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O MANGUINHO 87 – 15 DE JUNHO DE 2023

Uma roda de cuidado

O Manguinho acompanhou e participou na última segunda-feira, no dia 5, da roda de terapia comunitária, que acontece no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. A roda de terapia comunitária faz parte das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), que a gente já falou em números anteriores.

A terapia comunitária é uma técnica de cuidado em saúde criada pelo médico cearense Adalberto Barreto, e se baseia na ideia de que qualquer pessoa, seja da favela, do campo ou da cidade, preta ou branca, religiosa ou não, tem um saber que pode ser útil aos outros, e na roda de terapia esse saber pode ser partilhado e socializado. Para o Adalberto, a universidade não tem a hegemonia do produção do conhecimento. Tanto a universidade como a experiência de vida compartilhada na roda de conversa colaboram para a geração de conhecimento, sendo o primeiro científico e o segundo valorizando vivências. A comunidade que tem problemas tem também as suas soluções.

A roda de terapia comunitária em Manguinhos

A psicóloga Elaine Savi e a médica Eliane Cardoso são as responsáveis por coordenar o trabalho da roda de terapia comunitária que acontece às segundas-feiras, às 10h.

Em 2004, Elaine e Eliane participaram de uma pesquisa com os professores Victor Valla e Eduardo Stotz, a Ouvidoria Coletiva. A partir do conhecimento das condições de vida e saúde dos moradores de Manguinhos, Maré e Penha, foi sugerido como cuidado em saúde a roda de terapia comunitária. Após um período de capacitação, as rodas foram iniciadas em 2006.

Para Elaine Savi, a roda é um espaço de troca de experiências e de fortalecimento de laços sociais. Uma construção coletiva de possibilidades de saúde:

“A roda da terapia comunitária é um espaço de troca que cuida do sofrimento das pessoas e não das doenças. É um espaço onde é possível compartilhar alegrias, preocupações, tristezas e sofrimentos. O objetivo é acolher esses estados de sofrimento, procurando não só colocar esse sofrimento num contexto de vida, como também gerar pertencimento e fortalecer os vínculos sociais solidários entre os participantes.”

Já a Eliane Cardoso, enfatiza o quanto é gratificante para ela o contato mais afetivo com os moradores:

“Quero dizer que pra mim como profissional a terapia comunitária foi um divisor de águas na minha vida. Porque propiciou um contato mais afetivo com os usuários. Nessa roda nós trocamos experiências de vida. Em alguns momentos eu aprendo, em outros eu ensino. Isso é gratificante para o profissional de saúde.”

Pode-se dizer que os resultados desta terapia em Manguinhos tem sido muito positivos. A Simone Belmont nos contou que gosta muito de fazer parte deste grupo:

“Oi, eu sou Simone Belmont, sou moradora do Conjunto dos Ex-Combatentes. Sou paciente da Clínica Victor Valla e faço terapia comunitária na Fiocruz. Faço desde 2016 e a o longo deste tempo tem me ajudado muito. Porque eu tenho ansiedade e outros problemas de saúde também que a roda tem me acolhido, com muitas trocas de experiência. Eu tenho melhorado muito. De 2016 pra cá eu aprendi muitas coisas com a experiência das outras pacientes e com a troca com as profissionais. As profissionais são maravilhosas. O atendimento é muito bom, é excelente. Eu tô gostando muito.”

A Ellen, que mora em Manguinhos há quase 30 anos, também nos falou da sua experiência:

“Meu nome é Ellen, sou moradora aqui do Manguinhos há quase 30 anos. Moro na favelinha que todo mundo conhece onde que é. Tem quase 10 anos que eu participo da roda de terapia comunitária, na qual me ajudou muito, porque eu era uma pessoa muito agressiva, não sabia conversar com ninguém e já ia na agressão. Então esse conhecimento através de outras pessoas, da vida de outras pessoas começou a me ajudar muito. Hoje eu não seria essa Ellen que eu sou se não fosse esse meu tratamento. Eu já chamo de tratamento porque é como se fosse uma consulta médica que eu não posso perder.”

Nesta roda, da última segunda-feira, a conversa foi sobre O Manguinho. Foram vários os assuntos, entre eles, a importância da participação na construção deste jornal. Todas as participantes da roda entraram em nosso grupo de WhatsApp porque entenderam a importância de participar desses diálogos sobre a vida e saúde em Manguinhos. E nós, que estamos há mais tempo no grupo O Manguinho, que experiências temos para compartilhar com os participantes da roda que acabam de chegar?