O MANGUINHO 58 – 29 DE SETEMBRO DE 2022
Arte e cultura em Manguinhos

Clique sobre a imagem para acessar o catálogo. Foto: Mulheres do Vento.
O Manguinho dessa semana convida você leitor a participar do lançamento do catálogo “Estratégias culturais em Manguinhos: olhares sobre o cuidado em saúde mental e o protagonismo de moradores de favelas”, organizado por Ana Paula Guljor, Silvia Monnerat, Paul Heritage e Paulo Amarante. O evento será na próxima quarta-feira, às 10h, dia 5 de outubro, na Biblioteca Parque de Manguinhos. O catálogo é resultado do projeto “Estratégias culturais como alternativas de inclusão social de populações vulnerabilizadas no campo das políticas públicas sobre saúde mental: estudo de caso na comunidade de Manguinhos”, e foi desenvolvido em parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação Getúlio Vargas (FGV) e People’s Palace Projects, da Queen Mary University of London (QMUL). O projeto tem como objetivo “compreender experiências socioculturais, interpretando-as como dispositivos privilegiados de cuidado, inclusão social e construção de direitos.”
Um total de 40 iniciativas foram selecionadas no catálogo. Segundo seus organizadores “a participação em projetos de arte e cultura ou em experiências voltadas para profissionalização, trabalho, economia solidária ou a participação social se apresenta como estratégia fundamental para a produção de vida e saúde em comunidade.”
Durante a pesquisa, no início desse ano, três sessões de conversas virtuais ao vivo com representantes dos coletivos e das iniciativas culturais mapeadas foram feitas. Destacamos aqui nessa edição trechos dessas conversas como um convite para que conheçam o catálogo, assistam essas conversas e interajam no território com os coletivos.
Revalorizar experiências
Para Paulo Amarante, que é médico psiquiatra, doutor em Saúde Pública e pesquisador da Fiocruz, as pessoas se desvalorizam porque usam o critério do dominador. Por isso considera importante a revalorização das experiências nas favelas:
“Nosso projeto é o quê? Ver essa questão das experiências culturais, desses projetos, dessa iniciativa, desses coletivos comunitários com outro olhar; que amplia o valor dessas experiências para a comunidade construindo vida, construindo cultura de paz, cultura de solidariedade, [continência] para as pessoas. Essa é a nossa visão de saúde mental. Que está muito reduzida hoje ao oposto de doença mental, ou até sinônimo de doença mental. A pessoa fala: “a minha saúde mental está bem”. Por quê? Por que não têm transtorno? E o sofrimento, ou talvez um transtorno nesse sentido genérico do termo, é natural do humano. Nós precisamos do sofrimento e do transtorno inclusive para mudar, para querer mudar etc.”
Franciele Campos, artista visual, historiadora da arte, moradora de Manguinhos e uma das fundadoras do Coletivo Mulheres do Vento, iniciativa que está presente no catálogo, destaca as dificuldades de reconhecimento das produções e conhecimento produzido nas favelas:
“O que esses projetos trazem pra gente de fato? Porque a gente está aqui dividindo um saber que é muito caro pra gente, a nossa vida. A gente aqui tem uma ideia de produzir um catálogo virtual com fotos e histórias, mas mais que isso é construir também uma rede que não existia. Não é nós, nós nos conhecemos, o que não conhecemos são essas instituições que há muitos anos vem contando a nossa história. Há muitos anos vem sugando, tirando nossas histórias sem trazer o mínimo retorno pra gente. Sem nos ver como pesquisadores, sabedores dessa história, sobreviventes de um sistema altamente racista.”
Valentina Carranza, comunicadora social e também uma das fundadoras do Coletivo Mulheres do Vento, ao responder uma pergunta sobre a sustentabilidade das públicas em Manguinhos disse o seguinte:
“Sobre a questão dos editais, que são magros, esporádicos… eles também geram concorrências entre a gente, não é? (…) Pensar nisso também: políticas públicas com financiamentos reais. Além de dar bolsas, que venham dispostas a escutar. Providenciar recursos, mas confiar, construir com quem já está fazendo. (…) Entender essa complexidade: projetos com estruturas para bancar várias estratégias que já estão rolando e deixar eles fazerem. Sabe?”
E você? O que acha? Atividades culturais e construções coletivas fazem bem para a saúde? As escolas, as unidades de saúde e de assistência social podem contribuir para avançarmos mais nessa caminhada em Manguinhos? Como? Que tal trocar uma ideia sobre isso no nosso grupo de WhatsApp?
