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O MANGUINHO 48 – 21 DE JULHO DE 2022

Direito ao transporte público de qualidade

Placa transporte público

O Manguinho dessa semana dá continuidade à conversa sobre a qualidade dos serviços dos transportes públicos oferecidos a Manguinhos. Se você não leu o nosso último número vale a pena dar uma olhada, pois lá você encontrará outros relatos sobre o mesmo tema. O que a gente percebeu é que todas as pessoas que participaram desse papo no grupo de WhatsApp Intersetorial Manguinhos relataram experiências negativas no uso do transporte coletivo. Essas dificuldades diárias que esses serviços impõem são causadoras de muita angústia entre passageiros e passageiras. Elas causam doenças e transtornos emocionais.

Os alunos da Educação de Jovem e Adultos que na sua maioria estuda à noite e enfrenta um cansativo dia de trabalho vai para a escola e volta pra casa num ônibus lotado em uma viagem que se arrasta por horas. O Manguinho ao recolher e publicar essas vozes busca de forma permanente e continuada contribuir para fortalecer processos de vigilância popular em relação ao acesso dos moradores de Manguinhos a tudo que essa população tem direito.

Os trens também são ruins

A gente falou no último número muito dos ônibus, mas a Elizangela, moradora de Manguinhos, lembra também que o descaso do transporte coletivo também acontece com os trens. Ela reclama, por exemplo, da Estação do Jacarezinho, que tem uma plataforma muito baixa, além de um vão enorme entre a plataforma e o trem, que torna muito difícil e perigosa a entrada de passageiros. Ela mesma relata que quase já caiu nos trilhos. Idosos e crianças pequenas são os que mais sofrem.

Lutar por um melhor ir e vir do trabalho

A Maria Helena Souza, moradora do Amorim, chama atenção para a importância de linhas de ônibus que ligam a Zona Sul a Manguinhos. Ela fala que essa região da cidade é um local de emprego de muitos moradores de Manguinhos:

“Voltando para as comunidades: no PU (Parque União) tem ônibus. Na Vila do João tem ônibus direto da garagem pra descer pra Copacabana. Aqui nessa área da gente não tem. A gente tem que pegar o que vem direto da Penha ou esses que veem das comunidades vizinhas, que é horrível. Tem uma classe de trabalhadoras enorme em Copacabana, que é o lugar que ainda dá emprego, seja ele qual for, faxineiro, por exemplo. Eu trabalhei como cuidadora um ano e meio. Eu saí de lá por causa do horário, por causa do cansaço. Eu queria estudar, onde eu estou fazendo o pré, aqui da Politécnica, mas eu sinto falta do trabalho, mas só em pensar em pegar essa condução cheia eu prefiro ficar aqui fazendo o que eu posso fazer para sobreviver. Em relação aos ônibus que são legais. No sábado a gente ainda viaja com os ônibus velhos, quebrados, bancos quebrados, aquelas barras de ferro no corredor todas soltas. De tanto o ônibus balançar, de tanto que ele enche, aquelas barras vão se soltando, saindo os parafusos e eles não consertam. Viajei uma vez que o assoalho do ônibus estava todo quebrado, você via o asfalto Avenida Brasil, você via o chão. Quando tinha a chuva aquela água subia por dentro do ônibus igual um barco furado. (…) O que o senhor Jorge falou realmente ele está certo. Os ônibus não são mais lavados. Antigamente a gente reclamava que os homens vinham da garagem molhados, né? Molhava a nossa roupa. Agora não. Eles saem sujos, voltam sujos, e no dia seguinte estão mais sujos ainda. Essa é minha minha fala sobre o ônibus, que não adianta botar um monte de ônibus e não focalizar o lugar. Copacabana para nós que moramos aqui na Zona Norte é primordial. Nós não temos um ônibus pra Copacabana do outro lado da Democrático, só temos aqui. A gente também tem que lutar por um melhor do nosso ir e vir do trabalho.”

Outras pessoas em nosso grupo participaram dessa conversa. O Dhanilo Bernardo, conselheiro do CGI, lembrou da dificuldade que os cadeirantes enfrentam para usar os ônibus. A Isabel Jennerjahn, que é ex-moradora de Manguinhos e atualmente mora fora do país falou da enorme desigualdade que existe entre o serviço de transporte alemão e o brasileiro. Ela relata como um bom serviço público de transporte contribui para uma vida mais saudável aos cidadãos.

Repetimos aqui a pergunta que fizemos na última semana: Que políticas e ações intersetoriais poderiam contribuir para resolver esses problemas que tanto prejudicam a vida dos moradores, estudantes e trabalhadores de Manguinhos? Fale sobre isso em nosso grupo de WhatsApp.