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O MANGUINHO 64 – 10 DE NOVEMBRO DE 2022

Vozes coletivas de Manguinhos

A médica Celina Boga durante cerimônia de aniversário do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. Foto: Virginia Damas Ribeiro.

Há poucos dias, o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) comemorou 55 anos de vida. Consultando o informativo da ENSP, disponível no site dessa escola, você pode ler uma matéria publicada em 04 de novembro desse ano com o título: “O Centro de Saúde Escola celebra 55 anos em prol da saúde da população de Manguinhos”. Fazendo isso você sabe tudo que aconteceu nessa festa de aniversário. Desse registro, destacamos aqui um trecho da carta que a Dra. Celina Boga, médica dessa unidade há 35 anos, leu publicamente na conclusão da cerimônia, com autoridades da ENSP e da Fiocruz.

“A festividade de hoje não estaria completa se não comemorássemos também a “finalização” do processo de discussão do nosso Seminário Interno iniciado em maio deste ano. Alguns meses se passaram desde então. Muitas reuniões, vários grupos de trabalho, construção e análise dos Discursos Coletivos, conclusões intermediárias, consultas, assembleias e consensos. Em uma escala menor repetimos, de certo modo, o ritual que observamos em nossos congressos internos. Processos participativos são assim. E como aprendemos com eles!!!! É importante registrar que a motivação inicial do seminário foi a angústia observada, entre trabalhadores do CSEGSF, frente às restrições orçamentárias que o setor público vivencia e que compromete sua efetividade. Efetividade, no sentido do seu funcionamento normal e da capacidade de produzir um efeito real, positivo e duradouro.”

Vozes coletivas

Destacamos esse conteúdo da carta porque ele nos permite trazer para o nosso O Manguinho dessa semana algo que é fundamental para os objetivos que temos com esse nosso jornalzinho. O objetivo de trazer vozes coletivas de moradores e trabalhadores de Manguinhos que podem ajudar a promover ações e reflexões necessárias para produzir saúde nesse território. A Dra. Celina fala em sua carta sobre discursos coletivos compostos por vozes de trabalhadores do Centro de Saúde.

Sistema

“O que precisa mudar no meu trabalho hoje? São as relações de trabalho precarizadas as quais estou submetida. A sensação é a de “enxugar gelo”. Não é um problema das pessoas. É um problema do sistema onde estamos metidos. Existe uma multiplicidade de fatores que resulta na precarização do trabalho no âmbito do SUS, os empregadores lucram com a superexploração dos profissionais, nos tornamos vulneráveis, e temos nossos direitos sociais ameaçados. No cenário pandêmico, todas essas dimensões foram acentuadas. Tal fato, não é exclusividade do meu trabalho, do Centro de Saúde, existem questões políticas, não sou ingênua e alienada. O que me espanta é a passividade em relação aos fatos. Luto diariamente para cumprir o que compreendo que é a minha função social no território. No entanto, é um grande desafio, mais uma contradição do SISTEMA a ser enfrentada, principalmente quanto ao modelo de produtividade estabelecido com as Organizações Sociais na Atenção Básica. (…) Desafio maior para moradores que compõem um conjunto heterogêneo de trabalhadores que integram a cidade de forma subalterna, e amargam diariamente preconceitos, estigmas, violência, falta de saneamento básico e desrespeito permanente aos seus direitos. As vulnerabilidades vivenciadas por esta comunidade são determinantes para o risco constante de adoecimento por agravos que o asfalto sofre com menor impacto(…). Nesse contexto transferir as contradições sociais para a esfera patológica, é naturalizar as verdadeiras determinações do sofrimento. O medicamento é um dos elementos protagonistas dessa estratégia capitalista.”

A sensação é a de “enxugar gelo”. Não é um problema das pessoas. É um problema do sistema onde estamos metidos.

O que você pensa sobre tudo isso? Como a partir dessas reflexões o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (ENSP/Fiocruz) pode contribuir para que os moradores de Manguinhos conquistem e tenham acesso efetivo aos direitos que são necessários para ter saúde? Entre em nosso grupo de WhatsApp e envie uma frase para nos ajudar a construir um discurso coletivo que responda essas questões.