Fiocruz no Rio de Janeiro há cerca de duas semanas. Aqui em Manguinhos já dá pra perceber os efeitos dessa nova onda. O número de atendimentos de pessoas com sintomas respiratórios ou procurando testes de Covid passou de cerca de 20 para mais de 100 pessoas por dia. O número de moradores de Manguinhos notificados como casos suspeitos de Covid-19 dobrou na semana passada em relação ao anterior. Passando de 72 para 142. Enquanto a proporção de testes positivos passou de 10% para cerca de 30%.

Agora vamos tentar responder algumas dúvidas mais frequentes:

Essa variante é mais transmissível? Parece que sim. Porque ela rapidamente se tornou dominante nos países onde ela foi identificada substituindo as demais.

Essa subvariante escapa da imunidade? Em parte sim, essa variante tem mutações que ajudam a escapar dos anticorpos que nós produzimos depois da vacina ou depois de ter Covid. Então ter sido vacinado ou ter pego Covid não impede que você tenha Covid de novo. Ainda assim as vacinas contra a Covid continuam oferecendo uma forte proteção contra a doença grave e morte.

Essa subvariante causa doenças mais graves que as demais? Não, essa subvariante não causa doença mais grave que as anteriores, mas se houver grande aumento de casos as internações e mortes por Covid tendem a aumentar também.

E se eu achar que estou com Covid? Se você tiver sintomas de gripe, ou resfriado, como dor de garganta, nariz entupido ou escorrendo, tosse, espirros, ou febre, use máscaras em todos os locais. Procure a unidade mais próxima para fazer o teste e evite o contato com outras pessoas por pelo menos sete dias desde o início da doença. E se após esse período você não tiver melhorando volte à unidade de saúde para ser reavaliado.

O que é preciso fazer para evitar ter Covid? Para começar use máscara em locais fechados e no transporte público e coloque a vacinação em dia. Essas duas medidas reduzem seu risco de pegar Covid-19 e de ter doença grave. Também é importante evitar aglomerações, lavar as mãos e usar álcool em gel com frequência e evitar passar as mãos no rosto quando elas não estiverem limpas. Mas nossa maior defesa contra a doença grave da Covid continua sendo a vacina. Devemos tomar todas as doses recomendáveis e ajudar parentes e amigos a fazerem o mesmo.

Nesse momento todos os adultos com mais de 18 anos já poderiam ter 4 doses de vacina. Quem ainda não tem deve completar seu esquema. São duas doses iniciais, mais duas doses de reforço. Com intervalo de quatro meses entre essas últimas doses. Para os adultos com comorbidades e idosos já é recomendado uma terceira dose de reforço dez meses depois da segunda. Crianças a partir de 3 anos e adolescentes também devem ser vacinados. E agora começou também a vacinação para crianças a partir dos seis meses de idade que tenham alguma comorbidade. Todos os adolescentes também devem tomar uma dose de reforço. Se você tiver dúvida vá à unidade de Saúde com a caderneta de vacinação para receber as orientações mais adequadas para o seu caso. Esperamos ter esclarecidos suas dúvidas, se cuide e obrigada.

E agora que você já tem muito mais informações sobre o aumento dos casos de Covid-19 e o surgimento desse nova subvariante, não dê bobeira! Se cuide e ajude a cuidar dos outros espalhando essas informações. Quer fazer mais perguntas e comentar sobre esse tema? Entre em nosso grupo de WhatsApp para participar dessa conversa.

O MANGUINHO 64 – 10 DE NOVEMBRO DE 2022

Vozes coletivas de Manguinhos

A médica Celina Boga durante cerimônia de aniversário do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. Foto: Virginia Damas Ribeiro.

Há poucos dias, o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) comemorou 55 anos de vida. Consultando o informativo da ENSP, disponível no site dessa escola, você pode ler uma matéria publicada em 04 de novembro desse ano com o título: “O Centro de Saúde Escola celebra 55 anos em prol da saúde da população de Manguinhos”. Fazendo isso você sabe tudo que aconteceu nessa festa de aniversário. Desse registro, destacamos aqui um trecho da carta que a Dra. Celina Boga, médica dessa unidade há 35 anos, leu publicamente na conclusão da cerimônia, com autoridades da ENSP e da Fiocruz.

“A festividade de hoje não estaria completa se não comemorássemos também a “finalização” do processo de discussão do nosso Seminário Interno iniciado em maio deste ano. Alguns meses se passaram desde então. Muitas reuniões, vários grupos de trabalho, construção e análise dos Discursos Coletivos, conclusões intermediárias, consultas, assembleias e consensos. Em uma escala menor repetimos, de certo modo, o ritual que observamos em nossos congressos internos. Processos participativos são assim. E como aprendemos com eles!!!! É importante registrar que a motivação inicial do seminário foi a angústia observada, entre trabalhadores do CSEGSF, frente às restrições orçamentárias que o setor público vivencia e que compromete sua efetividade. Efetividade, no sentido do seu funcionamento normal e da capacidade de produzir um efeito real, positivo e duradouro.”

Vozes coletivas

Destacamos esse conteúdo da carta porque ele nos permite trazer para o nosso O Manguinho dessa semana algo que é fundamental para os objetivos que temos com esse nosso jornalzinho. O objetivo de trazer vozes coletivas de moradores e trabalhadores de Manguinhos que podem ajudar a promover ações e reflexões necessárias para produzir saúde nesse território. A Dra. Celina fala em sua carta sobre discursos coletivos compostos por vozes de trabalhadores do Centro de Saúde.

Sistema

“O que precisa mudar no meu trabalho hoje? São as relações de trabalho precarizadas as quais estou submetida. A sensação é a de “enxugar gelo”. Não é um problema das pessoas. É um problema do sistema onde estamos metidos. Existe uma multiplicidade de fatores que resulta na precarização do trabalho no âmbito do SUS, os empregadores lucram com a superexploração dos profissionais, nos tornamos vulneráveis, e temos nossos direitos sociais ameaçados. No cenário pandêmico, todas essas dimensões foram acentuadas. Tal fato, não é exclusividade do meu trabalho, do Centro de Saúde, existem questões políticas, não sou ingênua e alienada. O que me espanta é a passividade em relação aos fatos. Luto diariamente para cumprir o que compreendo que é a minha função social no território. No entanto, é um grande desafio, mais uma contradição do SISTEMA a ser enfrentada, principalmente quanto ao modelo de produtividade estabelecido com as Organizações Sociais na Atenção Básica. (…) Desafio maior para moradores que compõem um conjunto heterogêneo de trabalhadores que integram a cidade de forma subalterna, e amargam diariamente preconceitos, estigmas, violência, falta de saneamento básico e desrespeito permanente aos seus direitos. As vulnerabilidades vivenciadas por esta comunidade são determinantes para o risco constante de adoecimento por agravos que o asfalto sofre com menor impacto(…). Nesse contexto transferir as contradições sociais para a esfera patológica, é naturalizar as verdadeiras determinações do sofrimento. O medicamento é um dos elementos protagonistas dessa estratégia capitalista.”

A sensação é a de “enxugar gelo”. Não é um problema das pessoas. É um problema do sistema onde estamos metidos.

O que você pensa sobre tudo isso? Como a partir dessas reflexões o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (ENSP/Fiocruz) pode contribuir para que os moradores de Manguinhos conquistem e tenham acesso efetivo aos direitos que são necessários para ter saúde? Entre em nosso grupo de WhatsApp e envie uma frase para nos ajudar a construir um discurso coletivo que responda essas questões.

O MANGUINHO 62 – 27 DE OUTUBRO DE 2022

Comemoração, luta e democracia

Em outubro do ano passado, o Manguinho publicou um comunicado importante do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. Informando, aos seus usuários, que as sete equipes da Estratégia de Saúde da Família que atuavam no Centro de Saúde Escola seriam transferidas para outro local. A transferência seria o resultado do fim de um convênio de 20 anos entre a ENSP e a Prefeitura do Rio de Janeiro. Um novo convênio da Prefeitura do Rio estabelecia que a Organização Social Viva Rio seria a nova responsável pela gestão local das Equipes de Saúde da Família. O comunicado ainda ressaltava uma informação importante, a de que, originalmente, constava no Programa de Aceleração do Crescimento de Manguinhos a construção de três Clínicas da Família, sendo que até aquele momento apenas a Clínica Victor Valla havia sido organizada no espaço da UPA Manguinhos. Manguinhos não havia recebido o que necessitava e merecia por direito.

Nas semanas posteriores a essa notícia, que afetaria a vida de muitas pessoas em Manguinhos, uma sequência de ações políticas comunitárias foram realizadas buscando encontrar uma solução para o problema. Moradores de Manguinhos fizeram um abaixo assinado solicitando a construção de mais uma Clínica Municipal de Saúde em Manguinhos. No final do ano de 2021, esse abaixo assinado foi entregue na Prefeitura e na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. A partir dessa luta de moradores de Manguinhos, foi incluído no orçamento do município do Rio, para 2022 um recurso para ser construída a Clínica Municipal de Saúde que falta em Manguinhos. O ano está acabando e a clínica nem começou a ser construída. O aniversário do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria trouxe de volta esse importante assunto. Ao completar, no dia 27 de outubro, 55 anos de existência, a unidade pediu que os seus usuários e trabalhadores deixassem mensagens e perguntas para comemorar o seu aniversário. Destacamos nessa edição a fala de uma moradora, usuária e liderança comunitária, que não busca desmerecer essa data tão importante, mas que resgata um problema exposto há um ano e que ainda não foi resolvido.

Cadê a nossa clínica?

Zeulaci Távora Chaves, representante dos idosos no Conselho Gestor Intersetorial de Manguinhos, enfatiza o quanto seria importante uma nova clínica:

“Sou usuária aqui do Posto de Saúde, o Germano Sinval Farias, há quatro anos. O atendimento pra mim é excelente. E por esse aniversário eu quero pedir a todos o seguinte: primeiro como cidadão a gente tem que reivindicar os nossos direitos. No mandato anterior do Eduardo Paes ele nos prometeu uma clínica nova aqui em Manguinhos, tirou foto com faixa e tudo. Isso não foi feito, então nós temos que exigir que o que foi prometido seja feito. Esse é um dos motivos que a gente quer a clínica fora da Fiocruz. Não que a gente queira perder o direito ao Centro de Saúde, muito pelo contrário, a Clínica da Família saindo e tendo o lugar dela próprio, o posto de saúde pode ser equipado com aparelhos onde a gente não precise sair aqui de Manguinhos pra fazer um exame em Realengo, na cidade, tantos lugares que botam a gente pra ir. Às vezes a gente é impossibilitado de ir por falta de dinheiro de passagem, entre outras coisas, às vezes porque a pessoa não tem idade pra ir pra tão longe, às vezes a pessoa não tem um acompanhante, várias outras coisas. Então esse aniversário que seja um aniversário onde a gente possa se unir, conversar, dialogar, porque eu acho que todo mundo vai sair ganhando. Tanto o pessoal do posto, quanto o pessoal da clínica, e principalmente o usuário, que eu acho que tem que estar em primeiro lugar.”

Para além do pedido de construção da Clínica Municipal de Saúde, a Zeulaci lembra que toda mudança positiva em Manguinhos só será alcançada com participação e democracia. E, por isso, cobra que os conselhos de saúde das unidades de saúde sejam retomados:

“Também quero deixar claro à Unidade que nós precisamos ter de volta o nosso Conselho. Para que a gente usuário possa estar junto de vocês dialogando para a melhoria do nosso atendimento. O Conselho está prescrito no SUS e a nossa unidade não tem realizado esse Conselho. Então deixo também aqui esse meu pedido. Pra que toda população possa também fazer parte.”

E você, acredita também que o enfrentamento dos problemas dos serviços públicos de Manguinhos passa pela participação nos conselhos e pelo avanço da democracia na gestão desses espaços? Envie sua resposta pra gente em nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 61 – 20 DE OUTUBRO DE 20

Centro de Saúde Escola da Fiocruz faz 55 anos

Nessa edição, O Manguinho conversou com três trabalhadoras do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF) e se propôs a conhecer um pouco mais de sua história. Localizado em Manguinhos, no campus da Fiocruz, essa unidade de saúde faz 55 anos no próximo dia 27 de outubro. Conversando e pesquisando a gente entendeu que a história do Centro de Saúde Escola está ligada à Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, a ENSP.

No caso do Brasil, é por volta da década de 1920 que a proposta da fundação de uma escola de Saúde Pública aparece pela primeira vez. Na época, inspirada em modelos de outros países, havia duas opções a seguir: a primeira mais voltada a uma abordagem técnica, e outra, mais social e ambiental. A ENSP desde seu início, em 1954, orienta-se pelo segundo modelo, ou seja, entre seus alunos e professores, prevalece a ideia de que o enfrentamento dos problemas de saúde vai além de combater as doenças geradas. A ENSP, segundo sua missão, “forma profissionais, gera e compartilha conhecimentos e práticas no sentido de promover o direito à saúde e a melhoria das condições de vida da população.” O Centro de Saúde Escola, sendo parte constituinte da ENSP, contribui para que essa missão seja alcançada ao ser um campo de prática e pesquisa.

História do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria

Quem começa a contar essa história é a médica Celina Borga:

“O nascimento do Centro de Saúde não pode ser dissociado do nascimento e do surgimento da própria Escola Nacional de Saúde Pública. A ENSP surge em 1954 e 13 anos depois nós temos a inauguração do Centro de Saúde, que era na época denominado uma Unidade de Treinamento, isso porque no primeiro momento era entendido como um espaço de prática para os alunos que a ENSP formava em seus diversos cursos. Isso perdurou um tempo, até que o Centro de Saúde pudesse ele próprio determinar e propor suas próprias ações. Isso sempre foi guiado por um reconhecimento de que lugar é esse que nós estamos agindo e trabalhando. Quais as necessidades que esse lugar apontava e aponta pra nós até hoje? Como fazer o aluno formado pela ENSP entender essa realidade e reconhecer essa realidade? Como durante seu próprio trabalho de curso fazer uma proposta de ação produtiva para aqueles problemas que foram reconhecidos? Foi esse o primeiro momento, foi essa a primeira razão. Mas de todo modo, hoje, depois de 55 anos de existência, que a gente está comemorando agora em 2022, o Centro de Saúde tem claro a extensão do seu papel e executa esse papel num grande tripé: o ensino, a pesquisa e a assistência – que a gente denomina de forma ampla de cuidado. Não só assistência à saúde, à doença e ao enfermo, mas o cuidado de uma forma mais ampla, mais generosa, mais compreensiva de todas as outras razões que não estão no corpo físico do indivíduo, mas que estão no sofrimento mental, psíquico, nas enormes, frequentes e permanentes vulnerabilidades que as pessoas apresentam. Tanto do ponto de vista individual, mas do ponto de vista coletivo, da comunidade. É essa a principal motivação pra comemoração dos 55 anos do Centro de Saúde agora no dia 27 de outubro.”

Um pouco mais de história

A assistente social Idenalva S. Lima enfatiza o quanto é gratificante atender a população de Manguinhos:

“Meu nome é Idenalva e estou no Centro de Saúde há 43 anos, desde 1979. Ao chegar eu soube que o Centro de Saúde foi criado para atender a demanda de alunos aqui da ENSP de Saúde Pública. Para ser um campo de práticas para esses alunos. Mas na minha percepção o Centro de Saúde é mais do que isso, sabe? Foi criado para colher mesmo essa população de forma carinhosa, respeitosa. Eu sinto isso nesses longos anos, tanto da população que nós atendemos quanto aos profissionais daqui. É muito gratificante trabalhar aqui.”

A gente conversou também com a Elisangela Soares, de 54 anos, que mora no Mandela em Manguinhos:

“A importância do Centro de Saúde para mim vem de muito tempo. Cuidava da minha mãe, do meu pai, cuidou de mim nas duas gravidezes que eu tive. E hoje em dia eu posso falar: cuidou tanto que hoje eu presto serviço dentro da Fiocruz há mais de 20 anos.”

E você morador ou trabalhador dos serviços públicos em Manguinhos: conhece ou é usuário do Centro de Saúde Escola? Que relação você tem com essa história? Entre em nosso grupo de WhatsApp para responder.

Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria

O MANGUINHO 53 – 25 DE AGOSTO DE 2022

Saúde e escolaridade em Manguinhos

Educação e os determinantes sociais da saúde

Na semana passada, trouxemos dados sobre a vida e a saúde em Manguinhos. As informações sobre escolaridade foram as que mais provocaram o diálogo. Afinal de contas, o que a escolaridade tem a ver com saúde? Destacamos aqui algumas vozes de mulheres que fazem parte do grupo de WhatsApp que constrói O Manguinho e outras que chegaram porque o diálogo se espalhou em diversos grupos e também em conversas entre amigas.

Maria de Fátima Lourenço, a Dona Fátima, de 66 anos

Escolaridade e saúde andam juntas porque a escolaridade é conhecimento e conhecimento é saúde. Saúde é vida e vida com conhecimento você consegue tudo. Consegue alimentar melhor seus filhos, consegue botar o filho numa boa escola, consegue fazer com que seu filho se consulte no início de uma doença, consegue entender que seu filho não possa fazer certas coisas para se contaminar com a doença. Aprende a proteger o meio ambiente. Com conhecimento tudo fica mais fácil. A vida e a saúde fica mais bonita.”

Regina Barros, 56 anos, moradora da Vila Turismo em Manguinhos

“Na minha opinião escolaridade e saúde tem tudo a ver porque ter escolaridade é muito importante para todos. Facilita o entendimento de diversas questões que afetam a nossa vida, entre elas a questão da Saúde Pública. Por ter um bom estudo podemos ter uma boa interpretação de texto para podermos entender muitas situações que são dadas em explicações e discursos usando palavras que os que têm menos estudos não conseguem entender. Aprender para mim é saúde. Então vamos zelar pela nossa saúde e continuar a ter uma boa escolaridade.”

Maria Helena Souza, 68 anos, moradora do Amorin, em Manguinhos, disse o seguinte:

“A escolaridade para mim está sendo o prato principal da minha vida junto com a saúde. (…) O último seminário que teve foi da saúde mental foram faladas tantas coisas, tantas situações. Umas eu tinha noção por ter vivido, experimentado, que a minha ida e vinda do trabalho pegando o ônibus cheio. Eu estava super, hiper estressada? Não. Estava com raiva? Não. Era minha saúde mental que já estava super afetada com esse ir e vir de ônibus cheio, chegando atrasada, chegando em casa dava mal para fazer alguma coisa e ir dormir. Se você não tiver saúde você não consegue estudar, se você não tem estudo você não consegue entender os sintomas da nossa saúde de hoje em dia.”

Maria da Graça Turso da Silva, a Dona Graça, 70 anos de idade e moradora de Manguinhos:

“Estava aqui pensando sobre a escolaridade e a saúde. Escolaridade, saúde… Porque fica difícil, porque você vê, médicos. Tem médicos que tem a escolaridade, formação… e são grossos, tratam a gente mal, não olham para gente, olha só para o computador. Você vê advogados, tem escolaridade, formação também e não estava nem aí para o pobre, fazem mais as coisas é para ganhar dinheiro… Então, eu acho que é em tudo. Eu não consigo ver. Não estou conseguindo não, ver a importância de um com o outro: da escolaridade com a saúde. Porque não adianta a pessoa ter a escolaridade, entender das coisas e não poder tratar. Não ter dinheiro para comprar remédio. Então, eu não estou conseguindo absorver não, não estou mesmo. Está difícil para mim isso aí. Eu tenho que estudar mais para poder… Porque eu fico vendo. As pessoas que estudaram pouco não querem ser melhor do que ninguém. As que tem mais a escolaridade, mais formação, querem saber mais que os outros, pisar nos outros. Não são todos, claro, eu não estou falando que todo mundo é assim. Claro, né? Eu não estou falando que todo mundo é assim, mas tem um povinho que é assim. O que adianta ter estudo, ter educação ou ter estudo e não ter educação. Tem pessoas que não sabe nem ler e nem escrever mas se comunicam melhor com as outras. Não estou sabendo fazer essa ligação de escolaridade com saúde, não estou não. Me desculpe mas na próxima se Deus quiser.”

Esses depoimentos ajudam a pensar sobre a importância da educação para a promoção da saúde. Mas precisaremos dialogar sobre os questionamentos feitos por Dona Graça. Afinal, a escolaridade sozinha garante a educação e a saúde para todos ou será que para atingir plenamente esse objetivo além de aumentar a escolaridade será necessário também modificar a forma como a sociedade está estruturada? Venha participar desse saudável e educativo diálogo em nosso grupo de WhatsApp.