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O MANGUINHO 90 – 06 DE JULHO DE 2023

O que ensina a história?

Reunião do Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. Ano de 2014.

O Manguinho desta semana dá continuidade ao tema do último número, que pediu aos membros do nosso grupo de WhatsApp que contassem as suas histórias de participação no Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. Ao fazer isso, O Manguinho chama atenção para este importante espaço de gestão participativa, que reunia trabalhadores, representantes dos usuários e moradores de Manguinhos para decidir os rumos da instituição.

Em uma pesquisa realizada em 2004, que buscava avaliar se o Centro de Saúde Escola era uma instituição promotora de saúde, alguns moradores e usuários reconheceram o valor do Conselho Gestor. Lembraram, por exemplo, de como foi importante a participação neste conselho para conseguirem um geriatra para o Centro de Saúde Escola, ou como a opinião deles foi decisiva para a permanência de um dentista.

Democracia e saúde

A Monique Cruz, participou do Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola em 2013, representando os moradores de Manguinhos. Ela destaca muita coisa que aprendeu com essa experiência:

“Meu nome é Monique Cruz. Hoje eu sou Assistente Social, membra do Fórum Social de Manguinhos já há alguns anos. Sou cria da Favelinha. Eu participei… se eu não me engano, das primeiras eleições do Conselho Gestor. Fui eleita suplente. Essa história começa quando a gente é mobilizado no território para esse momento de uma política de participação em relação à política de saúde no território, que é muito importante. Eu participei como suplente de algumas reuniões, foram experiências muito ricas para mim, me ajudaram a compreender muitas coisas em relação à participação democrática, a importância da participação social efetiva da população em relação à gestão das políticas públicas, especialmente a de saúde. Eu pude compartilhar o espaço com muitas mulheres incríveis. Tanto as mulheres das favelas de Manguinhos e do entorno, quanto das profissionais mesmo que ocuparam esses espaços, [como] agentes de saúde, profissionais que vinham representando outros órgãos para a gestão da saúde. Foi uma experiência muito rica, embora tenha sido também cheia de contradições e tensões, mas que também fazem parte da disputa por esse espaço. Sem dúvida quando eu participei eu era jovem, uma jovem militante com muitas questões e ainda compreendendo as coisas. Mas eu diria que esse espaço foi de fundamental importância tanto para transformação de algumas questões importantes na política de saúde no território, quanto para a garantia do nosso direito, enquanto moradores e moradores, de uma participação efetiva na gestão da política. Sempre que eu ouço a Darcília Alves eu penso que ninguém melhor que nós para falar sobre as lacunas, sobre a necessidade de melhorias, sobre quem são os usuários e usuárias dos serviços e quais são as reais necessidades que a política precisa dar conta.”

Já a moradora de Manguinhos e professora, Queila Santos, respondeu a pergunta final do último O Manguinho sobre os benefícios que poderiam ser conquistados com a retomada do Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola:

“Olá, meu nome é Queila Santos. Sou professora de educação física. Há 5 anos trabalho na escola judaica Eliezer Max. Também trabalho com crianças em situações vulneráveis na comunidade de Manguinhos. Na minha opinião os benefícios que poderiam ser conquistados com essa retomada do Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, acredito que seria possível colocar atendimento especializado principalmente para crianças com doenças cognitivas. Trabalho em realidades completamente diferentes. Com o diagnóstico precoce e o acompanhamento com profissionais especializados, as crianças e as pessoas se desenvolveriam de maneira eficaz.”

Monique aprendeu que a participação dos moradores contribuem para que o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria atenda de forma mais efetiva as reais necessidades da população. Nesse sentido, a demanda trazida pela Queila é um excelente exemplo. Ela fala de um problema de saúde pública muito sério, que para ser resolvido é necessário realizar ações combinadas nos campos da pesquisa, da produção de tecnologias em saúde, de ações educativas e de gestão participativa. Assim, o aprendizado da Monique e a demanda da Queila contribuem para fortalecer essa unidade de saúde na busca do seu objetivo de promover a saúde a partir do desenvolvimento do ensino e da pesquisa.” E você, o que aprendeu com essa história? Entre em nosso grupo de WhatsApp e responda essa pergunta.

O MANGUINHO 89 – 29 DE JUNHO DE 2023

Gestão coletiva da Saúde

Nessa semana, em nosso grupo de WhatsApp, O Manguinho perguntou: Quem aqui participou no passado do Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF)? Vocês que participaram, poderiam nos contar um pouquinho desta história?

Silvia Silva, moradora de Manguinhos, respondeu:

“Eu fui uma das fundadoras do grupo gestor. Logo no início eu participei muito do Conselho Gestor. Como também participei muito do Fórum de Manguinhos, enfim, a minha participação sempre foi lá. O que acontece é que deixei de ir porque [acontecia] algumas coisas que eu não concordava e tinha grupos já determinados para defender a causa. E aí eu achei que não era mais importante a minha participação porque poderia até prejudicar. Não sei se você fez a pergunta para saber quantas pessoas participaram desse grupo. Se for, eu fui uma, tem ata aí com meu nome.”

O Manguinho procurou Darcília Alves, moradora de Manguinhos, que foi conselheira do Conselho Gestor do CSEGSF e ela deu o seguinte depoimento:

“O que eu posso te dizer das conquistas sobre o Conselho Gestor? Eu, quando resolvo participar, antes de entender a saúde, eu era usuária do centro de saúde. Eu me lembro que ainda não era clínica, era só posto de saúde. Eu me lembro que uma vez com um problema muito grave de saúde a doutora me passou um exame de sangue e ela disse que aquilo teria que ser urgente.

E aí eu levanto muito cedo, vou para o Centro de Saúde lá eu pego uma fila enorme e aí quando o rapaz vem distribuir os números não chegou até a minha vez. Aí eu fiquei preocupada, aí eu disse para ele: – A doutora disse que eu teria que fazer este exame hoje. E aí, eu observei também que era tudo misturado, que era tudo misturado, entendeu? E daí que era uma fila única, para quem ia pegar resultado, para quem ia fazer o exame, para quem ia colher material. E aí eu fiz este questionamento. Aí eu me lembro que reuni algumas pessoas na reunião. Tinha gente que ia muito cedo para aguardar. E aí ele virou para mim e disse assim: -Não, se a doutora disse que é urgente, a senhora vai fazer, não precisa de número. E aí eu me lembro que quando chegou a minha vez e eu disse que não tinha número eu fui muito maltratada pela moça do ambulatório. Ela disse que eu estava armando e eu relatei isso. Poxa, eu com a minha idade, armando? Eu fiquei muito chateada com a moça e levei essa pauta para o Conselho Gestor. E aí através do Conselho gestor é que começou fazer o agendamento de consultas. (…) Mas foi uma medida bastante interessante e acabou com as filas intermináveis que as pessoas tinham que levantar 5 horas da manhã para conseguir pegar número pra poder ser consultado. Você entendeu?

Outra pauta também, em relação à educação, foi uma conhecida minha. Inclusive essa filha dela veio a óbito. Eu indo na escola, eu encontrei com a mãe que a filha estava com tuberculose, e ela estava indo na escola para pegar trabalhos pra menina. A menina não podia frequentar a aula porque tava muito mal da tuberculose e aí e isso sendo tratada pelo Dr Jorge. Quando a filha tem alta, que ela melhora, quando chega na escola ela [descobre] que a matrícula foi cancelada. E aí foi uma pauta que eu levei para o Conselho Gestor porque eu era testemunha de que aquela mãe não abandonou e que a menina estava com tuberculose. (…)

A gente teve muitos êxitos. Você entendeu? Foi uma participação bastante importante e outra, eu entendi também que no âmbito da gestão, das instituições, a gente tinha governabilidade. Tem coisas na política pública que a gente não consegue mudar. Eu consegui entender muita coisa, eu me interessei muito pra estar entendendo o que era Atenção Básica, o que era a questão da territorialização, que era um questionamento que eu fazia e ainda faço.”

Esses depoimentos demonstram que a produção da saúde depende de ações coletivas. evidenciam que a participação de moradores de Manguinhos, trabalhadores, gestores do centro de saúde no conselho gestor pode construir avaliações de processos de gestão, do uso dos recursos públicos e propostas para o enfrentamento dos problemas que atrapalham a produção da saúde.

E você, que tal fazer parte dessa história? Entre em nosso grupo de WhatsApp e responda a pergunta: Quais benefícios poderiam ser conquistados com a retomada do Conselho Gestor do CSEGSF?

O MANGUINHO 88 – 22 DE JUNHO DE 2023

Comida no prato todo dia

Com apoio do MST, comunidade urbana inicia horta agroecológica. Clique aqui para saber mais. Foto: Ednubia Ghisi

Segundo pesquisa realizada no ano de 2022, aproximadamente 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil. Em Manguinhos, nós não sabemos quantas pessoas estão passando por esse mesmo problema, mas por ser considerado um território de vulnerabilidade social, é possível supor que muitas famílias e moradores de Manguinhos façam parte desta fatia da população que não tem a garantia de uma alimentação diária.

Em edições anteriores, essa questão já apareceu por aqui. Em janeiro deste ano, ao falar do retorno às aulas, O Manguinho enfatizou a importância fundamental da refeição oferecida nas escolas, que em muitos casos é a única ou a principal refeição do dia dos alunos. E na primeira semana do mês de junho, a gente chamou a atenção para o tema da agricultura familiar e de uma alimentação saudável.

Comer bem é um direito

Ter uma alimentação adequada é um direito de todo cidadão brasileiro. É dever do poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população. O artigo terceiro, da lei 11346, de 2006, diz que a segurança alimentar e nutricional consiste na ro direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente.

Quando falamos de alimentação adequada e do problema da fome, não estamos tratando apenas da falta ou da pouca quantidade de comida no prato. É também sobre a substituição de alimentos saudáveis por opções pobres em nutrientes. O entregador de aplicativo, que no corre do dia a dia, substitui o seu almoço por um salgadinho ou um biscoito recheado, sofre de um fome oculta, ou seja, ele tem acesso a comida, mas vive num regime de carência alimentar, pela falta constante de alimentos ricos em nutrientes.

Uma política pública de segurança alimentar e nutricional que busque ser efetiva e sustentável, deve reconhecer também a importância da ampliação das condições de acesso a alimentos por meio da produção da agricultura tradicional e familiar.

Hortas urbanas

A Gilda Cabral, é uma cearense, moradora de Brasília, que teve acesso ao O Manguinho em outros grupos de WhatsApp. Ao comentar uma edição anterior, ela falou das hortas urbanas:

“Essa coisa das hortas urbanas. Tem muitos terrenos das prefeituras que são terenos baldios. Ali, são espaços que muitas mulheres são vítimas de violência. A prefeitura podia, por exemplo, fazer junto com o governo federal um convênio, um acerto, e não cobrar IPTU daquele terreno, se a pessoa não quisesse pagar o IPTU, dava pra horta. Aí a prefeitura dava o terreno e a água, porque não tem planta e terreno sem água, né? Aí pronto. A Caixa Econômica podia dar microcrédito para as mulheres, para as pessoas que tem interesse em plantar. Então se a gente tem terreno, assistência técnica da EMATER e do SENAC, que tem já em tudo quanto é canto, no interior, nas capitais e tudo, terreno e água… Pronto, as mulheres tem a maior coragem de trabalhar. A gente fazia uns esquemas destes na comunidade da gente de plantar estas hortas, em São Paulo tem muitas hortas assim, urbanas. Isso ia dar alimentação pra família da gente e também podiam vender o produto desta horta e gerar renda. As pessoas podem também tirar um dinheiro.”

Ônibus sacolão

A Elenice Pessoa, moradora e líder comunitária de Manguinhos, também lembrou em nosso grupo de WhatsApp, do ônibus sacolão, que visitava Manguinhos uma vez por semana e oferecia legumes e verduras saudáveis e com preço acessível. Ela defende que iniciativas como essa vire política pública para as favelas:

“Importante seria a gente comer um alimento que não tivesse agrotóxico, que fosse um alimento saudável, mas isso a gente sabe que também é difícil, porque pelas dificuldades que tem. O que seria? Seria importante se o governo pudesse ajudar nessa vinda destes alimentos. E essa proposta seria maravilhosa, para que a gente pudesse comer uma comida saudável.”

Segurança alimentar e nutricional é poder comer todo dia, uma comida bem preparada, que não tenha vindo de muito longe, sem agrotóxicos e outros produtos químicos, que são verdadeiros venenos e fazem muito mal pra saúde da população. Em Manguinhos, você conhece iniciativas, movimentos sociais, grupos e instituições que combatem a fome? Venha conversar com a gente sobre esse assunto em nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 87 – 15 DE JUNHO DE 2023

Uma roda de cuidado

O Manguinho acompanhou e participou na última segunda-feira, no dia 5, da roda de terapia comunitária, que acontece no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. A roda de terapia comunitária faz parte das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), que a gente já falou em números anteriores.

A terapia comunitária é uma técnica de cuidado em saúde criada pelo médico cearense Adalberto Barreto, e se baseia na ideia de que qualquer pessoa, seja da favela, do campo ou da cidade, preta ou branca, religiosa ou não, tem um saber que pode ser útil aos outros, e na roda de terapia esse saber pode ser partilhado e socializado. Para o Adalberto, a universidade não tem a hegemonia do produção do conhecimento. Tanto a universidade como a experiência de vida compartilhada na roda de conversa colaboram para a geração de conhecimento, sendo o primeiro científico e o segundo valorizando vivências. A comunidade que tem problemas tem também as suas soluções.

A roda de terapia comunitária em Manguinhos

A psicóloga Elaine Savi e a médica Eliane Cardoso são as responsáveis por coordenar o trabalho da roda de terapia comunitária que acontece às segundas-feiras, às 10h.

Em 2004, Elaine e Eliane participaram de uma pesquisa com os professores Victor Valla e Eduardo Stotz, a Ouvidoria Coletiva. A partir do conhecimento das condições de vida e saúde dos moradores de Manguinhos, Maré e Penha, foi sugerido como cuidado em saúde a roda de terapia comunitária. Após um período de capacitação, as rodas foram iniciadas em 2006.

Para Elaine Savi, a roda é um espaço de troca de experiências e de fortalecimento de laços sociais. Uma construção coletiva de possibilidades de saúde:

“A roda da terapia comunitária é um espaço de troca que cuida do sofrimento das pessoas e não das doenças. É um espaço onde é possível compartilhar alegrias, preocupações, tristezas e sofrimentos. O objetivo é acolher esses estados de sofrimento, procurando não só colocar esse sofrimento num contexto de vida, como também gerar pertencimento e fortalecer os vínculos sociais solidários entre os participantes.”

Já a Eliane Cardoso, enfatiza o quanto é gratificante para ela o contato mais afetivo com os moradores:

“Quero dizer que pra mim como profissional a terapia comunitária foi um divisor de águas na minha vida. Porque propiciou um contato mais afetivo com os usuários. Nessa roda nós trocamos experiências de vida. Em alguns momentos eu aprendo, em outros eu ensino. Isso é gratificante para o profissional de saúde.”

Pode-se dizer que os resultados desta terapia em Manguinhos tem sido muito positivos. A Simone Belmont nos contou que gosta muito de fazer parte deste grupo:

“Oi, eu sou Simone Belmont, sou moradora do Conjunto dos Ex-Combatentes. Sou paciente da Clínica Victor Valla e faço terapia comunitária na Fiocruz. Faço desde 2016 e a o longo deste tempo tem me ajudado muito. Porque eu tenho ansiedade e outros problemas de saúde também que a roda tem me acolhido, com muitas trocas de experiência. Eu tenho melhorado muito. De 2016 pra cá eu aprendi muitas coisas com a experiência das outras pacientes e com a troca com as profissionais. As profissionais são maravilhosas. O atendimento é muito bom, é excelente. Eu tô gostando muito.”

A Ellen, que mora em Manguinhos há quase 30 anos, também nos falou da sua experiência:

“Meu nome é Ellen, sou moradora aqui do Manguinhos há quase 30 anos. Moro na favelinha que todo mundo conhece onde que é. Tem quase 10 anos que eu participo da roda de terapia comunitária, na qual me ajudou muito, porque eu era uma pessoa muito agressiva, não sabia conversar com ninguém e já ia na agressão. Então esse conhecimento através de outras pessoas, da vida de outras pessoas começou a me ajudar muito. Hoje eu não seria essa Ellen que eu sou se não fosse esse meu tratamento. Eu já chamo de tratamento porque é como se fosse uma consulta médica que eu não posso perder.”

Nesta roda, da última segunda-feira, a conversa foi sobre O Manguinho. Foram vários os assuntos, entre eles, a importância da participação na construção deste jornal. Todas as participantes da roda entraram em nosso grupo de WhatsApp porque entenderam a importância de participar desses diálogos sobre a vida e saúde em Manguinhos. E nós, que estamos há mais tempo no grupo O Manguinho, que experiências temos para compartilhar com os participantes da roda que acabam de chegar?

O MANGUINHO 86 – 08 DE JUNHO DE 2023

Faça uma proposta

Washington Dutra, esposa e filhas.

Sabe aquela conversa de calçada e de portão entre vizinhos que a gente sempre fala assim: “se eu tivesse a oportunidade de fazer uma proposta pro presidente da república eu proporia tal coisa.” Bom, esse momento de falar diretamente, cara a cara, olho no olho, no ouvido do presidente, talvez ainda não seja possível pra todo mundo. Afinal, somos milhões de brasileiros e o presidente é só um. Haja cara, olho e ouvido pra tanta gente. Mas existe uma alternativa, o governo federal criou a Plataforma Brasil Participativo, um canal de consulta digital onde é possível que qualquer cidadã ou cidadão brasileiro faça propostas que poderão orientar o mandato do presidente nos próximos quatro anos. Pois é. Uma oportunidade daquelas.

Plano Plurianual (PPA)

O governo precisa planejar com antecedência como vai oferecer serviços públicos para a população. Para isso, ele faz um plano chamado plano plurianual (PPA) que é como uma lista de prioridades que mostra o que é mais importante para o país e para cada região, nos próximos quatro anos, em diferentes áreas, como saúde, educação, saneamento, transporte, e energia.

O PPA serve como base para criar o orçamento público e guiar as ações do governo. É este planejamento que diz o que o governo vai fazer e quanto vai gastar, quais as prioridades e metas que quer alcançar. Para fazer este plano o governo escuta o que a população precisa e o que ela quer. Depois, essas ideias são aprovadas pelos governantes e pelos parlamentares.

No entanto, todos nós sabemos que uma lei aprovada não quer dizer necessariamente que ela será cumprida integralmente e alcançará aqueles que mais necessitam destas políticas públicas. Em nosso grupo de WhatsApp, quando a gente perguntou que propostas poderiam ser feitas no PPA 2024-2027, o técnico agrícola e agricultor familiar Washington Dutra, fez alguns relatos que demonstraram que pequenos agricultores familiares podem encontrar grandes dificuldades para acessar programas nacionais de auxílio e incentivo à agricultura familiar. Neste trecho de seu depoimento ele destaca a dificuldade de conseguir o DAP, que é a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

“Eu mesmo luto por DAP há 30 anos, entendeu? Então o que acontece? Eu não tenho acesso a crédito rural justo. O agronegócio tem, o acesso pra comprar maquinário, carro, reformar casa, fazer lavouras gigantescas. E a gente como pequeno agricultor, que não tem acesso ao DAP não tem esse crédito com juros baixos e a longo prazo, que é pra gente se reerguer, se reestruturar, fazer nossos alicerces. A gente sempre fica num barco furado. Tirando água do barco. Entra governo, sai governo e sempre fica assim. E os pequenos não tem acesso e eles não fazem questão de dar. Até pouco tempo ninguém conhecia agroecologia. Aqui no Rio basicamente eu implantei isso aí. (…) Basicamente é isso aí, pra gente ter acesso. A DAP dava acesso a 17 ou 18 benefícios pro agricultor, inclusive saúde, aposentadoria, Pronaf, etc etc. Então que acontece? A gente é carente disso aí. É muito carente dessas coisas e é o que gente precisa pra evoluir.”

O Washington faz parte da Rede CAU (Rede Carioca de Agricultura Urbana), movimento social que tem barraca na Feira Agroecológica Josué de Castro, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz. Para ele o que se deseja para a agricultura familiar é o mesmo tratamento dado ao agronegócio.

A partir desse diálogo no nosso grupo de WhatsApp foi encaminhada uma proposta ao PPA. O grupo enfatizou também a importância de uma alimentação sem agrotóxico. Veja como ficou o texto enviado na íntegra:

“Desburocratizar o acesso aos programas e criar mecanismos que facilitem o acesso do agricultor familiar aos direitos de crédito rural e a outros direitos sociais. Facilitar o acesso ao registros CAF ou DAP. Facilitar também o acesso ao Pronaf. Criam-se uma série de exigências e não facilitam o acesso. Entender que a agricultura familiar é fundamental para melhorar e baratear a alimentação da população brasileira.”

Brasil Participativo

Para participar da plataforma Brasil Participativo você só ter uma conta no site gov.br Com ela você vai poder registrar novas propostas para as políticas públicas, apoiar as propostas oficiais e de outros participantes; ou ainda divulgar nas redes sociais as ideias apresentadas. O prazo pra participar do PPA é até o dia 1o de julho.

E você, tem também uma proposta a fazer? Venha conversar com a gente.

O MANGUINHO 85 – 01 DE JULHO DE 2023

ACS em ação

Quezia Cavalcante, fundadora do Espaço Sonhar, o ACS Jorge Nadais e Bernadete Cavalcante da Silva Santos, colaboradora do Espaço Sonhar.

Nesse número do O Manguinho nós vamos conversar com o Jorge Antônio dos Santos Nadais. Ele é morador de Manguinhos e trabalha como Agente Comunitário de Saúde (ACS). O tema da nossa conversa foi a atividade que ele realizou na 1ª Ação Social do Espaço Sonhar, na quadra de Manguinhos, na manhã do dia 25 de maio. Nessa atividade, Jorge distribuiu folhetos informativos produzidos pelo Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria e outros da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Além de distribuir os folhetos ele também conversou com os moradores de Manguinhos sobre saúde. Em seu depoimento ele conta um pouco sobre a relação do seu trabalho com esse tipo de ação social:

“Meu nome é Jorge Antônio dos Santos Nadais, sou Agente Comunitário de Saúde da Equipe Fraternidade. Trabalhos como esse realizado pelo Espaço Sonhar, nessa ação social, são fundamentais para o trabalho do Agente Comunitário de Saúde. Primeiramente, possibilitam a realização de um trabalho de promoção, prevenção e informação em saúde que atinja usuários que muitas das vezes estão distantes do serviço de saúde quer em virtude do trabalho, das obrigações, dos afazeres e ali abre a possibilidade de um novo local para a realização desse tipo de trabalho de comunicação em saúde. Em segundo lugar possibilita uma aproximação com as ONGs e movimentos sociais locais para realização de um trabalho de saúde mais interdisciplinar e transversal que se aproxime do dia a dia da comunidade. Com relação a como incluir esse trabalho nas atribuições de saúde esse trabalho ele já faz parte das atribuições dos agentes de saúde ele precisa ser mais estimulado e desenvolvido ao longo do tempo mas ele faz parte das atribuições ele é uma das atribuições que o Agente Comunitário de Saúde tem.”

Um sábado de diálogo

A atividade desse sábado foi uma oportunidade importante para criar esse diálogo entre o ACS e as pessoas que moram em Manguinhos. Dúvidas, como qual o dia de atendimento médico no Centro de Saúde, se precisa ir pessoalmente para marcar, ou se o ACS pode marcar sem que o usuário precise ir ao posto, foram respondidas.

Além de ser difícil ir ao posto de saúde, quando chega lá o tempo que o usuário tem é curto e não dá para falar sobre os diversos assuntos dos folhetos que o Jorge estava distribuindo. Alguns destes temas são, por exemplo, enchentes, tuberculose, participação social, tabagismo, dengue, diabetes e direitos da população. Temas sobre os quais as pessoas têm muitas dúvidas ou nem se dão conta do quanto são necessários para prevenir doenças e promover saúde.

O ACS e a comunidade

É importante destacar também as palavras utilizadas pelo Jorge sobre esse tipo de evento: “Contribuir para realização de um trabalho de saúde mais interdisciplinar e transversal, que se aproxime do dia a dia da comunidade.” Isso remete à origem do Agente Comunitário de Saúde, que nasceu no Nordeste a partir da experiência do Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento, o PIASS. E aqui vale ressaltar a forte relação entre saúde e saneamento na origem dessa profissão. Em vários outros números do O Manguinho, já vimos o quanto é impossível falar de saúde no território sem falar das falhas no saneamento, que são a raiz de vários problemas graves, como as enchentes.

Regulamentação do ACS

O programa de Agentes Comunitários de Saúde, o PACS, foi regulamentado em 1997, quando se iniciou o processo de consolidação da descentralização de recursos no âmbito do sistema único de saúde. Sendo fiel aos princípios do SUS, o Programa Saúde da Família responde à demanda por uma atenção integral aos problemas que prejudicam a vida e a saúde da população, indo além do atendimento médico e hospitalar e assistência à pessoas doentes.

Tendo em mente esse trabalho fundamentado na visão ampliada de saúde, como O Manguinho pode contribuir para apoiar os Agentes Comunitários de Saúde em Manguinhos e em outros territórios parecidos? Venha conversar com a gente sobre isso em nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 84 – 25 DE MAIO DE 2023

O Brasil precisa do SUS

Simone Quintella e Janete Romeiro durante a Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde da Fiocruz. Foto: Franciele Campos

No dia 19 de maio, foi realizada em Manguinhos, a Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde da Fiocruz, que foi como uma etapa preparatória para a 17ª Conferência Nacional da Saúde, que vai acontecer entre 2 e 5 de julho desse ano. Esse evento nacional, que acontece a cada quatro anos, “é um dos mais importantes espaços de diálogo entre governo e sociedade para a construção das políticas públicas do Sistema Único de Saúde, o SUS.”

Antes dessa conferência livre do dia 19, dois outros encontros preparatórios foram realizados na Fiocruz. Mas foi nessa última que foram eleitas as delegadas e delegados responsáveis por apresentar e defender na etapa nacional as formulações e propostas feitas pelo coletivo dos usuários, estudantes e trabalhadores da Fiocruz.

Neste episódio selecionamos dois depoimentos dados na última sexta-feira, eles demonstram o quanto é necessário que seja construída uma política nacional de saúde das periferias e favelas. Para que essa política dê certo é fundamental que seja incluída a participação dos usuários, estudantes e trabalhadores, além da intersetorialidade, da vigilância popular e da promoção de saúde.

Um SUS para todas e todos

Para a Valdirene, que trabalha na Fiocruz Mata Atlântica e mora na Maré, apesar de seus inúmeros problemas o SUS ainda é um sistema de saúde que atende a classe trabalhadora dos territórios vulnerabilizados:

“Bom dia, meu nome é Valdirene Militão, eu sou uma mulher parda, baixinha e tô toda de preto. Eu sou trabalhadora da Fiocruz Mata Atlântica. Sou moradora da Maré. Então estou aqui também como os 140 mil moradores aqui vizinhos. E acho importante [falar] que sou usuária do SUS e sobrevivente. Eu tenho um quarto do pulmão que funciona e tenho o meu coração fora do lugar. Eu sou reconhecida pelos médicos como milagre e eu agradeço demais ao SUS, porque se eu não estivesse no Brasil com certeza sendo pobre como sou, eu já teria morrido. Então por um SUS que atenda todos, com todas as suas deficiências. (…) Eu tive muito cuidado também no SISREG, com acesso à cardiologista, com o que cuida das varizes… Apesar de toda deficiência do SUS e do SISREG eu tive acesso a tudo que eu precisei sendo moradora da Maré, usando o Américo Velloso como meu PSF. É claro que temos muito que melhorar, mas nós estamos muito, muito além de muitos lugares que o pobre morre. Temos o exemplos do Covid-19 . Então eu sou uma sobrevivente, eu agradeço demais por morar no Brasil, de ter o SUS, de ter a Fiocruz como referência, e acima de tudo de ser trabalhadora, mesmo sendo precarizada. Mesmo sendo bolsista, mesmo tendo um salário baixo, mas mesmo assim eu trabalho com o que eu acredito, eu amo a Fiocruz, eu acredito naquilo que eu trabalho. Eu trabalho com soberania, segurança alimentar e nutricional, dentro do campus Fiocruz da Mata Atlântica.”

A Simone Quintella, que é líder comunitária de Manguinhos e que é também trabalhadora da Fiocruz, ressalta que uma política nacional de saúde voltada às comunidades e favelas deve vir acompanhada de um monitoramento constante:

“Bom dia, a todos e todas, eu sou Simone Quintella. Sou uma mulher negra, estou vestindo uma calça jeans, com tênis preto e com uma blusa cinza, e um casaquinho vermelho meio vinho. Também estou usando um simbolozinho da Fiocruz que é o nosso castelo, que é o orgulho de ser. Eu sou conselheira de saúde eleita, do CGI, do Conselho Gestor Intersetorial de Saúde de Manguinhos. Sou moradora de Manguinhos, faço parte do Conselho Comunitário de Manguinhos. Como conselheira eu sou do segmento de lideranças comunitárias. Sou trabalhadora da Fiocruz também há 23 anos com muito orgulho. Eu vou ler aqui na página 19 no [item] 3: “Ampliar o cuidado e o acesso à saúde das populações em situação de rua e das periferias.” Eu só vou só ratificar o que o Paulão também falou, que eu acho que é importante: “Criar a política nacional de saúde dos moradores de comunidades e favelas do Brasil.” Eu acho que é muito importante. Não só criar, mas ter o monitoramento para garantir a efetividade de fato dessa política. Como o próprio Paulão falou, se cria leis e leis e não tem monitoramento. Às vezes fica no papel e não [acontece] efetivamente. Nós temos muitos moradores de rua e nós sabemos que também a população de comunidades e periferias precisa de cuidado, essa seria a minha defesa.”

E você, qual a sua opinião sobre a proposta de construção de uma política nacional de saúde para as favelas e territórios vulnerabilizados de todo o Brasil? Responda em nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 83 – 18 DE MAIO DE 2023

O que são as PICS?

Auriculoterapia é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa que trata disfunções físicas, emocionais e mentais por meio de estímulos em pontos específicos da orelha.

Se você é moradora ou morador de Manguinhos e frequenta com regularidade o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF) certamente já deve ter observado, com curiosidade, que algumas pessoas saem de lá com curativos bem pequenos na orelha. Essas pessoas provavelmente são pacientes que estão sendo tratadas com a auriculoterapia, que é uma prática da acupuntura. A técnica é derivada da medicina tradicional chinesa e destina-se ao tratamento de doenças por meio de estímulos nos pontos nervosos da orelha. A auriculoterapia faz parte das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), que foram instituídas no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir da Política Nacional de Saúde, que reconhece oficialmente a importância dessas práticas para a Saúde Pública.

Assim como o uso de plantas medicinais, como o xarope de guaco com hortelã pimenta, que é do tempo dos nossos avós, a auriculoterapia faz parte de uma política que procura reconhecer oficialmente a importância das manifestações populares em saúde e a chamada medicina não convencional.

PICS

As PICS são tratamentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais. Elas buscam a prevenção de doenças, a recuperação e a promoção da saúde, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração da pessoa com o meio ambiente e a sociedade. Atualmente o SUS tem a responsabilidade de atuar, de forma integral e gratuita, com 29 práticas integrativas.

As PICS não substituem o tratamento da medicina tradicional. Elas são um adicional, um complemento no tratamento e indicadas por profissionais específicos conforme as necessidades de cada caso.

Espaço PICS ENSP Fiocruz

A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), da Fiocruz, oferece algumas terapias para os moradores de Manguinhos cadastrados no CSEGSF, e também para os trabalhadores, estudantes e outros usuários dos demais serviços de saúde da ENSP. O oferecimento dessas terapias, no que foi chamado de Espaço PICS ENSP, começou no início da pandemia, em abril de 2020. Naquele momento, tudo era feito online, com atendimentos de reiki, florais, meditação e terapia comunitária integrativa, que também são chamadas de rodas de conversa. Já atualmente elas são oferecidas tanto na modalidade presencial quanto online, e outras práticas foram acrescentadas à lista, como auriculoterapia, aromaterapia e yoga.

Às segundas e quartas, às 12h, na Sala Mario Sayeg, que é conhecida como Gaiola, qualquer pessoa pode aparecer no Espaço PICS ENSP para meditar e ter acesso a outras práticas integrativas e complementares.

A gente conversou com duas pessoas que frequentam o Espaço PICS ENSP da Fiocruz. A primeira é a Janaína, que trabalha no Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana:

“Meu nome é Janaina, eu trabalho aqui na FIOCRUZ , no CESTEH, na Saúde do Trabalhador. E eu estou vindo toda quarta-feira fazer meditação e colocar o aurículo. Eu tô me sentindo muito bem porque assim eu estava ansiosa, com muita dor, porque eu trabalho na limpeza. Esse pouquinho de tempo que eu fico aqui tá me deixando relaxada, mais calma. Tem também os óleos essenciais e é muito bom. Eu estava passando por aqui na hora do meu almoço. Aí vi a Janete do Posto de Saúde, aí ela me convidou para vir para cá e eu tô gostando muito.”

O outro depoimento é da Simone Francisco, que há dez anos participa da Roda de Terapia:

“Eu sou Simone Francisco, eu participo da Roda de Terapia há mais de dez anos. Quando eu fui recomendada pela minha psicóloga, doutora Ana, para ir participar da Roda de Terapia, eu tinha depressão, ansiedade, muito nervosa, não conseguia trabalhar , não cuidava da minha casa, não me dava com meus filhos,entendeu? E através dessa roda com a terapia, e com a ajuda dos médicos, psiquiatra, psicólogo, as assistentes sociais, a gente foi participando da roda e tudo foi se resolvendo. Graças a Deus! Até quando veio a pandemia que fechou tudo, assim mesmo a gente continuou tendo roda através do celular, por meio de vídeo de celular. Foi muito bom. A gente conseguiu vencer até hoje por isso que eu agradeço a todos, a doutora Elaine, Eliane e Walcirleya.”

As PICS apresentadas neste número podem ajudar a produzir saúde em Manguinhos? Venha conversar com a gente sobre esse assunto em nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 82 – 11 DE MAIO DE 2023

Escola: como participar?

Alunos do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, em 2016.

Em números anteriores do O Manguinho vimos o quanto a educação é importante para a saúde, mas quem é responsável pela educação das crianças, adolescentes e jovens? A Constituição Federal do nosso país, promulgada em 1988, diz, no artigo 205, que: “A educação, direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Ou seja, todos os cidadãos do Brasil têm direito à educação escolar, que deve ser oferecida por escolas públicas, uma instituição do Estado brasileiro. Mas para conseguir alcançar os objetivos de preparar as pessoas para o exercício da cidadania e para o trabalho a escola necessita contar com a colaboração das famílias dos alunos e da sociedade.

Mas as famílias e a sociedade estão conseguindo apoiar a escola nesse trabalho? Quais são os fatores que dificultam os pais e responsáveis dos alunos da escola pública de se envolverem e participarem na educação escolar de seus filhos?

Sobre este tema a gente traz para esse número uma conversa que aconteceu em nosso grupo do WhatsApp no dia 11 de março. Esse diálogo foi entre um ex-professor de História do Ciep Juscelino Kubitschek e do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, e uma moradora de Manguinhos.

Uma história longa: a precarização da escola pública

Para o professor da Rede Estadual Douglas Thomaz, a escola pública sofre há décadas uma precarização devido a falta dos investimentos necessários. Esta falha prejudica, não só os atuais alunos, mas também prejudicou os seus pais e responsáveis que passaram por ela. Pior ainda são os que nem tiveram a oportunidade de estudar. Muitos dos moradores de Manguinhos tiveram que parar de estudar para trabalhar.

“Como professor, a gente sempre fica assim… Como as famílias dos meus alunos estão avaliando a educação de seus filhos? A gente sempre se pergunta isso. E como muitos responsáveis e pais não terminaram os estudos e também já são destas outras gerações que estudaram nesta escola pública precária, eu fico pensando que muitas vezes os pais também não têm condições de avaliar a educação dos filhos. Por isso eu chamei atenção ao fato que você esteja atenta a isso, eu acho importante. Os pais jovens dos meus alunos também estudaram nessa escola pública, então tem também essa deficiência, vamos dizer assim, em relação à formação.”

Para a Michele Rocha, deve ser levado em conta também que muitos pais e responsáveis não participam da vida escolar dos filhos porque precisam trabalhar:

“Assim, em relação a isso, é mais ou menos o que o Douglas falou mais em cima. Muitos dos pais tiveram o mesmo ensino que os filhos estão tendo e não são questionadores. Eu vou numa reunião da minha filha e do meu filho… Na sala da minha filha, tem 40 crianças, na do meu filho tem um pouco mais acho que tem 45. Primeiro, já é um absurdo este número de crianças em uma sala de aula. Mas na reunião escolar se você ver dez, quinze pais, é muito. Você não vê muito além disso. Na última reunião que eu fui na escola da minha filha, da pequenininha, tinham 20 pais e a professora ficou maravilhada porque ela não consegue fazer uma reunião dessa com essa quantidade de pais. Porque está todo mundo trabalhando, todo mundo muito na correria para poder botar o pão de cada dia dentro de casa e nem se atentam nisso, entendeu? A preocupação é o trabalho e não deixar faltar. Mas esse negócio de conselho [escolar] que ele falou aí, eu achei interessantíssimo, se na escola do meu filho for divulgado eu vou querer participar sim, da minha filha também porque é interessante.”

Como participar?

O que mais dificulta você participar de reuniões nas escolas de seus filhos? O que facilitaria você participar dos conselhos escolares? Esta participação pode fazer bem para a saúde de Manguinhos? Responda em nosso grupo de WhatsApp!

O MANGUINHO 81 – 04 DE MAIO DE 2023

Piscina é saúde

Os alunos de natação e hidroginástica em Manguinhos hoje se mantêm alertas e vigilantes em defesa de um território saudável.

Na segunda semana de abril deste ano, o grupo de WhatsApp do O Manguinho recebeu muitas mensagens de moradores que se diziam preocupados. A preocupação era legítima e sincera. Segundo eles nos informaram, o Programa Cidade Integrada do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em Manguinhos, começava apresentar alguns sinais de esgotamento, ou seja, o que antes funcionava muito bem, começou a apresentar problemas cotidianos. Essas mensagens partiram de alunos das aulas de natação e hidroginástica que acontecem no Complexo Esportivo de Manguinhos e Jacarezinho, que fica nas dependências do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila.

Os moradores relataram que professores da piscina estão com os salários atrasados desde janeiro, e que as aulas de natação e hidroginástica que eram ofertadas todos os dias, agora já não são mais. Uma nova programação de funcionamento divulgada pela coordenação do programa no início de abril indicava que nas semanas seguintes alguns dias teriam aulas e outros não.

Uma história de lutas

A piscina semiolímpica que fica na Praça do PAC em Manguinhos tem uma história mais longa do que esta contada até aqui. Inaugurado em 2009, como unidade modelo, o Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila possuía salas de informática, laboratórios de química e física, biblioteca, auditório, ginásio poliesportivo e piscina. No entanto, poucos anos depois, por falta de manutenção e investimento contínuo, toda a estrutura física da escola estava deteriorada e depredada. A piscina, que na época da inauguração, era um orgulho para Manguinhos, por muitos anos ficou completamente abandonada, oferecendo perigo constante como local propício à proliferação de larvas de mosquitos. Durante todos esses anos, lideranças comunitárias, instituições do território, estudantes e trabalhadores organizados em Manguinhos denunciaram a situação. Em 2022, por meio do Programa Cidade Integrada, novos investimentos foram feitos pelo governo estadual e toda a infraestrutura física foi recuperada e readaptada.

Justamente por não querer reviver uma história de abandono de espaços importantes para Manguinhos, que os moradores se mantêm alertas e vigilantes. E por isso já estão manifestando sua preocupação e insatisfação com o aparente corte de recursos para a manutenção da piscina e das aulas.

Promoção de saúde

O Manguinho insiste na ideia de que saúde não é simplesmente não estar doente. A plena garantia de direitos é uma das condições necessárias para o surgimento de territórios saudáveis. Alguns relatos que recebemos nos mostram que as atividades que ocorrem na piscina promovem saúde sem a necessidade de medicação. Para a Bernardete, a piscina é importante para toda a sua família:

“Olá, eu sou Bernardete Cavalcante, faço aula de hidroginástica no Compositor Luiz Carlos da Vila no PAC. Inclusive eu fui recomendada até pela médica pra fazer hidroginástica. E estava me sentindo muito bem. Agora não sei o porquê que essas aulas tão sendo assim adiadas pra semana sim, semana não. Eu fazia três vezes por semana a aula e é grande importância essas aulas assim pra a comunidade aqui de Manguinhos. E inclusive os meus netos também sentem grande falta porque eles estão fazendo a natação e ficam me perguntando. São crianças assim de 10 anos, a outra tem sete anos. Eles me perguntam o porquê não tem mais aula de natação. E eu estou sem ter resposta para as crianças.”

O Renan Tavares, do Jacarezinho, é mais um exemplo que demonstra a estreita relação entre saúde e boas condições de lazer:

“Olá, boa tarde, eu me chamo Renan. Moro aqui no Jacarezinho, próximo aqui a Fofolândia. A natação me trouxe muitos benefícios. Não só pra mim, como para a minha filha também. Eu tenho hérnia de disco na lombar. Comecei a fazer hidroginástica e fui pegando um fortalecimento, aí depois eu fui pra natação, que melhorou ainda mais. Estou com a minha coluna mais forte, mais rígida e mais saudável. Eu era sedentário, me ajudou porque eu parei de fumar e mesmo assim eu estava tendo dificuldade na respiração. Ajudou também a minha filha, que tem asma. A natação foi muito boa para o desenvolvimento dela também. A natação trouxe muitos benefícios, não só pra mim, quanto pra ela. Seria muito ruim e chato se o projeto acabasse, entendeu? São muitas pessoas que estão se beneficiando, que estão gostando, se cuidando, se tratando. Eu estou gostando muito, entende?”

Que tal conversar sobre essas questões em nosso grupo de WhatsApp? Ter uma piscina com aulas de natação e hidroginástica em Manguinhos realmente é um indicativo de mais saúde?