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O MANGUINHO 69 – 22 DE DEZEMBRO DE 2022

Educação Popular e Plantas Medicinais

Assim como os animais, as plantas também são espécies companheiras e nos ajudam a cuidar de nós, do território e de todo o planeta. Como estabelecer relações equilibradas e colaborativas com essas outras espécies que têm nos acompanhado ao longo de toda a vida? Se queremos transformar Manguinhos em um território saudável e sustentável, será preciso também mudar a nossa forma de habitar, conviver e cuidar do planeta?

O Manguinho dessa semana faz um breve resumo do evento de encerramento de mais uma turma do curso de Educação Popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica à Saúde, realizado na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz. A gente esteve lá, no dia 12 de dezembro, e conversou com os alunos, professores e coordenadores. É importante lembrar que um dos objetivos do curso é que essa nova turma de alunos comprometa-se com o desenvolvimento de ações de valorização e integração do uso de plantas medicinais no cuidado em saúde nesses territórios.

Na mostra final, foram expostas as plantas investigadas pelos alunos, assim como houve distribuição de xaropes, tinturas, pomadas e sais preparados com essas plantas medicinais. Arnica, carqueja, chapéu-de-couro, erva-cidreira, erva-doce, hortelã, pitanga, quebra-pedra,jurubeba, saião, tanchagem, são algumas dessas plantas muito conhecidas popularmente e que podem ser encontradas em diversos lugares.

Maria Helena Souza, moradora do Amorim, fala pra gente sobre um xarope que é bom pra tosse e que resgata conhecimentos ancestrais:

“Na minha banca estou demonstrando o xarope de guaco com hortelã pimenta. Esse xarope na composição dele tem açúcar, guaco, hortelã pimenta e álcool de cereais. É um xarope familiar cultural, do tempo das nossas avós, dos nossos antepassados e ancestrais. E estamos trazendo para a nossa comunidade, para a Clínica de Família.”

Além da exposição das plantas e compostos medicinais, foi possível também conhecer o jogo de tabuleiro Semeando Cuidado. Um jogo cooperativo sobre saberes populares e plantas medicinais, e que foi utilizado como ferramenta didática nas aulas.

Educação e Saúde

Esse curso tem a coordenação de Camila Borges e Grasiele Nespoli, ambas da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. E tem como alunos, os trabalhadores da saúde e lideranças comunitárias de Manguinhos e da Maré. Para a Camila, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) são estratégicos no trabalho de educação da população:

“O curso foi pensado como uma estratégia para estimular o uso de plantas medicinais na Atenção Básica tanto por trabalhadores quanto pela população em geral. Então por isso a gente tenta trazer para o curso, tanto lideranças comunitárias que serão capazes de reconhecer esses usos de plantas medicinais na comunidade e disseminá-los; quanto profissionais da Atenção Básica, que a gente chama de prescritores, como médicos, enfermeiros, dentistas, mas especialmente Agentes Comunitários de Saúde, que são trabalhadores que trabalham com Educação e Saúde. São profissionais estratégicos, tanto pra levarem em conta os conhecimentos da comunidade e incorporar isso aos projetos terapêuticos, quanto pra disseminar formas de cuidado e educar a população pra outras formas de cuidado. Eu diria que os Agentes Comunitários são estratégicos para estimular cuidados alternativos na comunidade.”

Para a Grasiele, muitos saberes populares no uso das plantas medicinais estão se perdendo por conta do poder da indústria farmacêutica:

“A gente sabe que no Brasil muita gente faz uso das plantas medicinais no cuidado. A cura está na natureza. Sempre esteve na natureza. A indústria farmacêutica começa a produzir medicamentos sintético e a gente acaba apagando num período menor do que um século todo um conhecimento que vinha da ancestralidade dos povos negros, indígenas, dos povos originários e do povo escravizado, que foi escravizado na África e veio trabalhar no Brasil à força. Eles trouxeram muitas sabedorias do uso das plantas medicinais e esse saber foi se perdendo por conta da hegemonia da indústria farmacêutica e do remédio industrializado.”

Ficou interessado no tema do uso das plantas medicinais? Por que esses saberes sobre as plantas medicinais não estão incorporados no SUS de forma efetiva e cotidiana? Será que isso tem alguma relação conflitos entre os interesses públicos e privados? Entre em nosso grupo de WhatsApp para iniciar essa conversa.