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O MANGUINHO 55 – 08 DE SETEMBRO DE 2022

Independência ou morte?

Quem são os nossos heróis nacionais?

O grito dos excluídos ecoa neste bicentenário da independência.

No Brasil, no dia 7 de setembro, comemora-se o Dia da Independência. Nesta data, há 200 anos, em 1822, o país se tornava simbolicamente uma nação independente, ou seja, separava-se de Portugal, que durante três séculos explorou o Brasil como território colonial. Em 1500 quando os portugueses aqui chegaram tomaram posse do país como se as terras e as riquezas daqui pertencessem a eles. Fizeram do Brasil uma colônia, ou seja, um lugar que exploravam economicamente, dominavam militarmente e administravam segundo seus próprios interesses. Esse ano por conta dos 200 anos da data da independência muitos projetos estão sendo realizados nas escolas, buscando compreender o que de fato foi o processo histórico de independência. Antigamente era comum tratar D. Pedro I como o grande e único herói da independência. A gente sabe que não é assim, não existem salvadores da pátria, a história nunca é feita por uma única pessoa. Processos de mudanças políticas são sempre o resultado de um conjunto de acontecimentos, revoltas, luta de classes e resistências coletivas. Antes de 1822, por exemplo, podemos citar outros acontecimentos da história que estão ligados à independência. A chamada Inconfidência Mineira, de 1789, que levou à execução de Tiradentes, tinha como objetivo instalar uma república em Minas Gerais e separar de Portugal. Em 1798, na Bahia, um outro acontecimento nos ajuda a compreender que uma insatisfação crescente com a coroa portuguesa já vinha se acumulando no Brasil décadas anteriores à Independência. A Conjuração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates, foi um movimento que tinha também como objetivo a implantação de uma república baiana e a separação de Portugal, mas diferente da Inconfidência Mineira contou com a participação de amplos setores das camadas populares, como escravos, negros libertos e homens brancos de baixa renda. Entre as suas reivindicações estava a abolição da escravidão.

Uma falsa independência

Para o Sr. Beserra Araújo, morador de Manguinhos e integrante da equipe de O Manguinho, o que houve foi uma “falsa independência”, que foi resultado do medo que as elites tinham dos movimentos de revolta e contestação colonial que cada vez mais cresciam. Ele cita também a Insurreição Pernambucana de 1817 e o líder Frei Caneca, executado em 1824. A gente perguntou para ele o que significa ser um país independente:

“Um país independente é um país soberano com decisões próprias sem interferências externas de outros países. Independência é priorizar as decisões internas visando o bem estar do seu próprio povo.”

E sobre comemorar a independência do Brasil em 2022, veja o que ele disse:

“Comemorar 200 anos de Independência do Brasil é comemorar 200 anos de mentiras. O que devemos fazer é aproveitar para denunciar ao povo esses 200 anos de falsa independência. Exigir o fim da mentira como uma “ verdadeira independência”.

Rupturas e continuidades

Bruno Mussa Cury, professor de história do CIEP Juscelino Kubitschek, ao comentar sobre as comemorações da Independência deste ano, destaca que o culto aos resquícios de um passado imperial português ainda sobrevive entre nós. Ele afirma que a história do Brasil está marcada por processos inacabados de rupturas:

“As nossas rupturas são mais associáveis às permanências do que às revoluções, desde a nossa Independência, que é consequência do processo da relação econômica Portugal e Grã-Bretanha, daqueles conflitos na Europa, a vinda da família real, depois o retorno e a associação da colonização do Brasil dentro do nacionalismo português. Se acaba chegando a esses acordos em que o Brasil só se torna independente mantendo o seu papel nesse concerto nas relações internacionais, nos mantendo nos poderes estabelecidos e nas relações sociais estabelecidas. A gente percebe que a gente tem uma Independência questionável, a gente ainda não tem um país que se formou pela base, pelas aspirações da comunidade, do povo que compõe esse território. A gente tem um país feito de cima para baixo com rituais e sinais que são muito mais protocolares, que são muito mais tradições inventadas. Essa coisa do verde amarelo, o hino nacional, as exaltações que a gente faz não tem relação nenhuma com as aspirações da construção de um Brasil verdadeiramente feito pelos brasileiros.”

Conhecer a história do Brasil nos ajuda a enfrentar às violações de direitos que atingem as favelas e os territórios vulnerabilizados? Responda em nosso grupo de WhatsApp.

Saúde Coletiva e Independência do Brasil