Portal ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca Portal FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

Principal

O MANGUINHO 50 – 04 DE AGOSTO DE 2022

O Manguinho conjuga o verbo esperançar

Conferência Livre, Democrática e Popular Fiocruz

Mesa de abertura da Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde ocorrida em 15 de julho de 2022 na ESPJV/Fiocruz.

O Manguinho da semana passada lançou a proposta de refletirmos sobre as possibilidades de construirmos melhores perspectivas de esperança no futuro por meio da colaboração entre as unidades escolares (incluindo as da Fiocruz), unidades de saúde e unidades da assistência social e o Museu da Vida/Fiocruz de Manguinhos.

Entendemos esperança no sentido dado por Paulo Freire na frase:

“Esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!”

O primeiro passo para esse esperançar e para essa colaboração deve ser a construção coletiva de um diagnóstico sobre Manguinhos a partir da voz de seus moradores e dos trabalhadores que atuam nos serviços públicos desse território, principalmente nos campos da Educação, Saúde, Cultura e Assistência Social. O Manguinho desde o seu primeiro número tem buscado contribuir na concretização dessa tarefa. Isso aconteceu especialmente nos números do jornal sobre a III Conferência Livre de Saúde de Manguinhos que aconteceu em julho de 2021. A voz dos moradores na enquete, a partir da qual essa conferência foi organizada, foi divulgada na íntegra no número 5 de O Manguinho. Nesse diagnóstico foi considerada violência qualquer violação de direitos. A reivindicação em destaque foi: “Queremos políticas públicas que tenham o foco no combate às violências estruturais.”

Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde

A continuidade da luta pela conquista dessas políticas públicas é que trouxe nesse julho de 2022 para o grupo de WhatsApp que constrói O Manguinho notícias sobre a participação de moradores e trabalhadores de Manguinhos em três edições da Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde.

Um exemplo dessa participação aconteceu em 15 de julho de 2022 na Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde das Trabalhadoras, Trabalhadores, Estudantes, Usuárias e Usuários da Fiocruz. Destacamos a seguir três propostas feitas nessa conferência e que ao serem articuladas podem ajudar na colaboração proposta em nosso último número. Ajudando desse modo Manguinhos a conjugar o verbo esperançar.

Um chamado à mobilização

A professora-pesquisadora Anamaria Corbo, diretora de uma das escolas públicas de Manguinhos, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/ Fiocruz, falou nessa conferência:

“É um chamado à mobilização de todas e todos que convivem com todos nós da fundação, sejam movimentos sociais, usuários e usuárias para que a gente crie espaços e estratégias de aprofundamento de todas as questões que estão colocadas e que determinam e condicionam a qualidade de vida de nossa população. Então é esse chamado importante que a gente tem que fazer. Que o debate não se encerre aqui. É um debate permanente que tem que acontecer em todos os espaços dentro e fora dessa fundação.”

Trançar outras redes

A professora-pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Jaqueline Jesus, reconhecendo a importância da conferência diz:

“É fundamental esse tipo de Conferência para a gente se encontrar, para a gente se trançar e construir novos tecidos, novas redes.”

Esse trançado tornou-se ainda mais potente para o cultivo do esperançar porque ele se estende para além de Manguinhos. Ele continuou no dia 16 de julho na Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde da Grande Leopoldina (RJ). Lá, Patrícia Evangelista disse:

“Sou moradora de Manguinhos trabalho com articulação e mobilização da comunidade na saúde da família. Ter um espaço como esse da conferência livre para garantir a participação e a democracia é muito importante. Mais do que importante é ter tanto a população como gestores e trabalhadores discutindo e construindo e ampliando esse espaço. Para nós é uma vitória estarmos nessa construção das conferências estaduais, municipais e federais de saúde. Viva o SUS! Viva a participação social!”

Mas a trança cresceu ainda mais na conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde, na etapa do Rio de Janeiro que aconteceu em dia 23 de julho e continuará crescendo na etapa nacional. Como a colaboração entre as unidades escolares (incluindo as da Fiocruz), unidades de saúde e unidades da assistência social e o Museu da Vida/Fiocruz em Manguinhos pode fortalecer e ser fortalecida por uma Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde permanente de forma a facilitar a conjugação do verbo esperançar? Clique aqui para participar.

O MANGUINHO 49 – 28 DE JULHO DE 2022

Que futuro espera Manguinhos?

Escrevendo cartas para as crianças do futuro – Escola Municipal Professora Maria de Cerqueira e Silva.

No dia 12 de julho às 10h da manhã chegou no grupo de WhatsApp do O Manguinho a primeira notícia sobre um tiroteio que matou 8 jovens moradores de Manguinhos. Foi um dia tenso e intenso de mensagens sobre isso. Entre as muitas mensagens de indignação expressadas por várias pessoas no grupo trazemos aqui um trecho do desabafo feito por Isabel Jennerjahn, a partir do qual rolou uma conversa que tem tudo a ver com os objetivos que buscamos alcançar com O Manguinho e com a Rádio Povo. Reproduzimos abaixo parte desse diálogo:

Isabel: “Isso é histórico. O que hoje paga o policial para ir nas favelas matar? O que pagou no passado os capitães do mato para caçar os negros quando eles fugiam das senzalas, dos senhores? O que mata: é o policial, o capitão do mato ou a forma como a sociedade está estruturada? E o mais grave ainda é que tem uma justificativa na imprensa, e que muitas vezes nós que somos de dentro das favelas, negros, nordestinos, oprimidos concordamos com isso. Existem formas e formas de enfrentar. A gente tem que descobrir essa fórmula química de poder enfrentar essa grande indústria da morte que foi instaurada historicamente nas nossas vidas e que a gente sem querer, por medo, aceita. A gente tem que transformar esse medo em coragem e pensar juntos numa forma de mudar isso.”

Renata: “Verdade Bel e não esquecendo que essas pessoas que são executadas deixam aqui mães, familiares doentes na alma, com seu psicológico abalado em depressão, isso também é caso de saúde pública.”

Isabel: “Sim, com certeza! Tem um monte de gente ganhando com as nossas dores! Com os casos emblemáticos nas favelas, com a miséria na África e com as guerras entre os países! Eu já perdi tantas companheiras na luta por direito à vida. As mães de Acari, mães do Caju, mães da Baixada, entre outras!”

Mercês: “Pois é amiga, essas dores vêm desde os navios negreiros que trouxeram para o Brasil mães e filhos separados para sempre. Separados, mas igualmente explorados e descartados quando não são mais “úteis” para os donos do mundo. Exploração e descarte que continuam até hoje.”

Isabel: “E hoje, a favela continua sendo o navio negreiro que continua recebendo os migrantes nordestinos e africanos! O problema que temos que mudar nossas atitudes! Não podemos só pensar no amanhã, temos que ter estratégias nos três pontos. Emergenciais, a médio e longo prazo!”

Zeulaci: ‘Nossa! Acho que sempre tive esse sentimento, da favela ser esse navio.”

Mercês: “Bel, seu desabafo me faz compartilhar aqui uma experiência: No ano de 2009, em um trabalho de colaboração do Museu da Vida com escolas públicas de Manguinhos, um menino de 7 anos de idade, morador do Mandela em Manguinhos aluno da Escola Municipal Professora Maria de Cerqueira e Silva escreveu, em uma carta para crianças do futuro, a seguinte frase:

“Querido amiguinho do futuro espero que você goste de minha cartinha e quero dizer que o futuro de vocês seja melhor que o meu porque o meu não é bom, mas é bem ruim! Quero que vocês cuidem da natureza, do futuro e do meio ambiente e que façam o mundo de vocês um paraíso, bem melhor que o meu e que vocês sejam muito felizes”.

Não lembro o nome desse menino, mas lembro bem de que essa frase dele fez com que a escola decidisse passar o ano seguinte todo realizando um projeto que fosse capaz de trazer para seus alunos a esperança de um futuro melhor. Eles passaram o ano de 2010 inteiro estudando a História da África e da luta do Mandela. No final deste ano em um seminário no Museu da Vida/ Fiocruz a Coordenadora Pedagógica dessa escola (a professora Solange Lacorte) nos contou que na conclusão do projeto os alunos decidiram fazer uma passeata na Leopoldo Bulhões levando cartazes feitos por eles com as suas reivindicações. E ela disse, sem conseguir conter as lágrimas: “Eles pareciam uns mandelinhas”.

A pergunta que deixamos aqui é: Será que poderia ser maior o efeito desse projeto na construção de melhores perspectivas de futuro se ele fosse feito não apenas por uma escola e sim por uma colaboração entre todas as escolas de Manguinhos (incluindo as da Fiocruz), as unidades de saúde, unidades da assistência social e o Museu da Vida? Que tal tentarmos algo assim? Será que O Manguinho e a Rádio Povo podem ajudar nisso? Participe do nosso grupo de WhatsApp.

O MANGUINHO 48 – 21 DE JULHO DE 2022

Direito ao transporte público de qualidade

Placa transporte público

O Manguinho dessa semana dá continuidade à conversa sobre a qualidade dos serviços dos transportes públicos oferecidos a Manguinhos. Se você não leu o nosso último número vale a pena dar uma olhada, pois lá você encontrará outros relatos sobre o mesmo tema. O que a gente percebeu é que todas as pessoas que participaram desse papo no grupo de WhatsApp Intersetorial Manguinhos relataram experiências negativas no uso do transporte coletivo. Essas dificuldades diárias que esses serviços impõem são causadoras de muita angústia entre passageiros e passageiras. Elas causam doenças e transtornos emocionais.

Os alunos da Educação de Jovem e Adultos que na sua maioria estuda à noite e enfrenta um cansativo dia de trabalho vai para a escola e volta pra casa num ônibus lotado em uma viagem que se arrasta por horas. O Manguinho ao recolher e publicar essas vozes busca de forma permanente e continuada contribuir para fortalecer processos de vigilância popular em relação ao acesso dos moradores de Manguinhos a tudo que essa população tem direito.

Os trens também são ruins

A gente falou no último número muito dos ônibus, mas a Elizangela, moradora de Manguinhos, lembra também que o descaso do transporte coletivo também acontece com os trens. Ela reclama, por exemplo, da Estação do Jacarezinho, que tem uma plataforma muito baixa, além de um vão enorme entre a plataforma e o trem, que torna muito difícil e perigosa a entrada de passageiros. Ela mesma relata que quase já caiu nos trilhos. Idosos e crianças pequenas são os que mais sofrem.

Lutar por um melhor ir e vir do trabalho

A Maria Helena Souza, moradora do Amorim, chama atenção para a importância de linhas de ônibus que ligam a Zona Sul a Manguinhos. Ela fala que essa região da cidade é um local de emprego de muitos moradores de Manguinhos:

“Voltando para as comunidades: no PU (Parque União) tem ônibus. Na Vila do João tem ônibus direto da garagem pra descer pra Copacabana. Aqui nessa área da gente não tem. A gente tem que pegar o que vem direto da Penha ou esses que veem das comunidades vizinhas, que é horrível. Tem uma classe de trabalhadoras enorme em Copacabana, que é o lugar que ainda dá emprego, seja ele qual for, faxineiro, por exemplo. Eu trabalhei como cuidadora um ano e meio. Eu saí de lá por causa do horário, por causa do cansaço. Eu queria estudar, onde eu estou fazendo o pré, aqui da Politécnica, mas eu sinto falta do trabalho, mas só em pensar em pegar essa condução cheia eu prefiro ficar aqui fazendo o que eu posso fazer para sobreviver. Em relação aos ônibus que são legais. No sábado a gente ainda viaja com os ônibus velhos, quebrados, bancos quebrados, aquelas barras de ferro no corredor todas soltas. De tanto o ônibus balançar, de tanto que ele enche, aquelas barras vão se soltando, saindo os parafusos e eles não consertam. Viajei uma vez que o assoalho do ônibus estava todo quebrado, você via o asfalto Avenida Brasil, você via o chão. Quando tinha a chuva aquela água subia por dentro do ônibus igual um barco furado. (…) O que o senhor Jorge falou realmente ele está certo. Os ônibus não são mais lavados. Antigamente a gente reclamava que os homens vinham da garagem molhados, né? Molhava a nossa roupa. Agora não. Eles saem sujos, voltam sujos, e no dia seguinte estão mais sujos ainda. Essa é minha minha fala sobre o ônibus, que não adianta botar um monte de ônibus e não focalizar o lugar. Copacabana para nós que moramos aqui na Zona Norte é primordial. Nós não temos um ônibus pra Copacabana do outro lado da Democrático, só temos aqui. A gente também tem que lutar por um melhor do nosso ir e vir do trabalho.”

Outras pessoas em nosso grupo participaram dessa conversa. O Dhanilo Bernardo, conselheiro do CGI, lembrou da dificuldade que os cadeirantes enfrentam para usar os ônibus. A Isabel Jennerjahn, que é ex-moradora de Manguinhos e atualmente mora fora do país falou da enorme desigualdade que existe entre o serviço de transporte alemão e o brasileiro. Ela relata como um bom serviço público de transporte contribui para uma vida mais saudável aos cidadãos.

Repetimos aqui a pergunta que fizemos na última semana: Que políticas e ações intersetoriais poderiam contribuir para resolver esses problemas que tanto prejudicam a vida dos moradores, estudantes e trabalhadores de Manguinhos? Fale sobre isso em nosso grupo de WhatsApp.