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O MANGUINHO 91 – 13 DE JULHO DE 2023

Como continuar a luta?

José Beserra, Jorge Aroldo e Zeulaci durante entrega de abaixo-assinado na prefeitura.

O que ensina a História? Essa foi a pergunta que deu título ao nosso número da semana passada. Ela volta aqui para nos inspirar no resgate de notícias muito importantes que já passaram por esse informativo.

No número 73, O Manguinho falou sobre a reivindicação de moradores de Manguinhos para o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) que os atende tenha a sua sede neste território e não no Complexo do Alemão, como é atualmente. Na semana seguinte, O Manguinho noticiou que o Movimento das Comunidades Populares assumiu a tarefa de encaminhar essa demanda por meio de um abaixo-assinado.

Um CRAS para Manguinhos

O Manguinho dessa semana traz a voz do José Beserra de Araújo, morador de Manguinhos e militante do Movimento das Comunidades Populares. Ele dá notícias sobre a entrega desse abaixo-assinado.

“Informação aos moradores de Manguinhos. Nós, moradores de Manguinhos junto com o MCP, Movimento das Comunidades Populares, movemos uma abaixo assinado aos moradores de Manguinhos e colhemos 700 assinaturas, com pedido de um CRAS para Manguinhos. Está aprovado pelos moradores de Manguinhos. Conseguimos 700 assinaturas e entregamos este documento a Adilson Pires, secretário de Ação Social há exatamente dois meses. E vamos estar cobrando, ele ficou de dar uma resposta e está fazendo dois meses e não nos deu ainda uma resposta. Vamos cobrar a resposta e passar o resultado para os moradores de Manguinhos. Então é isso aí. Estamos correndo atrás, obrigado a todos, tudo de bom para todos.”

Uma nova Clínica de Saúde Municipal para Manguinhos

sse não foi o único abaixo-assinado que ainda não obteve resposta da Prefeitura do Rio de Janeiro. O Manguinho de número 12, em outubro de 2021, divulgou uma notícia publicada no site da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Era um comunicado sobre o fim do contrato da Prefeitura do Rio com a Fiocruz e sobre o prazo para a realocação das sete equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF), que atuam no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. A partir desta notícia alguns moradores de Manguinhos passaram um abaixo-assinado cobrando da prefeitura a construção da clínica que esse órgão está devendo para Manguinhos desde 2010. Esse abaixo-assinado foi entregue pelo Conselho Gestor Intersetorial de Manguinhos (CGI) para a Prefeitura e para a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Em 17 de novembro O Manguinho trouxe a notícia de que dois vereadores fizeram emendas parlamentares para garantir recursos no orçamento da Prefeitura para iniciar a construção desta clínica.

A construção da clínica não aconteceu e a história da luta continua. Em 9 de maio de 2023 quando o Movimento das Comunidades Populares fez a entrega do abaixo assinado sobre o CRAS, foi entregue também uma carta pedindo apoio para a luta dos moradores de Manguinhos em relação à construção da Clínica. Sobre isso é que nos fala aqui o morador de Manguinhos Jorge Aroldo de Oliveira:

“Prezados companheiros da minha comunidade de Manguinhos, vim aqui comunicar a todos que eu levei lá na reunião com Adilson Pires a carta [sobre] a Clínica da Família que nós precisamos fora da Fiocruz. Eu entreguei a ele, tive uma boa conversa com ele. E ele ficou de ter uma reunião com o prefeito e com o secretário e me dar uma posição. Estou comunicando que ainda não chegou em minhas mãos uma posição, mas assim que chegar, vou procurar uma data para sentar e conversar com ele. Ou com o prefeito ou com o secretário, e agilizar essa prestação que já está em dívida com a gente há um bom tempo e nada foi resolvido. Certo, comunidade? Assim que tiver uma nova posição eu entrarei em contato com o nosso jornalzinho para passar para todos da minha comunidade. Muito obrigado a todos. Tenham calma que vai ser solucionado o problema.”

A luta continua

Voltando ao tema dos dois últimos números do O Manguinho propomos o diálogo sobre a seguinte questão: Essas lutas sobre as quais o Sr. Beserra e o Jorge trouxeram aqui notícias, teriam mais chance de dar certo se fossem fortalecidas por um Conselho Gestor de Centro de Saúde Escola de uma Escola Nacional de Saúde Pública? Por quê? Entre em nosso grupo de whatsapp e vamos conversar sobre isso.

O MANGUINHO 90 – 06 DE JULHO DE 2023

O que ensina a história?

Reunião do Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. Ano de 2014.

O Manguinho desta semana dá continuidade ao tema do último número, que pediu aos membros do nosso grupo de WhatsApp que contassem as suas histórias de participação no Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. Ao fazer isso, O Manguinho chama atenção para este importante espaço de gestão participativa, que reunia trabalhadores, representantes dos usuários e moradores de Manguinhos para decidir os rumos da instituição.

Em uma pesquisa realizada em 2004, que buscava avaliar se o Centro de Saúde Escola era uma instituição promotora de saúde, alguns moradores e usuários reconheceram o valor do Conselho Gestor. Lembraram, por exemplo, de como foi importante a participação neste conselho para conseguirem um geriatra para o Centro de Saúde Escola, ou como a opinião deles foi decisiva para a permanência de um dentista.

Democracia e saúde

A Monique Cruz, participou do Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola em 2013, representando os moradores de Manguinhos. Ela destaca muita coisa que aprendeu com essa experiência:

“Meu nome é Monique Cruz. Hoje eu sou Assistente Social, membra do Fórum Social de Manguinhos já há alguns anos. Sou cria da Favelinha. Eu participei… se eu não me engano, das primeiras eleições do Conselho Gestor. Fui eleita suplente. Essa história começa quando a gente é mobilizado no território para esse momento de uma política de participação em relação à política de saúde no território, que é muito importante. Eu participei como suplente de algumas reuniões, foram experiências muito ricas para mim, me ajudaram a compreender muitas coisas em relação à participação democrática, a importância da participação social efetiva da população em relação à gestão das políticas públicas, especialmente a de saúde. Eu pude compartilhar o espaço com muitas mulheres incríveis. Tanto as mulheres das favelas de Manguinhos e do entorno, quanto das profissionais mesmo que ocuparam esses espaços, [como] agentes de saúde, profissionais que vinham representando outros órgãos para a gestão da saúde. Foi uma experiência muito rica, embora tenha sido também cheia de contradições e tensões, mas que também fazem parte da disputa por esse espaço. Sem dúvida quando eu participei eu era jovem, uma jovem militante com muitas questões e ainda compreendendo as coisas. Mas eu diria que esse espaço foi de fundamental importância tanto para transformação de algumas questões importantes na política de saúde no território, quanto para a garantia do nosso direito, enquanto moradores e moradores, de uma participação efetiva na gestão da política. Sempre que eu ouço a Darcília Alves eu penso que ninguém melhor que nós para falar sobre as lacunas, sobre a necessidade de melhorias, sobre quem são os usuários e usuárias dos serviços e quais são as reais necessidades que a política precisa dar conta.”

Já a moradora de Manguinhos e professora, Queila Santos, respondeu a pergunta final do último O Manguinho sobre os benefícios que poderiam ser conquistados com a retomada do Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola:

“Olá, meu nome é Queila Santos. Sou professora de educação física. Há 5 anos trabalho na escola judaica Eliezer Max. Também trabalho com crianças em situações vulneráveis na comunidade de Manguinhos. Na minha opinião os benefícios que poderiam ser conquistados com essa retomada do Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, acredito que seria possível colocar atendimento especializado principalmente para crianças com doenças cognitivas. Trabalho em realidades completamente diferentes. Com o diagnóstico precoce e o acompanhamento com profissionais especializados, as crianças e as pessoas se desenvolveriam de maneira eficaz.”

Monique aprendeu que a participação dos moradores contribuem para que o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria atenda de forma mais efetiva as reais necessidades da população. Nesse sentido, a demanda trazida pela Queila é um excelente exemplo. Ela fala de um problema de saúde pública muito sério, que para ser resolvido é necessário realizar ações combinadas nos campos da pesquisa, da produção de tecnologias em saúde, de ações educativas e de gestão participativa. Assim, o aprendizado da Monique e a demanda da Queila contribuem para fortalecer essa unidade de saúde na busca do seu objetivo de promover a saúde a partir do desenvolvimento do ensino e da pesquisa.” E você, o que aprendeu com essa história? Entre em nosso grupo de WhatsApp e responda essa pergunta.

O MANGUINHO 77 – 30 DE MARÇO DE 2023

Tuberculose em Manguinhos

A Agente Comunitária de Saúde Suzane Prado.

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível causada por uma bactéria que afeta principalmente os pulmões, mas pode atingir outros órgãos do corpo. É um grave problema de saúde pública que está entre as doenças que mais matam no mundo. Embora seja possível de ser prevenida, tratada e mesmo curada, o fato é que a tuberculose atinge principalmente as populações que vivem em condições de vida insalubres geradas pelas desigualdades sociais. São populações que sofrem pela falta de segurança alimentar e nutricional e vivem em ambientes e habitações com grande aglomeração de pessoas e pouca circulação de ar. Outro agravante são as condições de trabalho e a falta de acesso aos serviços de saúde.

O Rio de Janeiro é o segundo estado com a maior taxa de incidência da doença no Brasil. O Estado fluminense também apresenta um alta taxa de óbitos por causa da doença. A resistência da bactéria aos medicamentos tem aumentado significativamente tornando o tratamento mais difícil e mais longo. Isso muitas vezes acontece por conta da interrupção e abandono do tratamento.

O papel dos ACS

Os agentes comunitários de saúde têm um papel muito importante nas práticas de saúde com pessoas em tratamento de tuberculose que vivem em favelas. Devido às condições sociais e ambientais destes territórios há um número elevado de casos da doença.

A Agente Comunitária de Saúde, Suzane Prado, atende diversos moradores na favela de Manguinhos, em que administra o Tratamento Diretamente Observado (TDO), levando a medicação de segunda a sexta-feira até suas casas como principal ação de apoio e monitoramento aos pacientes em tratamento da tuberculose.

“Meu nome é Suzane Prado, sou agente comunitária há 18 anos. O desafio que eu acho que é mais persistente hoje é a aderência do tratamento. No início os sintomas não ficam tão constante e tende o paciente a largar o tratamento por esse motivo.”

Como se cuidar?

O tratamento da tuberculose é disponibilizado apenas no Sistema Único de Saúde (SUS) de forma totalmente gratuita. A vacina BCG é obrigatória para menores de um ano. Ela protege as crianças contra as formas mais graves da doença. A melhor forma de prevenir a transmissão da doença é fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento que, com 15 dias após iniciado, a pessoa já não transmite mais a doença. E deve ser feito por um período mínimo de 6 meses, diariamente e sem nenhuma interrupção.

Gabriele Alves da Silva, moradora de Manguinhos, ficou doente, procurou o serviço de saúde e foi acompanhada durante todo o tratamento.

“Oi, meu nome é Gabriele Alves da Silva e tenho 23 anos. Fiz o tratamento de tuberculoso até pouco tempo. Tratei durante 7 meses e uma semana. Eu abandonei durante um tempo [o tratamento], mas graças a Deus e a minha agente de saúde Susi eu melhorei. Eu consegui finalizar o tratamento. Hoje eu tô bem, não dependo mais de remédio. Tive dificuldade no começo, por conta do medicamento que eu tomava, porque eles são fortes sim, mas depois no final você vê que deu  certo e não precisa de mais nada. Tomei, aí deu dor no estômago, tomei outros remédios para o estômago, mas consegui tomar direitinho e finalizar o tratamento.”

Políticas pública já!

São necessárias políticas públicas que combatam as desigualdades sociais e que melhorem as condições de vida e de saúde da população mais atingida pela tuberculose. Para isso, são necessários: investimentos políticos, técnicos e financeiros em pesquisas, nos serviços públicos de educação, assistência social e saúde. Principalmente na atenção básica e saúde mental. Uma combinação de ações que garantam acesso à renda, educação, boa nutrição e boa moradia para as populações que mais sofrem com a tuberculose. Essas pessoas que têm nome, história e direitos precisam ter a sua voz ouvida por quem está no governo no país.

Que tal você trazer para esse nosso grupo de WhatsApp Vozes de Manguinhos comentando o conteúdo desse jornal? Certamente isso ampliaria as de superação do problema da tuberculose em Manguinhos.

O MANGUINHO 65 – 24 DE NOVEMBRO DE 2022

Uma nova onda de Covid-19

Em nosso grupo de WhatsApp uma moradora pediu que fizéssemos uma nova edição sobre o aumento de casos de Covid-19 nas últimas semanas. Os trabalhadores que atuam do Centro de Saúde, o postinho da Fiocruz, também estavam preocupados com essa nova onda da pandemia. Eles capricharam nas informações sobre o que está acontecendo nesse território em relação a essa doença:

Olá, eu me chamo Priscila Rosa e trabalho no Núcleo de Vigilância e Saúde do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da Fiocruz. Hoje é dia 18 de novembro de 2022 e venho trazer algumas recados e informações pra vocês do nosso Núcleo de Vigilância. Como vocês já devem ter ouvido falar estamos vivendo uma nova onda da pandemia de Covid-19. O motivo dessa nova onda foi devido ao surgimento de uma nova subvariante da variante Ômicron, do vírus da Covid-19, chamada Ômicron BQ1. Essa nova subvariante já encontrada em outros países foi identificada pela Fiocruz no Rio de Janeiro há cerca de duas semanas. Aqui em Manguinhos já dá pra perceber os efeitos dessa nova onda. O número de atendimentos de pessoas com sintomas respiratórios ou procurando testes de Covid passou de cerca de 20 para mais de 100 pessoas por dia. O número de moradores de Manguinhos notificados como casos suspeitos de Covid-19 dobrou na semana passada em relação ao anterior. Passando de 72 para 142. Enquanto a proporção de testes positivos passou de 10% para cerca de 30%.

Agora vamos tentar responder algumas dúvidas mais frequentes:

Essa variante é mais transmissível? Parece que sim. Porque ela rapidamente se tornou dominante nos países onde ela foi identificada substituindo as demais.

Essa subvariante escapa da imunidade? Em parte sim, essa variante tem mutações que ajudam a escapar dos anticorpos que nós produzimos depois da vacina ou depois de ter Covid. Então ter sido vacinado ou ter pego Covid não impede que você tenha Covid de novo. Ainda assim as vacinas contra a Covid continuam oferecendo uma forte proteção contra a doença grave e morte.

Essa subvariante causa doenças mais graves que as demais? Não, essa subvariante não causa doença mais grave que as anteriores, mas se houver grande aumento de casos as internações e mortes por Covid tendem a aumentar também.

E se eu achar que estou com Covid? Se você tiver sintomas de gripe, ou resfriado, como dor de garganta, nariz entupido ou escorrendo, tosse, espirros, ou febre, use máscaras em todos os locais. Procure a unidade mais próxima para fazer o teste e evite o contato com outras pessoas por pelo menos sete dias desde o início da doença. E se após esse período você não tiver melhorando volte à unidade de saúde para ser reavaliado.

O que é preciso fazer para evitar ter Covid? Para começar use máscara em locais fechados e no transporte público e coloque a vacinação em dia. Essas duas medidas reduzem seu risco de pegar Covid-19 e de ter doença grave. Também é importante evitar aglomerações, lavar as mãos e usar álcool em gel com frequência e evitar passar as mãos no rosto quando elas não estiverem limpas. Mas nossa maior defesa contra a doença grave da Covid continua sendo a vacina. Devemos tomar todas as doses recomendáveis e ajudar parentes e amigos a fazerem o mesmo.

Nesse momento todos os adultos com mais de 18 anos já poderiam ter 4 doses de vacina. Quem ainda não tem deve completar seu esquema. São duas doses iniciais, mais duas doses de reforço. Com intervalo de quatro meses entre essas últimas doses. Para os adultos com comorbidades e idosos já é recomendado uma terceira dose de reforço dez meses depois da segunda. Crianças a partir de 3 anos e adolescentes também devem ser vacinados. E agora começou também a vacinação para crianças a partir dos seis meses de idade que tenham alguma comorbidade. Todos os adolescentes também devem tomar uma dose de reforço. Se você tiver dúvida vá à unidade de Saúde com a caderneta de vacinação para receber as orientações mais adequadas para o seu caso. Esperamos ter esclarecidos suas dúvidas, se cuide e obrigada.

E agora que você já tem muito mais informações sobre o aumento dos casos de Covid-19 e o surgimento desse nova subvariante, não dê bobeira! Se cuide e ajude a cuidar dos outros espalhando essas informações. Quer fazer mais perguntas e comentar sobre esse tema? Entre em nosso grupo de WhatsApp para participar dessa conversa.

O MANGUINHO 57 – 22 DE SETEMBRO DE 2022

Audiovisual nas escolas

Todos nós que passamos por uma escola lembramos das aulas e dos exercícios de interpretação de texto. Interpretar um texto é mais do que saber o que está escrito. Interpretar significa compreender o sentido do texto que está sendo lido, ou seja, pensar e refletir criticamente a partir da leitura. E, desse modo, criar uma opinião própria. A gente não fez essa pesquisa, mas podemos apostar que muitos educadores das unidades escolares de Manguinhos apontariam que um grande desafio que enfrentam em sala de aula está ligado à dificuldade dos alunos com o exercício de interpretação.
A gente está fazendo referência até aqui ao texto escrito, mas você sabia que as imagens também podem ser interpretadas? Você já parou pra pensar que uma fotografia pode estar dizendo mais coisas do que estamos vendo? E que diferentes pessoas podem ler uma fotografia de diferentes formas? Que imagens estão historicamente ligadas às favelas? Como interpretá-las e criar outras novas de forma crítica?

O audiovisual nas escolas

Na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, que fica em Manguinhos, na Fiocruz, existe uma disciplina ofertada aos alunos que se dedica exclusivamente à produção audiovisual. Para o professor-pesquisador dessa unidade escolar, Gregório Galvão de Albuquerque, a produção de filmes e vídeos no espaço escolar possibilita que os alunos expressem de forma crítica a sua própria realidade.

“Eu vejo o audiovisual e a produção estudantil dessa forma: os alunos falam sobre bullying, sobre sexualidade, sobre o cotidiano escolar porque vivem isso. Então, ao mesmo tempo que eles estão produzindo sobre isso eles estão colocando em questão e produzindo conhecimentos sobre essas coisas que atingem eles no cotidiano escolar e particular deles. Eu acho extremamente interessante a produção audiovisual. A gente tem uma questão de estudo do que é a imagem, através de séries, de cineclubes, de filmes, mas ao mesmo tempo é muito importante a produção do estudante, a produção de vídeos pelos estudantes.”

Identidades

Muitos exemplos dessa produção estudantil da Escola Politécnica podem ser encontrados no canal do youtube da escola. Destacamos aqui o documentário feito pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos, em 2013, intitulado Identidades. Nesse filme podemos assistir diferentes relatos dos jovens e adultos que frequentavam o EJA e falaram sobre o lugar onde nasceram, dos estudos, da infância e de seus desejos e sonhos. Selecionamos aqui dois depoimentos. Quando perguntado sobre o lugar que mora, um jovem aluno respondeu:

“Eu gosto, é o lugar onde eu nasci e espero continuar por aqui, entendeu? Eu já morei em outro lugar mas não consegui viver lá não, preferi voltar pra cá. A melhor coisa que tem são as pessoas que foram nascidas e criadas comigo, meus vizinhos que me respeitam muito. Dependendo das circunstâncias e da situação eu sei que eu posso contar com muitos deles que estão próximos de mim. Não só na ocasião de olhar a minha filha, mas se eu precisar de um dinheiro ou de um conselho, estão sempre de pé ali pra me atender, entendeu? E muitas coisas que eu nem sei explicar de bom que tem ali e se gante falar entre nós vamos até ouvir, mas lá fora nêgo vai querer dar risada da nossa pessoa.”

Uma outra aluna falou das difiuldades que enfrentava para estudar na infância:

“Nasci no interior, não tinha escola, tinha maior vontade estudar, muita sede de estudar, gostava de estudar, mas não tive oportunidade, porque trabalhava na roça. Eu queria estudar, mas às vezes eu chegava da roça às 10h, mas 11h eu tinha que estar na escola, uma hora da tarde eu voltava, duas horas da tarde eu tinha que estar no roçado trabalhando porque meu pai faleceu quando eu era pequena e minha mãe ficou com dois filhos pra criar e a gente teve que se virar.”

O que fazer?

Infelizmente, nem todas as unidades escolares de Manguinhos possuem uma estrutura física e equipamentos para a produção de filmes e documentários, e nem possuem professores dedicados a essa finalidade. A escola pública do século XXI ainda é a mesma de décadas atrás e ainda assim muito precarizada. A oferta de uma educação visual que atinja todos soa como um sonho distante.
Diante desses desafios, o que fazer pra mudar essa realidade por meio da cooperação entre as unidades escolares e de saúde de Manguinhos?

O MANGUINHO 53 – 25 DE AGOSTO DE 2022

Saúde e escolaridade em Manguinhos

Educação e os determinantes sociais da saúde

Na semana passada, trouxemos dados sobre a vida e a saúde em Manguinhos. As informações sobre escolaridade foram as que mais provocaram o diálogo. Afinal de contas, o que a escolaridade tem a ver com saúde? Destacamos aqui algumas vozes de mulheres que fazem parte do grupo de WhatsApp que constrói O Manguinho e outras que chegaram porque o diálogo se espalhou em diversos grupos e também em conversas entre amigas.

Maria de Fátima Lourenço, a Dona Fátima, de 66 anos

Escolaridade e saúde andam juntas porque a escolaridade é conhecimento e conhecimento é saúde. Saúde é vida e vida com conhecimento você consegue tudo. Consegue alimentar melhor seus filhos, consegue botar o filho numa boa escola, consegue fazer com que seu filho se consulte no início de uma doença, consegue entender que seu filho não possa fazer certas coisas para se contaminar com a doença. Aprende a proteger o meio ambiente. Com conhecimento tudo fica mais fácil. A vida e a saúde fica mais bonita.”

Regina Barros, 56 anos, moradora da Vila Turismo em Manguinhos

“Na minha opinião escolaridade e saúde tem tudo a ver porque ter escolaridade é muito importante para todos. Facilita o entendimento de diversas questões que afetam a nossa vida, entre elas a questão da Saúde Pública. Por ter um bom estudo podemos ter uma boa interpretação de texto para podermos entender muitas situações que são dadas em explicações e discursos usando palavras que os que têm menos estudos não conseguem entender. Aprender para mim é saúde. Então vamos zelar pela nossa saúde e continuar a ter uma boa escolaridade.”

Maria Helena Souza, 68 anos, moradora do Amorin, em Manguinhos, disse o seguinte:

“A escolaridade para mim está sendo o prato principal da minha vida junto com a saúde. (…) O último seminário que teve foi da saúde mental foram faladas tantas coisas, tantas situações. Umas eu tinha noção por ter vivido, experimentado, que a minha ida e vinda do trabalho pegando o ônibus cheio. Eu estava super, hiper estressada? Não. Estava com raiva? Não. Era minha saúde mental que já estava super afetada com esse ir e vir de ônibus cheio, chegando atrasada, chegando em casa dava mal para fazer alguma coisa e ir dormir. Se você não tiver saúde você não consegue estudar, se você não tem estudo você não consegue entender os sintomas da nossa saúde de hoje em dia.”

Maria da Graça Turso da Silva, a Dona Graça, 70 anos de idade e moradora de Manguinhos:

“Estava aqui pensando sobre a escolaridade e a saúde. Escolaridade, saúde… Porque fica difícil, porque você vê, médicos. Tem médicos que tem a escolaridade, formação… e são grossos, tratam a gente mal, não olham para gente, olha só para o computador. Você vê advogados, tem escolaridade, formação também e não estava nem aí para o pobre, fazem mais as coisas é para ganhar dinheiro… Então, eu acho que é em tudo. Eu não consigo ver. Não estou conseguindo não, ver a importância de um com o outro: da escolaridade com a saúde. Porque não adianta a pessoa ter a escolaridade, entender das coisas e não poder tratar. Não ter dinheiro para comprar remédio. Então, eu não estou conseguindo absorver não, não estou mesmo. Está difícil para mim isso aí. Eu tenho que estudar mais para poder… Porque eu fico vendo. As pessoas que estudaram pouco não querem ser melhor do que ninguém. As que tem mais a escolaridade, mais formação, querem saber mais que os outros, pisar nos outros. Não são todos, claro, eu não estou falando que todo mundo é assim. Claro, né? Eu não estou falando que todo mundo é assim, mas tem um povinho que é assim. O que adianta ter estudo, ter educação ou ter estudo e não ter educação. Tem pessoas que não sabe nem ler e nem escrever mas se comunicam melhor com as outras. Não estou sabendo fazer essa ligação de escolaridade com saúde, não estou não. Me desculpe mas na próxima se Deus quiser.”

Esses depoimentos ajudam a pensar sobre a importância da educação para a promoção da saúde. Mas precisaremos dialogar sobre os questionamentos feitos por Dona Graça. Afinal, a escolaridade sozinha garante a educação e a saúde para todos ou será que para atingir plenamente esse objetivo além de aumentar a escolaridade será necessário também modificar a forma como a sociedade está estruturada? Venha participar desse saudável e educativo diálogo em nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 52 – 18 DE AGOSTO DE 2022

O que é o placar da saúde?

Placar da Saúde da Clínica da Família

Nessa semana O Manguinho procura responder o que é o placar da saúde e qual a sua importância para a promoção da vida e da saúde em Manguinhos.

O placar da saúde é um mural ou painel que deve ser fixado em local acessível e público. Nele, a Equipe da Saúde da Família apresenta os dados e informações sobre o seu trabalho, permitindo assim a transparência dos serviços prestados e da produção realizada pelas equipes com a população. Desse modo, trabalhadores da saúde, moradores e usuários dos serviços tem acesso periódico à realidade dos atendimentos no território, assim como um diagnóstico situacional do lugar, ou seja, a exposição de indicadores sociais como número de domicílios que possuem abastecimento de água e coleta de lixo, crianças que estão fora da escola e pessoas que não foram alfabetizadas. Em Manguinhos é possível encontrar o placar da saúde em duas unidades de saúde, na Clínica da Família Victor Valla e no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria.

Para a trabalhadora da Escola Nacional de Saúde Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) Maria das Mercês Navarro Vasconcelos, o placar da saúde pode ser uma ferramenta importante para a população ter maiores possibilidades e motivações para lutar pelos seus direitos. A gente perguntou pra ela por que o placar da saúde traz informações sobre o destino do esgoto, analfabetismo e outras informações desse tipo. O que isso tem a ver com saúde?

“Essas informações são extremamente importantes porque não dá para ter saúde com um saneamento básico mal feito. O placar traz informações sobre isso quando fala do lixo, da água, do esgoto. A saúde ela não é simplesmente não estar doente, ela significa você ter condições para não ficar doente, e um saneamento básico bem feito é uma condição fundamental. Mas além disso também o placar traz informações sobre a questão da escolaridade e quando você observa que no território existe uma baixa escolaridade, isso mostra que para esse território está faltando muita coisa. Quando não se tem acesso a esse mínimo significa que está faltando também muitas outras coisas. Está faltando a moradia saudável, está faltando um trabalho que permita uma boa condição de vida, estão faltando muitas outras coisas. Ter acesso a esse placar e conhecer a relação do que acontece na saúde ajuda a população a entender o que falta ali e o que ela precisa se organizar para lutar para conseguir acesso do que que não está conseguindo. Então esse placar pode ajudar muito. Ele pode ser aprimorado. É possível a população participar não só usando o placar, mas também construindo itens que ela acha que deva ter ele ali expresso para poder conseguirmos entender melhor o que está acontecendo naquele lugar.”

Você que frequenta as duas unidades de saúde de Manguinhos aqui citadas já deve ter visto o placar da saúde. Você já ficou alguns minutos para observá-lo com calma? Em quanto tempo as informações contidas no placar são atualizadas? Que outros dados e informações você adicionaria e gostaria de conhecer sobre a saúde de Manguinhos? Os dados do placar de fato para você estão expressando a realidade do território? Unidades Escolares poderiam também adotar a mesma ideia e criarem os seus painéis? Participe do nosso grupo de WhatsApp e responda essas perguntas.

O MANGUINHO 51 – 11 DE AGOSTO DE 2022

Manguinhos tem a voz e a solução

Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde 2022

Mesa de abertura “Saúde e Democracia” na “Conferência Livre, Democrática e Populade Saúde” em São Paulo. No detalhe, Zeulaci e Jorge que participaram presencialmente da Conferência e deram nesse jornal os seus recados.

Na última sexta-feira, conforme anunciamos aqui em nosso último número, aconteceu na cidade de São Paulo a etapa nacional da Conferência Livre, Democrática e Popular da Saúde, que reuniu gestores, trabalhadores da saúde, lideranças sociais e políticas, pesquisadores, sanitaristas e acadêmicos de diversas partes do país. Todas essas pessoas discutiram a atual realidade da saúde brasileira e propuseram ações e políticas para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, o SUS. Entre o lançamento da conferência no dia 7 de abril e o dia 5 de agosto, foram realizadas mais de 120 atividades entre conferências estaduais, setoriais e encontros de movimentos, para discutir as diretrizes da política de saúde no Brasil. Com a participação de moradores e trabalhadores de Manguinhos dois encontros locais foram realizados. Um grupo de Manguinhos formado por moradores, lideranças, conselheiros do CGI e trabalhadores da saúde foram a São Paulo e participaram presencialmente do encontro.

Um conferência da saúde de forma regular e permanente?

A Zeulaci, que é conselheira do Conselho Gestor Intersetorial de Manguinhos (CGI), representando os idosos, diz que foi um privilégio ter participado. A gente perguntou pra ela no grupo de WhatsApp Intersetorial Manguinho se esse tipo de evento deveria ser permanente e regular, ou seja, incluído na agenda anual das ações dos movimentos sociais e do sistema de saúde:

“Eu acho sim que essa Conferência deve ser sempre feita, porque cada vez que for feita, pelo menos eu quero, fazer que minhas amigas e meus amigos, saibam o que é isso e o que a gente pode fazer, o que a nossa presença representa. É uma coisa que eu estou buscando um jeito de fazer.”

Jorge Aroldo, também do CGI, respondendo a mesma pergunta destaca que independentemente das mudanças políticas a luta pelo SUS não pode parar:

“É muito importante, né? A gente não pode ficar só numa. A gente tem que continuar porque a gente não sabe quem vai entrar. A gente não pode parar pela luta Somos SUS. A gente está apenas começando. Foi muito importante, tem que continuar. A luta continua e só interessa a nós a vitória e a melhora do SUS.”

Os desafios de Manguinhos

Grandes desafios foram colocados pela Conferência Livre, Democrática e Popular da Saúde. Entre eles estão o de construir um programa democrático e popular para o SUS, como também “o de recolocar a centralidade do direito à saúde, à vida e um ambiente saudável e equilibrado no debate nacional e internacional.” Como Manguinhos pode fazer parte dessa grande rede e colaborar para que esses desafios sejam enfrentados, problemas superados e resultados positivos sejam alcançados? Em que medida o trabalho de colaboração entre as unidades de saúde, educação e assistência social em Manguinhos fortalecem a luta pela conquista e garantia de direitos básicos?

Manguinhos agora tem a voz e a solução!

Diante de tantos e imensos desafios a gente termina esse número com as palavras da Zeulaci:

“O que eu me propus a fazer é lutar pela minha comunidade, lutar pela terceira idade, mas não é só eu lutar e eles não saberem o que eu estou fazendo. Eu quero que eles participem comigo. Ah, eu tô aborrecida com alguma coisa! Bota a voz no jornalzinho que alguém vai te ouvir, quanto mais pessoas ouvirem mais vão saber que nós estamos vivos, que a gente faz parte da vida. Nós temos o poder, a gente só não sabe como usar ainda. (…) Porém, o Estado, o governo, a militância lá de cima tem que saber que é aqui debaixo que eles tem que aprender a ouvir. A gente não tem que acatar a ordem deles, a gente não tem que fechar com quem que eles acham melhor. Quem sabe o que é melhor pra gente é a gente que vive aqui. Estou falando de Manguinhos porque a gente vive em Manguinhos. (…) Se vocês colocarem a voz, ouvirem a sua voz vocês vão saber que há esperança. Vamos lutar.É isso o que eu acho. É isso o que eu quero. Estou trabalhando para isso. Estou estudando por isso. Por um futuro melhor, para uma comunidade melhor, por dias melhores. Acabou a represssão! Manguinhos agora tem voz e a solução.”

O MANGUINHO 50 – 04 DE AGOSTO DE 2022

O Manguinho conjuga o verbo esperançar

Conferência Livre, Democrática e Popular Fiocruz

Mesa de abertura da Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde ocorrida em 15 de julho de 2022 na ESPJV/Fiocruz.

O Manguinho da semana passada lançou a proposta de refletirmos sobre as possibilidades de construirmos melhores perspectivas de esperança no futuro por meio da colaboração entre as unidades escolares (incluindo as da Fiocruz), unidades de saúde e unidades da assistência social e o Museu da Vida/Fiocruz de Manguinhos.

Entendemos esperança no sentido dado por Paulo Freire na frase:

“Esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!”

O primeiro passo para esse esperançar e para essa colaboração deve ser a construção coletiva de um diagnóstico sobre Manguinhos a partir da voz de seus moradores e dos trabalhadores que atuam nos serviços públicos desse território, principalmente nos campos da Educação, Saúde, Cultura e Assistência Social. O Manguinho desde o seu primeiro número tem buscado contribuir na concretização dessa tarefa. Isso aconteceu especialmente nos números do jornal sobre a III Conferência Livre de Saúde de Manguinhos que aconteceu em julho de 2021. A voz dos moradores na enquete, a partir da qual essa conferência foi organizada, foi divulgada na íntegra no número 5 de O Manguinho. Nesse diagnóstico foi considerada violência qualquer violação de direitos. A reivindicação em destaque foi: “Queremos políticas públicas que tenham o foco no combate às violências estruturais.”

Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde

A continuidade da luta pela conquista dessas políticas públicas é que trouxe nesse julho de 2022 para o grupo de WhatsApp que constrói O Manguinho notícias sobre a participação de moradores e trabalhadores de Manguinhos em três edições da Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde.

Um exemplo dessa participação aconteceu em 15 de julho de 2022 na Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde das Trabalhadoras, Trabalhadores, Estudantes, Usuárias e Usuários da Fiocruz. Destacamos a seguir três propostas feitas nessa conferência e que ao serem articuladas podem ajudar na colaboração proposta em nosso último número. Ajudando desse modo Manguinhos a conjugar o verbo esperançar.

Um chamado à mobilização

A professora-pesquisadora Anamaria Corbo, diretora de uma das escolas públicas de Manguinhos, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/ Fiocruz, falou nessa conferência:

“É um chamado à mobilização de todas e todos que convivem com todos nós da fundação, sejam movimentos sociais, usuários e usuárias para que a gente crie espaços e estratégias de aprofundamento de todas as questões que estão colocadas e que determinam e condicionam a qualidade de vida de nossa população. Então é esse chamado importante que a gente tem que fazer. Que o debate não se encerre aqui. É um debate permanente que tem que acontecer em todos os espaços dentro e fora dessa fundação.”

Trançar outras redes

A professora-pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Jaqueline Jesus, reconhecendo a importância da conferência diz:

“É fundamental esse tipo de Conferência para a gente se encontrar, para a gente se trançar e construir novos tecidos, novas redes.”

Esse trançado tornou-se ainda mais potente para o cultivo do esperançar porque ele se estende para além de Manguinhos. Ele continuou no dia 16 de julho na Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde da Grande Leopoldina (RJ). Lá, Patrícia Evangelista disse:

“Sou moradora de Manguinhos trabalho com articulação e mobilização da comunidade na saúde da família. Ter um espaço como esse da conferência livre para garantir a participação e a democracia é muito importante. Mais do que importante é ter tanto a população como gestores e trabalhadores discutindo e construindo e ampliando esse espaço. Para nós é uma vitória estarmos nessa construção das conferências estaduais, municipais e federais de saúde. Viva o SUS! Viva a participação social!”

Mas a trança cresceu ainda mais na conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde, na etapa do Rio de Janeiro que aconteceu em dia 23 de julho e continuará crescendo na etapa nacional. Como a colaboração entre as unidades escolares (incluindo as da Fiocruz), unidades de saúde e unidades da assistência social e o Museu da Vida/Fiocruz em Manguinhos pode fortalecer e ser fortalecida por uma Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde permanente de forma a facilitar a conjugação do verbo esperançar? Clique aqui para participar.

O MANGUINHO 49 – 28 DE JULHO DE 2022

Que futuro espera Manguinhos?

Escrevendo cartas para as crianças do futuro – Escola Municipal Professora Maria de Cerqueira e Silva.

No dia 12 de julho às 10h da manhã chegou no grupo de WhatsApp do O Manguinho a primeira notícia sobre um tiroteio que matou 8 jovens moradores de Manguinhos. Foi um dia tenso e intenso de mensagens sobre isso. Entre as muitas mensagens de indignação expressadas por várias pessoas no grupo trazemos aqui um trecho do desabafo feito por Isabel Jennerjahn, a partir do qual rolou uma conversa que tem tudo a ver com os objetivos que buscamos alcançar com O Manguinho e com a Rádio Povo. Reproduzimos abaixo parte desse diálogo:

Isabel: “Isso é histórico. O que hoje paga o policial para ir nas favelas matar? O que pagou no passado os capitães do mato para caçar os negros quando eles fugiam das senzalas, dos senhores? O que mata: é o policial, o capitão do mato ou a forma como a sociedade está estruturada? E o mais grave ainda é que tem uma justificativa na imprensa, e que muitas vezes nós que somos de dentro das favelas, negros, nordestinos, oprimidos concordamos com isso. Existem formas e formas de enfrentar. A gente tem que descobrir essa fórmula química de poder enfrentar essa grande indústria da morte que foi instaurada historicamente nas nossas vidas e que a gente sem querer, por medo, aceita. A gente tem que transformar esse medo em coragem e pensar juntos numa forma de mudar isso.”

Renata: “Verdade Bel e não esquecendo que essas pessoas que são executadas deixam aqui mães, familiares doentes na alma, com seu psicológico abalado em depressão, isso também é caso de saúde pública.”

Isabel: “Sim, com certeza! Tem um monte de gente ganhando com as nossas dores! Com os casos emblemáticos nas favelas, com a miséria na África e com as guerras entre os países! Eu já perdi tantas companheiras na luta por direito à vida. As mães de Acari, mães do Caju, mães da Baixada, entre outras!”

Mercês: “Pois é amiga, essas dores vêm desde os navios negreiros que trouxeram para o Brasil mães e filhos separados para sempre. Separados, mas igualmente explorados e descartados quando não são mais “úteis” para os donos do mundo. Exploração e descarte que continuam até hoje.”

Isabel: “E hoje, a favela continua sendo o navio negreiro que continua recebendo os migrantes nordestinos e africanos! O problema que temos que mudar nossas atitudes! Não podemos só pensar no amanhã, temos que ter estratégias nos três pontos. Emergenciais, a médio e longo prazo!”

Zeulaci: ‘Nossa! Acho que sempre tive esse sentimento, da favela ser esse navio.”

Mercês: “Bel, seu desabafo me faz compartilhar aqui uma experiência: No ano de 2009, em um trabalho de colaboração do Museu da Vida com escolas públicas de Manguinhos, um menino de 7 anos de idade, morador do Mandela em Manguinhos aluno da Escola Municipal Professora Maria de Cerqueira e Silva escreveu, em uma carta para crianças do futuro, a seguinte frase:

“Querido amiguinho do futuro espero que você goste de minha cartinha e quero dizer que o futuro de vocês seja melhor que o meu porque o meu não é bom, mas é bem ruim! Quero que vocês cuidem da natureza, do futuro e do meio ambiente e que façam o mundo de vocês um paraíso, bem melhor que o meu e que vocês sejam muito felizes”.

Não lembro o nome desse menino, mas lembro bem de que essa frase dele fez com que a escola decidisse passar o ano seguinte todo realizando um projeto que fosse capaz de trazer para seus alunos a esperança de um futuro melhor. Eles passaram o ano de 2010 inteiro estudando a História da África e da luta do Mandela. No final deste ano em um seminário no Museu da Vida/ Fiocruz a Coordenadora Pedagógica dessa escola (a professora Solange Lacorte) nos contou que na conclusão do projeto os alunos decidiram fazer uma passeata na Leopoldo Bulhões levando cartazes feitos por eles com as suas reivindicações. E ela disse, sem conseguir conter as lágrimas: “Eles pareciam uns mandelinhas”.

A pergunta que deixamos aqui é: Será que poderia ser maior o efeito desse projeto na construção de melhores perspectivas de futuro se ele fosse feito não apenas por uma escola e sim por uma colaboração entre todas as escolas de Manguinhos (incluindo as da Fiocruz), as unidades de saúde, unidades da assistência social e o Museu da Vida? Que tal tentarmos algo assim? Será que O Manguinho e a Rádio Povo podem ajudar nisso? Participe do nosso grupo de WhatsApp.